Perante a notícia de que o contrato sobre drones da EMSA com a Elbit terminou, depois de dez mil pessoas terem assinado a petição “Stop Israeli Killer Drones” - também divulgada pelo Comité de Solidariedade com a Palestina -, e que a Frontex contratou a IAI e a Elbit para os mesmos serviços de drone, a organização World Without Walls-Europe publicou o comunicado que reproduzimos abaixo.
Perante a pressão pública, a UE revê a
utilização dos drones militares israelitas no Mediterrâneo
Bruxelas / Ramallah, 9 de novembro de 2020
A empresa portuguesa CeiiA decidiu recentemente não renovar o aluguer de dois drones da empresa de armamento israelita Elbit destinados à patrulha de fronteiras e outras missões para a Agência Europeia de Segurança Marítima (EMSA).
Esta decisão surge na sequência da petição "Stop Israeli Killer Drones", lançada pela World Without Walls Europe, co-patrocinada por 46 organizações e subscrita por mais de 10.000 cidadãos europeus, exigindo o fim do contrato e da utilização de drones.
Infelizmente, isto não significa o fim da utilização de drones militares para a segurança de fronteiras da UE. A Frontex, agência de vigilância de fronteiras da UE, contratou serviços de drones da Israeli Aerospace Industries (IAI) e da Elbit, e a Grécia começou também a alugar drones da IAI para a patrulha de fronteiras.
A Frontex e os Estados membros da UE podiam solicitar à EMSA a utilização de drones Hermes da Elbit para a detecção e intercepção de barcos de migrantes, entre outras missões. No início deste ano, um destes drones despenhou-se em Creta, enquanto vigiava as fronteiras marítimas da Grécia.
A Elbit Systems desenvolve os seus drones em conjunto com os militares israelitas e promove a sua tecnologia como tendo sido testada no terreno – em palestinianos. Ela fornece 85% dos drones utilizados por Israel nos seus repetidos ataques militares e no permanente cerco desumano a Gaza.
No início deste ano, a Grécia anunciou que alugará drones Heron da IAI, conhecidos pelas mesmas razões que os drones Hermes, para expandir a sua capacidade de segurança na fronteira. E no mês passado a Frontex anunciou que tinha celebrado um contrato de 50 milhões de euros com a Airbus (e a IAI como subcontratante) e a Elbit para o fornecimento de voos de vigilância de drones no Mediterrâneo nos próximos dois anos.
Com estes contratos, a Frontex dá novos passos no seu trabalho de segurança de fronteiras, na expansão do seu papel nas políticas de migração e de fronteiras da UE e na aquisição do seu próprio equipamento em vez de recorrer ao dos Estados membros da UE.
Para os refugiados que tentam atravessar o Mediterrâneo, isto pode ter consequências mais devastadoras, especialmente à luz das recentes publicações sobre a cumplicidade da Frontex em deportações ilegais da Grécia para a Turquia e devoluções para a Líbia. É também motivo de preocupação o facto de se continuar sem saber o que as empresas contratadas podem fazer com os dados em bruto recolhidos pelas missões dos drones, para além de os fornecerem à Frontex.
"O fim da utilização dos drones da Elbit pela EMSA mostra que a pressão pública tem impacto para acabar com práticas anti-éticas e lançar luz sobre as estratégias de vendas atrozes das empresas de armamento israelitas", disse Aneta Jerska (ECCP) da World Without Walls Europe. "O novo contrato da Frontex e a utilização crescente de drones, muitos deles de empresas israelitas, que têm como alvo os refugiados nas fronteiras da Europa, significa que temos de exercer muita mais pressão para parar a política anti-imigração mortífera da Europa e o financiamento da UE à indústria militar de Israel".
Para mais informação, contacte: Aneta Jerska - eccp.brussels@gmail.com
O Comité de Solidariedade com a Palestina (CSP) condena o estreitamento de relações diplomáticas e económicas, incluindo de pesquisa e desenvolvimento, entre Portugal e Israel representada pelo recente encontro entre o ministro português da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior Manuel Heitor e o ministro da Ciência e Tecnologia de Israel Yizhar Shai.
Numa altura em que o governo de extrema-direita israelita se prepara para anexar formalmente uma grande parte do território palestiniano ocupado, uma grave violação do direito internacional que vem destruir perspectivaspara a paz e justiça para o povo palestiniano, o governo português vem fomentar a impunidade de Israel com o seu desejo expresso de cooperação "renovada, efetiva e tangível".
Este ato mostra uma hipocrisia tremenda do governo português que, por um lado, se opõe à colonização israelita e, por outro, mantém relações próximas com um ministério que trabalha de forma estreita com o exército de ocupação responsável por essas mesmas políticas. A política hipócrita do atual governo português não se limita a esta reunião. No ano passado, o Força Aérea Portuguesa assinou um contrato de 50 milhões de euros com a empresa de armamento israelita Elbit Systems que testa o seu armamento reprimindocivis palestinianos.
Exigimos o fim imediato destas colaborações de cumplicidade e a imposição de sanções ao governo de apartheid de Israel até que este respeite os direitos do povo palestiniano e o direito internacional. Neste contexto, Portugal tem a obrigação de banir o comércio com os colonatos ilegais e de impor um embargo militar a Israel.
A política pro-apartheid do governo português contrasta com o crescimento impressionante do movimento de Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS), incluindo em Portugal onde vários espaços (comércios, associações, clubes) têm-se declarado Espaços Livres do Apartheid Israelita, comprometendo-se a boicotar Israel e a adoptar uma política de solidariedade e anti-racista.
Os artistas portugueses Chullage, Luís Cília, Sérginho Godinho, Tiago Rodrigues, Patrícia Portela, Rafael Alvarez, Isabel Fazenda, Paulo Caetano, Rita Natálio, Teresa Cabral integram a lista dos signatários.
Sérgio Godinho, Alia Shawkat, Patrícia Portela, Peter Gabriel e 240 outros artistas apoiam o apelo da Amnistia Internacional para um embargo militar a Israel “até que este país cumpra com as suas obrigações perante o direito internacional”.
Naomi Klein, Tiago Rodrigues, Sérgio Godinho, Vic Mensa e Viggo Mortensen Jr. estão entre os artistas que apelam ao fim do cerco de Israel à faixa de Gaza em plena crise do coronavírus.
Numa carta aberta publicada hoje, eles escrevem: "Os quase dois milhões de habitantes de Gaza, predominantemente refugiados, enfrentam uma ameaça mortal na maior prisão ao ar livre do mundo".
Os primeiros casos de coronavírus na Gaza cercada foram relatados em março. Organizações palestinianas, israelitas e internacionais humanitárias e de direitos humanos pediram o levantamento do cerco de Israel para que Gaza possa enfrentar a sua grave escassez de equipamentos médicos.
Os autores Irvine Welsh e Jeanette Winterson, os actores Julie Christie e Steve Coogan, e o coreógrafo português Rafael Alvarez também são signatários da carta, que afirma:
“A pressão internacional é urgentemente necessária para tornar a vida em Gaza viável e digna. O cerco de Israel deve acabar. E, mais urgente, um surto potencialmente devastador deve ser evitado.”
Marcando dois anos desde que Israel matou sessenta manifestantes palestinianos em Gaza, os signatários - incluindo o romancista irlandês Colm Tóibín, os artistas visuais Kevin Beasley e Shepard Fairey, e os co-vencedores do Prémio Turner de 2019 Tai Shani e Lawrence Abu Hamdan - continuam:
“O que acontece em Gaza é um teste para a consciência da humanidade. Apoiamos o apelo da Amnistia Internacional para que todos os governos do mundo imponham um embargo militar a Israel até que ele cumpra plenamente as suas obrigações perante o direito internacional.”
Os produtores e realizadores James Schamus e Ken Loach, a escritora e encenadora Patricia Portela, os actores Stephen Rea, Peter Mullan e Liam Cunningham juntam-se ao cantor português Luís Cília, à romanista e argumentista Candace Allen, ao compositor e produtor Brian Eno e aos músicos Roger Waters e Massive Attack para assinar a carta, que conclui:
"Reconhecemos que os direitos garantidos aos refugiados pela Declaração Universal dos Direitos Humanos também devem ser defendidos para os palestinianos.
“Nestes tempos de crise internacional, devemos defender a justiça, a paz, a liberdade e os direitos iguais para todos, independentemente da identidade ou da crença religiosa. Podemos ficar em casa, mas a nossa responsabilidade ética não deveria.”
A carta também é assinada pelo pianista e compositor belga Jef Neve, grupos catalães Txarango e Gossos, cantor e compositor grego Dimitra Galani, violinista norueguês Annar Follesø, artistas de música eletrónica Hiro Kone e Violet, músico britânico Charles Hayward, cineastas Andre Gregory, Anand Patwardhan, Marc Isaacs, Burt Caesar, Pantelis Voulgaris e Udi Aloni, autores Priyamvada Gopal, Ioanna Karystianni, Anne Enright e Yann Martel, romancista gráfica Judith Vanistendael e a dupla de artistas Adam Broomberg e Oliver Chanarin.
Por que pedimos ao Conan Osiris para boicotar Israel
Num recente artigo publicado no P3, intitulado “Parem de pedir ao Conan para não ir a Telavive”, Jorge Dantas argumenta que o conflito entre Israel e os palestinianos é “eterno” e que a razão do conflito é o “medo” e o desejo de “segurança” para ambas as partes. O artigo diz que este é um conflito de “emoções” preso num “ciclo vicioso”. Ou seja, muito complicado e sem explicação lógica. E que, em vez de pedirmos a Conan Osiris que respeite o apelo ao boicote palestiniano, a táctica não violenta que estes escolheram para resistir à sua opressão, ele devia ir a Telavive para os “ajudar” a fazerem as pazes.
Pergunto, teria Dantas a mesma atitude sobre o “conflito” entre a maioria negra e a minoria branca durante as décadas sangrentas do regime do apartheid na África do Sul? Estariam ambas as partes com “medo” ou uma das partes, a mais poderosa, queria impor a sua supremacia racial sob a outra? Quando Rosa Parks famosamente recusou-se a ceder o seu lugar no autocarro a um branco no sul segregado americano em 1955, estaria ela a perpetuar “um ciclo vicioso” ou a desafiar um regime de injustiça que impunha a inferioridade aos negros americanos? Felizmente sabemos hoje a resposta a estas perguntas. Quer Nelson Mandela quer Rosa Parks são celebrados pelas suas lutas contra sistemas de desigualdade e de dominação que hoje são universalmente condenados.
A segregação no sul dos EUA e o apartheid sul-africano podem ter acabado, mas a ocupação e o apartheid israelita continuam intactos. Não há paridade entre Israel, uma das maiores potências militares do mundo, e os palestinianos, um povo sob ocupação militar há mais de meio século. Assim como não há equivalência moral entre uma força de ocupação e um povo ocupado. Ao contrário do argumento de Dantas, este não é um conflito de duas partes iguais que não se entendem, mas sim uma luta de um povo oprimido contra a sua colonização, ocupação e apartheid.
Entendendo isto, em vez da leitura preguiçosa de que Dantas nos oferece, reconhecemos que a luta do povo palestiniano é uma luta pela liberdade, igualdade e justiça. Israel continua a violar dezenas de resoluções da ONU. Diariamente, o exército israelita mata palestinianos, invade as suas cidades, destrói as suas casas e rouba as suas terras. A recente comissão de inquérito da ONU sobre os protestos em Gaza acusou Israel de cometer crimes de guerra e crimes contra a humanidade.
A comissão de inquérito, assim como os crimes diários da ocupação, caíram em ouvidos surdos, sem nenhum governo a querer agir para implementar as suas conclusões (sendo uma delas, enviar para o tribunal de Haia os generais israelitas responsáveis). E é neste contexto de completa impunidade de Israel que a maioria da sociedade civil palestiniana apelou em 2005 ao boicote internacional contra Israel — um boicote económico, académico, cultural, político — inspirado no boicote internacional que ajudou a isolar o apartheid sul-africano. O movimento de Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS) contra Israel tem crescido de forma impressionante à volta do mundo, incluindo em Portugal, com o apoio de milhares de artistas que se recusam a branquear os crimes de Israel com a sua arte. O boicote, se estratégico e bem organizado, funciona. Não é por acaso que o governo israelita declarou o movimento BDS uma “ameaça estratégica” ao seu regime de apartheid e dedica milhões de dólares todos os anos para combater este movimento de direitos humanos.
A Eurovisão será uma oportunidade para Israel se mostrar ao mundo como um país dito normal, escondendo a brutalidade diária da ocupação e o apartheid imposto a milhões de palestinianos. Mas a Eurovisão será também uma oportunidade para nós, pessoas de consciência em todo o mundo e em Portugal, estragar a festa ao regime de apartheid de Israel, e não deixar o mundo esquecer a luta do povo palestiniano pela liberdade e justiça.
Artistas portugueses pedem a Conan Osíris que boicote a Eurovisão em Israel
Numa carta aberta, mais de 40 artistas portugueses pedem ao vencedor português do festival Eurovisão para cancelar a sua participação no evento que terá lugar este ano em Telavive.
Entre eles, os músicos José Mário Branco, Vítor Rua, António Sousa Dias e Chullage, a coreográfa Olga Roriz, os actores Maria do Céu Guerra e João Grosso, os escritores Alexandra Lucas Coelho e Afonso Cruz, a cineasta Raquel Freire, os artistas Joana Villaverde e Thomas Walgrave,e Tiago Rodrigues, director artístico do Teatro D. Maria.
No preciso momento em que Israel volta a bombardear intensivamente a população de Gaza e que o presidente Trump proclama a soberania de Israel sobre os Montes Golã anexados à margem do direito internacional em 1981, Conan Osíris encontra-se em Telavive para filmar um vídeoclip que será divulgado durante a emissão do festival sobre um fundo de paisagens “israelitas” que incluem os Montes Golã e Jerusalém Oriental sob ocupação militar.
Carta aberta de artistas portugueses a Conan Osíris
Conan Osíris, vimos por este meio pedir-te que não vás a Telavive em representação de Portugal na Eurovisão, respondendo ao apelo do povo oprimido palestiniano.
Ir a Israel seria ignorar o cerco ilegal que o país mantém a 1,8 milhões de palestinianos em Gaza, negando-lhes os direitos mais básicos. Entre 41 quilómetros de comprimento por 6 a 12 de largura, os habitantes vivem com água racionada, estão cercados por muros e soldados, são agredidos e assassinados de forma impune. A ONU considera que Gaza é “inabitável”.
A escassos minutos do lugar onde vais cantar, vivem ainda 2,7 milhões de palestinianos aprisionados por um muro de apartheid ilegal. O parlamento israelita aprovou este estado de apartheid através da “Lei do Estado-Nação do povo judeu”, que declara a superioridade racial de israelitas judeus. Já foi condenada pela União Europeia, incluindo por Portugal.
No ano passado, em Lisboa, Netta Barzilai, israelita, venceu a Eurovisão. Emocionou-se, a festa fez-se com luzes, música e estrondo. Dois dias depois, o estrondo foi outro: soldados israelitas massacraram 62 palestinianos, incluindo seis crianças.
Da mesma forma que artistas tiveram um papel histórico e decisivo na luta contra o apartheid sul-africano, recusando-se a tocar em Sun City, artistas de todo o mundo juntam-se neste momento histórico ao boicote cultural a Israel.
Conan Osíris, conseguiste deslumbrar Portugal com a tua música e a tua honestidade. Não deixes que Israel use a tua arte para branquear os seus crimes contra o povo palestiniano e junta-te a milhares de artistas de todo o mundo que se expressaram contra a Eurovisão em Israel. Estaremos contigo.
O Comité de Solidariedade com a Palestina, o SOS Racismo e as Panteras Rosa (Frente de Combate à LesBiGayTransFobia) apelaram a Conan Osiris - que venceu hoje a final da 53.ª edição do Festival da Canção - para que não fosse a Telavive em representação de Portugal na Eurovisão, respondendo ao apelo de artistas palestinianos para o boicote.
A carta relembra que “A escassos minutos de onde terá lugar o Festival, Israel mantém um cerco ilegal a 1.8 milhão de palestinianos em Gaza, negando-lhes os direitos mais básicos.” E que “também a escassos minutos de Telavive, 2.7 milhões de palestinianos da Cisjordânia vivem aprisionados por um muro de apartheid ilegal. Israel continua a expandir a sua colonização na Cisjordânia, com o intuito de expulsar mais famílias palestinianas, entregando assim as terras e casas confiscadas a colonos israelitas”.
As três organizações signatárias do apelo juntam-se ao movimento internacional de BDS – Boicote, Desinvestimento, Sanções – que denuncia o uso da cultura por Israel como instrumento de propaganda para branquear a sua imagem. Pelo seu lado, este movimento usa o BDS como meio não-violento de pressionar Israel a respeitar os direitos humanos da população palestiniana. Já são uns milhares os artistas de todo o mundo que recusaram actuar em Israel enquanto aí permanecer o estado de colonização e apartheid.
Shahd Wadi, porta-voz do Comité de Solidariedade com a Palestina, comenta:
“Reconhecemos que não é uma decisão fácil, de largar o glitz e glamour da Eurovisão, mas a custo de quê? O apelo ao boicote dos artistas palestinianos, brutalizados durante décadas pelo Estado de Israel, foi seguido por centenas de artistas internacionais e portugueses, de Roger Waters aos Wolf Alice. Eles percebem que a sua arte tem o poder de ajudar a mudar a situação na Palestina, mostrando a Israel que esta ocupação tem um custo. Israel está a usar a Eurovisão para branquear a opressão do povo palestiniano. Esta é uma oportunidade para que Conan Osiris encontre um lugar nos livros de história, juntando o seu a outros nomes ilustres nesta campanha. Estamos abertos a um diálogo.”
Texto integral do apelo:
Caro Conan Osiris,
Este ano tencionas participar no Festival da Canção da Eurovisão, que terá lugar em Telavive, Israel.
Enquanto activistas pelos direitos humanos e apoiantes do povo palestiniano na sua luta contra a opressão e a colonização, gostaríamos com esta carta de te informar melhor sobre o país anfitrião da final da Eurovisão e o apelo dos artistas palestinianosao boicote do evento.
Israelmassacrou 62 palestinianos em Gaza, incluindo seis crianças, apenas dois dias depois da vitória de 2018 na Eurovisão em Lisboa. Naquela mesma noite, Netta Barzilai realizou um concerto de comemoração em Telavivee disse: "Temos um motivo para estarmos felizes".
Também a escassos minutos de Telavive, 2.7 milhões de palestinianos da Cisjordânia vivem aprisionados porum muro de apartheid ilegal. Israel continua aexpandir a sua colonização na Cisjordânia, com o intuito de expulsar mais famílias palestinianas, entregando assim as terras e casas confiscadas a colonos israelitas.
Assim como os artistas tiveram um papel histórico e decisivo na luta contra o apartheid sul-africano,recusando-se a tocar em Sun City, artistas de todo o mundo se juntaram ao boicote cultural a Israel, em resposta aoapelo palestiniano, recusando-se a branquear a imagem do país com o prestigioso Festival da Canção e eventos semelhantes.
Cerca de 140 artistas europeus, incluindo vários finalistas do Festival da Eurovisão e o vencedor de 1994, subscreveram o boicote ao Festival da Canção de 2019 em Israel através de uma declaração publicada no jornal The Guardian. Entre eles, o músico australiano Nick Seymour, o coreógrafo belga Alain Platel, o actor dinamarquês Jesper Christensen, o dramaturgo judeu Moni Ovadia, o compositor catalão Lluís Llach, o músico norueguês Moddi, o coro esloveno ŽPZ Kombinat, o actor norte-americano Alia Shawkat, bem como cineasta vencedores do Festival de Cannes (Alain Guiraudie, Ken Loach, Mike Leigh, Eyal Sivan e Aki Kaurismäki).
Em Novembro, um conjunto de figuras portuguesasapelou à RTP para não participar nesta edição do Festival. Alexandra Lucas Coelho (escritora), Joana Villaverde (artista plástica), Francisca Cortesão (cantora), João Grosso, Maria do Céu Guerra e Manuela Freitas (atores), Teresa Dias Coelho (pintora), Susana Sousa dias (cineasta), Nuno Lobito (fotógrafo), José Mário Branco (músico) e Tiago Rodrigues (diretor artístico do Teatro Nacional D. Maria II) são alguns dos signatários.
Mais recentemente, um conjunto de artistas britânicos juntou a sua voz ao crescente coro para um boicote do Festival da Canção, entre eles os Wolf Alice, a Vivienne Westwood, o Peter Gabriel e o Roger Waters dos Pink Floyd.
Temos consciência de que para ti a participação na Eurovisão é a realização de um sonho e o fruto de um trabalho importante. Mas pedimos que a tua participação não se faça à custa da liberdade e dos direitos humanos do povo palestiniano.
Caso sejas escolhido para representar Portugal no Festival da Canção, terás a oportunidade de fazer história, e de tomares uma decisão de coragem e princípio, recusando-te a ires para Israel e a ajudares a legitimar a opressão de todo um povo.
Se tomares essa decisão, queremos que saibas que terás não só o nosso apoio e admiração, mas também o de milhares de pessoas à volta do mundo, que apoiam este crescente movimento de liberdade, justiça e igualdade para o povo palestiniano.
Continua a cantar livremente, mas respeitando a dignidade e a liberdade do povo palestiniano!
CONAN OSIRIS, NÃO CANTES PARA O APARTHEID ISRAELITA!
O antigo deputado do PSOL Jean Wyllys, que se autoexilou depois de ter sido alvo de ameaças de morte dos fascistas brasileiros, é bem vindo em Portugal para nos dar a conhecer a situação no Brasil e para mobilizar uma ampla solidariedade contra o ambiente opressivo que se vive no grande país latino-americano – contra os negros, os índios, as mulheres, os homossexuais, os opositores políticos e, em geral, contra os trabalhadores.
Wyllys é bem vindo em todas as conferências que tem feito e digno de ser defendido diante da escumalha fascista que tentou boicotar a sua conferência em Coimbra. A sua voz deve ser ouvida e nós devemos fazer tudo para que seja ouvida.
Mas a nossa solidariedade com Wyllys-vítima não implica cegueira acrítica face ao Wyllys-cúmplice. O autoexilado devia prestar atenção aos milhões de exilados palestinianos, que permanecem expulsos das suas terras, muitos deles há mais de 70 anos, quando ainda eram crianças.
E, contudo, a visita que fez ao Estado de Israel teve um significado político diametralmente oposto à sua visita a Portugal: aqui veio como vítima, queixar-se da opressão. Lá foi apoiar a opressão, com a estafada ladainha de que a campanha BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções) é “antisemita” e comparável ao boicote ianque contra Cuba.
Quando Wyllys se torna, subitamente, vítima do governo que quer mudar a Embaixada brasileira para Jerusalém, pode contar com a nossa solidariedade. Infelizmente ainda está por esclarecer se esse cúmplice da opressão vai aprender alguma coisa, pensar um pouco além da sua própria opressão e lembrar-se que há milhões de pessoas a sofrerem uma opressão muito pior.
Cantar, dançar & partir telemóveis enquanto Israel destrói vidas
Se Conan ganhar, Portugal dará um contributo bombástico ao bombom de Israel. A Israel, aliás, dá imenso jeito vender arrojo na “diversidade”. Portanto, claro que é possível dizer: não me chateiem com a política. Mas isso será político. Escolha onde quer estar, caro telespectador: com o Festival do Apartheid ou a fazer algo contra, nem que seja não ver.
1. Caro telespectador, quando amanhã assistir à segunda semi-final portuguesa do Festival da Eurovisão, dois milhões de pessoas estarão a enlouquecer numa tirinha de terra, cercadas por ar, mar e terra, regularmente bombardeadas, alvejadas, feridas, mortas por Israel. Enlouquecer, aqui, é literal, diagnóstico dos peritos. E quem não enlouqueceria quando já nasceu preso, filho de preso, neto de preso, para se tornar pai ou mãe de presos apenas por ser palestiniano? Sim, esses milhões de pessoas em Gaza, e outros milhões mais, na Cisjordânia, em Jerusalém Leste, em campos de refugiados a toda a volta, estarão a passar mais uma noite das suas vidas desfeitas quando Portugal estiver a assistir a esta segunda semi-final, depois de nos últimos dias ter delirado com Conan Osíris & o seu dançarino no hit-drama queen do telemóvel partido. Ter rido, amado, odiado, discutido até o néon da sola do ténis, as franjas do vestido.
Esta “guerra” dura há décadas, “não se resolve”? Pois quem a lamenta em abstracto pode fazer isto em concreto, agora: não pactuar com o circo. Não ver, não torcer, boicotar, apelar à RTP para não ir, aos artistas, promotores, colaboradores envolvidos. Não ser de alguma maneira parte do show que Israel se prepara para fazer na cara do mundo. Porque o que vai acontecer dia 18 de Maio em Telavive é lavagem de crimes contra a Humanidade. O mega show de Bibi Netanyahu e dos seus soldados da ocupação. Quem o vir, de algum modo o servir, estará a torná-lo um pouco maior. E a tornar cada vida destruída um pouco mais irrelevante. Valerá a pena, pois, perguntar, caro telespectador, se quer mesmo isso na sua vida.
2. Não existe “é só um festival”, “é só a Eurovisão”. Este Festival da Eurovisão é político, como tudo o que envolva Israel. E o governo de Israel vai fazê-lo render como política em cada detalhe. É um dos programas mais vistos no mundo inteiro, e a edição de 2019 contará com 42 países e o mesmo número de “postais” encenados em diferentes lugares, mostrando “a beleza e diversidade de Israel”. Não conheço a lista completa dos lugares, mas entre os que vi referidos, num comunicado oficial, estão territórios parcialmente ocupados à luz do direito internacional, e contra todas as resoluções da ONU, como os Montes Golã ou o Mar Morto, destinos favoritos da máquina de turismo israelita. Cada delegação de cada país entrará em cada “postal” filmado, mais uma vez “para celebrar a diversidade”. É a isto que se vão prestar os enfeites que forem, os Conan da vida, mais ou menos queer.
A canção israelita ter ganho no ano passado em Lisboa foi um gigantesco bombom para o governo de Israel. Entretanto, o bombom foi sendo recheado, está uma bomba calórica. Se Conan ganhar — e estamos num ponto em que parece impossível outra coisa, porque toda a luz parece extinguir-se perto de Conan —, Portugal dará um contributo bombástico ao bombom-bomba. A Israel, aliás, dá imenso jeito vender arrojo na “diversidade”.
Portanto, claro que é possível dizer: não me chateiem com a política. Mas isso será político.
3. Quando fui ver o vídeo da música de Conan apresentada na primeira semi-final já dois milhões de pessoas o tinham visto. Olha, pensei, o mesmo número de pessoas presas em Gaza. Entretanto, Conan já tinha agradecido tanto interesse aos portugueses: “Vocês vão mudar o mundo, não eu. Vocês vão educar, tratar, explicar, acolher, podar, plantar, não eu. Vocês vão restaurar, restabelecer, clarificar, apaziguar, relevar, relativizar e respeitar, não eu. Eu só vim cá dizer obrigado. Eu só vim cá deixar um abraço. E um gelado.”
Achei bem. Achei que ele tinha razão. Cada um fará, ou não, tudo isso. E cá fica o abraço. E o gelado. Já tínhamos os bolos.
4. Nada contra Conan Osíris, de resto. Grande nome. Grande pacote. Depois de ver o vídeo do telemóvel partido também fui ver quem era o turbinado dançarino, de seu nome João Reis Moreira, 23 anos. Também gostei do que li, em tributo ao seu mestre Conan: “Ele ensinou-me que dançar é uma coisa mesmo boa e que, se queres dançar, vais só dançar (…) a música dele é uma cena física e, ao mesmo tempo, espiritual (…) Nem eu nem ele temos essa cena de controlar se há um comentário destrutivo. Nós controlamos o que estamos a fazer e é isso que interessa. Nós sabemos a matriz, a génese da construção musical e do que nos move. É esse o nosso ponto de partida e é aí que terminamos.” Também adoro dançar, amigxs. Só que não será aí que terminam, não, se em Maio forem a Telavive. Muito menos controlarão o que estão a fazer. Quer aceitem essa ideia, quer não, estarão a fazê-lo contra milhões de vidas que todos os dias são destruídas pelo vosso anfitrião.
5. Por todo o mundo, incluindo Portugal, há abaixo-assinados contra a Eurovisão do Apartheid, uma das formas de agir. Entretanto, “foram mil bilhetes vendidos em apenas quatro dias para a Grande Final do Festival da Canção 2019, a decorrer no próximo dia 2 de março, no Portimão Arena”. Há sempre muitos que não querem saber, é uma característica dos muitos. A história desta ocupação obscena também se prolonga com isso. Mas isso não é uma razão para não escolher, ao contrário, é mais uma razão. Onde é que quer estar, caro telespectador, a curtir a Eurovisão do Apartheid ou a fazer algo contra, nem que seja não ver?
6. Quanto a bilhetes em Telavive, andam por módicos 400, 500 euros. É que “o custo de vida em Israel é muito mais alto do que na Europa”, disse uma fonte ao “Jerusalem Post”. Concordo. No sentido da vidinha, muito mais cara, porque Israel, hoje, é uma esquizofrenia capitalista. E no sentido da vida, de facto muito difícil de manter, por razões diferentes, em Israel e na Palestina. A diferença é que os israelitas votam por isso, pelo seu próprio aniquilamento moral. E os palestinianos são aniquilados com isso.
ARTISTAS PORTUGUESES APELAM AO BOICOTE DA EUROVISÃO ACOLHIDA POR ISRAEL EM 2019
Em junho deste ano, organizações culturais palestinianas chamaram ao boicote da Eurovisão 2019, prevista para ter lugar em Israel, sublinhando que "o regime israelita de ocupação militar, colonialismo e apartheid está descaradamente a usar a Eurovisão como parte da sua estratégia oficial Brand Israel, que tenta mostrar ‘a face mais bonita de Israel’ para branquear os seus crimes de guerra contra os palestinianos e desviar deles a atenção do mundo".
Brian Eno, The Knife, Wolf Alice, vencedores da Eurovisão como o irlandês Charlie McGettigan (1994) e os finlandeses Kaija Kärkinen (1991) e Kyösti Laihi (1988), Nick Seymour, Alain Platel e Jesper Christensen, os realizadores Alain Guiraudie, Ken Loach, Mike Leigh, Eyal Sivan e Aki Kaurismäki, entre muitos outros artistas, declararam bem alto que "a Eurovisão 2019 deve ser boicotada caso seja organizada por Israel, enquanto continuar a sua grave e duradoura violação dos direitos humanos dos palestinianos."
A ideia de que um boicote ao governo e às instituições israelitas pode ajudar a pôr fim à colonização da Palestina partiu do exemplo sul-africano, quando, nos anos 80 e 90, uma campanha internacional de boicote à África do Sul contribuiu para o fim do apartheid naquele país. O boicote, e em particular o boicote cultural, é uma táctica não-violenta ao nosso alcance para pressionar Israel e contrabalançar a sua política de branqueamento da limpeza étnica na Palestina, descrita por Nissim Ben-Sheetrit, ex-governante israelita, da seguinte maneira: "Estamos a ver a cultura como uma ferramenta de hasbara (propaganda) de primeira linha, e eu não faço diferença entre hasbara e cultura".
É neste contexto que vários artistas portugueses de renome endereçaram esta semana à RTP, responsável pela candidatura portuguesa à Eurovisão, o abaixo-assinado que segue abaixo.
Declaração de artistas portugueses contra a realização da Eurovisão em Israel:
EUROVISÃO NÃO COMBINA COM APARTHEID!
A RTP anunciou a participação de Portugal no Festival Eurovisão da Canção em Israel em Maio próximo. Ao fazê-lo, também confirma sua disposição, em nome do entretenimento, de encobrir a ocupação israelita do território palestiniano e a contínua negação dos direitos humanos do povo palestiniano.
Israel declarou-se efectivamente um Estado de apartheid ao adoptar este ano a “Lei do Estado-Nação Judeu”. Aos seus cidadãos palestinianos é agora negada constitucionalmente a igualdade de direitos. Este apartheid determina até mesmo que secções da população sob o controle de Israel poderão participar na Eurovisão.
Ao ser anfitrião da Eurovisão 2019, Israel branqueia este apartheid e utiliza a Eurovisão de forma desavergonhada como parte da sua estratégia oficial Brand Israel, que pretende mostrar a “face mais bonita de Israel” para desviar deles a atenção do mundo dos seus crimes.
Inspirados pelos artistas que em consciência rejeitaram o Sun City no apartheid sul-africano nos anos 80, organizações culturais e artistas palestinianos apelaram a que se pressione Israel de forma não violenta através do boicote até que sejam cumpridas as suas obrigações segundo a lei internacional.
Nós apoiamos este apelo, ao lado de milhares de artistas pelo mundo fora, porque não queremos tornar-nos cúmplices das violações dos direitos humanos do povo palestiniano. Queremos antes chamar a atenção do mundo para a colonização, que a cada ano se torna mais violenta.
Pedimos à RTP que aja dentro da EBU-União Europeia de Radiodifusão para que o festival seja transferido para um país onde crimes de guerra - incluindo assassinatos de jornalistas - não são cometidos e, caso contrário, se retire completamente do Festival de 2019.
Signatários:
Alexandra Lucas Coelho, escritora
António Alves, muralista
António de Sousa Dias, músico
Carlos Vidal, crítico de arte
Francisca Cortesão, música, vocalista dos Minta and the Brook Trout
Joana Villaverde, artista plástica
João Carlos Alvim, editor
João Grosso, actor, encenador; actor residente do Teatro Nacional D. Maria II, ex-director artístico do Teatro D. Maria (Globo de Ouro 2005, para melhor actor)
José Mário Branco, músico
José Vieira, cineasta
LBC, rapper, direcção da Associação Moinho da Juventude
Luís Miguel Castro, artista visual
Manuela de Freitas, actriz
Maria do Céu Guerra, actriz, encenadora, fundadora da companhia de teatro "A Barraca"
Nuno Lobito, fotógrafo
Rigo, artista plástico, muralista
Susana de Sousa Dias, cineasta
Telma Pereira, cantora
Teresa Dias Coelho, pintora, artista plástica
Teresa S. Cabral, pintora
Tiago Rodrigues, actor, encenador, dramaturgo. Diretor artístico Teatro D. Maria II (Prémio de Melhor Actor Secundário (2008). Globos de Ouro (2012). Prémio Europa de Teatro (2018))