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Em resposta ao contacto efectuado pelo Comité de Solidariedade com a Palestina com a direcção da Comunidade Islâmica de Lisboa e à publicação da carta aberta apelando-a a romper as relações estabelecidas com a embaixada de Israel em Portugal, tivemos a satisfação de receber a confirmação de que a CIL não aceitou o convite para um jantar na residência do embaixador israelita. (ver nosso post anterior)
Depois de ter recebido na Mesquita de Lisboa o embaixador de Israel, a actual direcção da Comunidade Islâmica teve a decência e a coragem de recusar um jantar de iftar (quebra de jejum em mês de ramadão) em companhia de representantes da ocupação e da opressão do povo palestiniano. Congratulamo-nos com esta decisão de repúdio pela campanha faithwashing da propaganda israelita, num momento em que se sucedem os actos de provocação na Esplanada das Mesquitas por parte da polícia e de colonos.
O Iftar contou, no entanto, com a presença do ex-líder da Comunidade Islâmica, a título pessoal.
O Comité de Solidariedade com a Palestina apela à direção da Comunidade Islâmica de Lisboa (CIL) que rompa de imediato as relações que tem vindo a desenvolver com a Embaixada de Israel em Portugal, numa altura em que Israel intensifica os seus ataques contra o povo palestiniano. Manter estas relações, violando o apelo palestiniano ao boicote, é branquear os crimes e a opressão israelita contra o povo palestiniano.
A CIL recebeu sucessivamente na Mesquita Central de Lisboa vários embaixadores israelitas. Em 2018, recebeu o embaixador Raphael Gamzou, no mesmo ano em que Israel abatia centenas de palestinianos que protestavam pacificamente contra o cerco ilegal a Gaza, e mais recentemente o atual embaixador Dor Shapira, meros meses após o massacre israelita de Maio passado que viu obliteradas familias palestinianas inteiras enquanto estas se encontravam no conforto das suas casas.
Nos últimos dias, a direção da CIL tem contemplado festejar um iftar (abertura de jejum do sagrado mês do Ramadão) com o embaixador Shapira (inicialmente planeado na sua residência oficial) ao mesmo tempo que Israel tem atacado de forma implacável crentes palestinianos, muçulmanos e cristãos, na cidade de Jerusalém ocupada durante as comemorações do Ramadão e da Páscoa.
Desde o começo do mês do Ramadão, Israel executou a sangue frio 17 palestinianos, incluindo a palestiniana Ghada Ibrahim Sabatien, de 47 anos, mãe de seis crianças, a leste de Belém, na Cisjordânia ocupada. Hoje (15/4), Israel atacou crentes aquando de uma invasão armada a Al-Aqsa, num ato de provocação em antecipação às orações de sexta-feira, atacando homens, mulheres, crianças, jornalistas, primeiros-socorros, e destruindo até artefatos históricos da mesquita.
Estes laços imorais com a CIL servem para normalizar e legitimar a opressão israelita denunciada como um regime de apartheid pelas duas das maiores organizações de direitos humanos do mundo, a Amnistia Internacional e a Human Rights Watch. O apelo palestiniano ao boicote a Israel é inspirado no boicote internacional que isolou, e ajudou a acabar com o regime apartheid na África do Sul e que tem tido um crescente apoio e eficácia, tanto em Portugal como a nível internacional.
Esta ofensiva de propaganda faz parte de uma estratégia assumida do Ministério dos Negócios Estrangeiros israelita denominada de “faithwashing”. Ou seja, cooptar as comunidades muçulmanas à volta do mundo de forma a branquear os crimes de guerra e legitimar a ocupação militar israelita, incluindo a limpeza étnica de palestinianos em Jerusalém ocupada. Isto, pondo de parte a ironia de que Israel é um dos principais promotores de islamofobia à volta do mundo.
De acordo com o Comité Nacional Palestiniano para o Boicote, iniciativas de “faithwashing” têm o pressuposto de “obscurecer as linhas entre o Judaísmo, o Sionismo e o Estado israelita. Essa lógica serve para perpetuar a afirmação antissemita de que os judeus são sinônimos do Estado de Israel e têm responsabilidade pelas suas políticas, por mais opressivas que sejam essas políticas, e que a crítica contra o Estado de Israel é, portanto, uma crítica a todos os judeus. Essa fusão, que em si é antissemita, pois reduz todos os judeus a uma soma monolítica, tem sido usada por oponentes dos direitos palestinos para silenciar a oposição legítima às violações do direito internacional de Israel e ignorar a crescente dissidência entre os judeus a tais representações.”
Apelamos assim à Comunidade Islâmica de Lisboa que cancele o iftar com o embaixador do estado apartheid israelita, e rompa todas e quaisquer relações, formais e informais, com Israel, os seus orgãos estatais, assim como organizações cúmplices com a opressão do povo palestiniano, deixando assim de prejudicar a luta justa pela liberdade e o movimento de boicote do povo palestiniano.
Este artigo de Ilan Pappé foi publicado THE PALESTINE CHRONICLE em 5 de março de 2022
O USA Today relatou que uma fotografia que se tornou viral sobre um arranha-céus atingido na Ucrânia por um bombardeamento russo revelou-se ser um arranha-céus demolido na faixa de Gaza pela força aérea israelita em maio de 2021. Alguns dias antes, o ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano tinha-se queixado ao embaixador israelita em Kiev: "vocês estão a tratar-nos como Gaza". Estava furioso por Israel não ter condenado a invasão russa e estar apenas interessado na expulsão de cidadãos israelitas do Estado (Haaretz, 17 de fevereiro de 2022). Foi uma mistura de referência à evacuação pela Ucrânia das esposas ucranianas de palestinianos da faixa de Gaza em maio de 2021, e de recordar a Israel do total apoio do presidente ucraniano ao ataque de Israel à Faixa de Gaza nesse mês (voltarei a esse apoio no final deste texto).
Os ataques de Israel a Gaza devem, de facto, ser mencionados e considerados na avaliação da actual crise na Ucrânia. Não é uma coincidência que as fotos estejam a ser confundidas - não há muitos arranha-céus que foram derrubados na Ucrânia, mas há uma abundância de arranha-céus em ruínas na faixa de Gaza. Mas não é apenas a hipocrisia a respeito da Palestina que emerge quando consideramos a crise da Ucrânia num contexto mais amplo; é a dupla moral ocidental que deve ser escrutinada, sem nunca ficarmos indiferentes às notícias e imagens que nos chegam da zona de guerra na Ucrânia: crianças traumatizadas, fluxos de refugiados, edifícios destruídos pelos bombardeamentos e o perigo iminente de que este seja apenas o início de uma catástrofe humana no coração da Europa.
Ao mesmo tempo, aqueles de nós que vivenciam, relatam e discutem as catástrofes humanas na Palestina não podem ignorar a hipocrisia do ocidente e devemos apontar para ela sem depreciar, por um momento, a nossa solidariedade humana e empatia para com as vítimas de qualquer guerra. Precisamos de o fazer, pois a desonestidade moral subjacente à agenda estabelecida pelas elites políticas e meios de comunicação social ocidentais permitir-lhes-á uma vez mais esconder o seu próprio racismo e a sua impunidade, assim como continuará a proporcionar imunidade a Israel e à sua opressão dos palestinianos. Detectei quatro falsos pressupostos que estão no cerne do envolvimento da elite ocidental na crise da Ucrânia até agora e enquadrei-os como quatro lições.
Primeira lição: os refugiados brancos são bem-vindos; os outros menos
A decisão colectiva sem precedentes da UE de abrir as suas fronteiras aos refugiados ucranianos, seguida de uma política mais cautelosa da Grã-Bretanha, não pode passar despercebida em comparação com o encerramento da maioria das portas europeias aos refugiados provenientes do mundo árabe e de África desde 2015. A clara priorização racista, distinguindo os que querem salvar a vida com base na cor, religião e etnia, é abominável, mas é pouco provável que mude muito em breve. Alguns líderes europeus nem sequer têm vergonha de expressar publicamente o seu racismo, tal como o primeiro-ministro búlgaro, Kiril Petkov:
"Estes [os refugiados ucranianos] não são os refugiados a que estamos habituados... estas pessoas são europeias. Estas pessoas são inteligentes, são pessoas instruídas. ... Esta não é a onda de refugiados a que temos estado habituados, pessoas de cuja identidade não estávamos certos, pessoas com passados pouco claros, que poderiam até ter sido terroristas…"
Ele não está sozinho. Os meios de comunicação ocidentais estão sempre a falar do "nosso tipo de refugiados" e este racismo manifesta-se claramente nos postos de fronteira entre a Ucrânia e os seus vizinhos europeus. Esta atitude racista, com fortes conotações islamofóbicas, não vai mudar, uma vez que a liderança europeia continua a negar o tecido multiétnico e multicultural das sociedades de todo o continente. Uma realidade humana criada por anos de colonialismo e imperialismo europeu que os actuais governos europeus negam e ignoram, prosseguindo ao mesmo tempo com políticas de imigração baseadas no mesmo racismo que permeou o colonialismo e o imperialismo no passado.
Segunda lição: pode-se invadir o Iraque mas não a Ucrânia
A relutância dos meios de comunicação social ocidentais em contextualizar a decisão russa de invadir no âmbito de uma análise mais ampla - e óbvia - de como as regras do jogo internacional mudaram em 2003 é bastante desconcertante. É difícil encontrar qualquer análise que aponte para o facto de os EUA e a Grã-Bretanha terem violado o direito internacional sobre a soberania de um Estado quando os seus exércitos, com uma coligação de países ocidentais, invadiram o Afeganistão e o Iraque. A ocupação de um país inteiro para fins políticos não foi inventada neste século por Vladimir Putin; foi introduzida pelo ocidente como um instrumento justificado de política.
Terceira lição: por vezes o neonazismo pode ser tolerado
Nenhuma análise destaca alguns dos argumentos válidos de Putin sobre a Ucrânia, que de modo algum justificam a invasão, mas precisam da nossa atenção mesmo durante a invasão. Até à crise actual, os meios de comunicação progressistas ocidentais, tais como The Nation, The Guardian, Washington Post, etc., alertaram-nos para o poder crescente dos grupos neonazis na Ucrânia que poderiam ter impacto no futuro da Europa e não só. Esses mesmos meios de comunicação hoje ignoram o significado do neonazismo na Ucrânia.
The Nation relatou no dia 22 de fevereiro de 2019:
"Hoje, relatos crescentes de violência de extrema-direita, ultranacionalismo e erosão das liberdades básicas mostram a mentira na euforia inicial do ocidente. Há pogroms neonazis contra os ciganos, ataques desenfreados a feministas e grupos LGBT, proibições de livros, e glorificação dos colaboradores nazis patrocinada pelo Estado".
Dois anos antes, o Washington Post (15 de junho de 2017) advertiu, muito perspicazmente, que um confronto ucraniano com a Rússia não deveria fazer-nos esquecer o poder do neonazismo na Ucrânia:
"Enquanto a luta da Ucrânia contra os separatistas apoiados pela Rússia continua, Kiev enfrenta outra ameaça à sua soberania a longo prazo: poderosos grupos ultra-nacionalistas de direita. Estes grupos não são tímidos em utilizar a violência para atingir os seus objectivos, que certamente estão em desacordo com a democracia pró-ocidente tolerante na qual Kiev procura ostensivamente tornar-se".
Contudo, hoje, o Washington Post adopta uma atitude desdenhosa e qualifica essa descrição de "falsa acusação":
"Operam na Ucrânia vários grupos paramilitares nacionalistas, tais como o movimento Azov e o Sector de Direita, que abraçam a ideologia neonazi. Embora sejam de grande visibilidade, parecem ter pouco apoio do público. Apenas um partido de extrema-direita, o Svoboda, está representado no parlamento da Ucrânia, e detém apenas um lugar".
Os avisos anteriores de um meio de comunicação social como The Hill (9 de Novembro de 2017), o maior site de notícias independente dos EUA, são esquecidos:
"Existem, de facto, formações neonazis na Ucrânia. Isto tem sido esmagadoramente confirmado por quase todos os grandes meios de comunicação social ocidentais. O facto de os analistas serem capazes de o minimizar como propaganda difundida por Moscovo é profundamente perturbador. É especialmente perturbador dado o actual surto de neonazis e supremacistas brancos em todo o mundo".
Quarta lição: atingir os arranha-céus só é crime de guerra na Europa
O regime ucraniano não tem apenas uma ligação com estes grupos e exércitos neo-nazis, mas é também de maneira preocupante e embaraçosa pró-israelita. Um dos primeiros actos do presidente Volodymyr Zelensky foi retirar a Ucrânia do Comité das Nações Unidas para o Exercício dos Direitos Inalienáveis do Povo Palestiniano - o único tribunal internacional que garante que a Nakba não seja negada ou esquecida.
A decisão veio do presidente ucraniano; ele não tinha qualquer simpatia pela situação dos refugiados palestinianos, nem os considerava como vítimas de qualquer crime. Nas suas entrevistas após o último bombardeamento bárbaro israelita na faixa de Gaza em maio de 2021, declarou que a única tragédia em Gaza era a que os israelitas sofreram. Se assim é, então são apenas os russos que sofrem na Ucrânia.
Mas Zelensky não está sozinho. Quando se trata da Palestina, a hipocrisia atinge um novo nível. Um ataque contra um arranha-céus vazio na Ucrânia dominou as notícias e suscitou uma análise profunda sobre a brutalidade humana, Putin e a desumanidade. Estes bombardeamentos devem ser condenados, claro, mas parece que os que lideram a condenação entre os líderes mundiais se calaram quando Israel destruiu a cidade de Jenin em 2000, o bairro Al-Dahaya em Beirute em 2006 e a cidade de Gaza numa onda brutal atrás da outra, ao longo dos últimos quinze anos. Não foram sequer discutidas quaisquer sanções, e muito menos impostas, a Israel pelos seus crimes de guerra em 1948 e desde então. De facto, na maioria dos países ocidentais que hoje lideram as sanções contra a Rússia, até mesmo mencionar a possibilidade de impor sanções contra Israel é ilegal e catalogado como antisemita.
Mesmo quando a solidariedade humana genuína no ocidente se exprime de forma justa para com a Ucrânia, não podemos ignorar o seu contexto racista e o preconceito eurocênctrico. A solidariedade massiva do ocidente é reservada para quem quer que esteja disposto a aderir ao seu bloco e esfera de influência. Esta empatia oficial não se encontra em parte alguma quando uma violência semelhante, e pior, é dirigida contra não-europeus, em geral, e contra os palestinianos, em particular.
Podemos, como pessoas de consciência, passar das nossas respostas às calamidades à nossa responsabilidade de apontar a hipocrisia que, em muitos aspectos, abriu o caminho para tais catástrofes. Legitimar internacionalmente a invasão de países soberanos e permitir a contínua colonização e opressão de outros, como a Palestina e o seu povo, conduzirá a mais tragédias, como a ucraniana, no futuro e em todo o planeta.
Texto original aqui:
Em francês:
https://www.chroniquepalestine.com/guerre-ukraine-humanite-compassion-geometrie-variable/
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Cara Mariza,
Ficamos desapontados em ouvir que tem um concerto agendado em Tel Aviv a 8 de Fevereiro de 2022. Escrevemos-lhe para pedir que cancele a sua atuação, respeitando assim o apelo da sociedade civil palestiniana, incluindo artistas, para um boicote a Israel até que o povo palestiniano seja livre.
Em Abril passado, a maior organização de direitos humanos do mundo, a Human Rights Watch, publicou um relatório com uma análise meticulosa em que denuncia Israel como um Estado apartheid que persegue o povo palestiniano. Meses antes, a organização de direitos humanos israelita, B'Tselem, chegou à mesma conclusão.
A solidariedade internacional teve um papel crucial para o fim do regime apartheid na África do Sul. Os artistas estiveram na vanguarda da resposta ao apelo do ANC para um boicote cultural à Àfrica do Sul, recusando-se a branquear com a sua arte os crimes do regime de apartheid e contribuindo para acabar com a impunidade e normalização desses crimes.
O povo palestiniano, inspirado na luta contra o apartheid na Àfrica do Sul, apelou em 2005 às “pessoas de consciência” peloo mundo fora para que boicotem Israel contrariando a cumplicidade e inação dos nossos governos que sempre protegeram Israel do escrutínio. Milhares de artistas internacionais responderam ao apelo palestiniano, recusando-se a atuar em Israel. Em 2015, o músico Caetano Veloso, com que já colaborou, escreveu um artigo na Folha de São Paulo, onde disse que nunca mais voltaria a Israel, tendo visto a opressão do povo palestiniano às mãos de Israel, ao mesmo tempo realçando o papel da arte na luta contra as opressões e injustiças.
Para além de Veloso, são milhares os artistas que se têm recusado a cruzar o piquete não-violento palestiniano, apoiando - ou no mínimo não prejudicando - a sua luta pela liberdade, justiça e igualdade. Entre eles os cantores Elvis Costello, Lana del Rey, Roger Waters dos Pink Floyd, Lorde, Brian Eno e John Legend, os cineastas Jean-Luc Godard, Ken Loach, John Greyson e Mike Leigh, os atores Mark Ruffalo, Alia Shawkat e Viggo Mortensen Jr, as escritoras Alice Walker e Sally Rooney e portugueses como Tiago Rodrigues, o falecido José Mário Branco e Maria do Céu Guerra.
Estimada Mariza,
Um pouco mais de um mês depois do seu último concerto em Israel em Maio de 2014, Israel lançou um ataque implacável contra os 2 milhões de palestinianos que vivem na maior prisão em céu aberto do mundo, a faixa de Gaza, matando 2251 palestinianos, incluindo 551 crianças, e aniquilando famílias inteiras enquanto elas dormiam nas suas casas. Na sua investigação, a ONU disse que os ataques a civis “podem ter constituído tácticas militares refletindo uma política mais ampla, aprovada pelo menos tacitamente pelos decisores ao mais alto nível do governo de Israel.”
Em Maio desde ano, Israel voltou a massacrar 256 palestinianos em Gaza, ao mesmo tempo que continua a acelerar a limpeza étnica na Cisjordânia ocupada, o roubo de terras palestinianas para construção de colonatos ilegais, a sistemática demolição de casas de famílias palestinianas, e a expulsão de palestinianos de bairros inteiros em Jerusalém, como o que se está a passar em Sheikh Jarrah. Mesmo em Tel Aviv, onde terá lugar o seu concerto, Israel tem intensificado a criminalização dos palestinianos, cidadãos de segunda classe, como denunciou a Amnistia Internacional.
Neste contexto, o seu espectáculo irá contribuir para legitimar a ocupação e o apartheid israelitas. A campanha palestina de boicote cultural a Israel não tem por alvo a «expressão cultural» em si, apenas visa expor o uso da cultura como manobra de diversão usada por Israel para desviar as atenções das persistentes violações dos direitos humanos e do direito internacional e responsabilizar todos aqueles que, ignorando estas graves violações, acabam por se tornar cúmplices do seu encobrimento.
Dirigimo-nos agora a si, pedindo-lhe que não associe a sua arte e o seu nome à colonização, opressão e limpeza étnica do povo palestiniano e que junte a sua voz à destes artistas que escolheram a ética e a solidariedade.
Atentamente,
O Comité de Solidariedade com a Palestina
Perante a notícia de que o contrato sobre drones da EMSA com a Elbit terminou, depois de dez mil pessoas terem assinado a petição “Stop Israeli Killer Drones” - também divulgada pelo Comité de Solidariedade com a Palestina -, e que a Frontex contratou a IAI e a Elbit para os mesmos serviços de drone, a organização World Without Walls-Europe publicou o comunicado que reproduzimos abaixo.
Perante a pressão pública, a UE revê a
utilização dos drones militares israelitas no Mediterrâneo
Bruxelas / Ramallah, 9 de novembro de 2020
A empresa portuguesa CeiiA decidiu recentemente não renovar o aluguer de dois drones da empresa de armamento israelita Elbit destinados à patrulha de fronteiras e outras missões para a Agência Europeia de Segurança Marítima (EMSA).
Esta decisão surge na sequência da petição "Stop Israeli Killer Drones", lançada pela World Without Walls Europe, co-patrocinada por 46 organizações e subscrita por mais de 10.000 cidadãos europeus, exigindo o fim do contrato e da utilização de drones.
Infelizmente, isto não significa o fim da utilização de drones militares para a segurança de fronteiras da UE. A Frontex, agência de vigilância de fronteiras da UE, contratou serviços de drones da Israeli Aerospace Industries (IAI) e da Elbit, e a Grécia começou também a alugar drones da IAI para a patrulha de fronteiras.
A Frontex e os Estados membros da UE podiam solicitar à EMSA a utilização de drones Hermes da Elbit para a detecção e intercepção de barcos de migrantes, entre outras missões. No início deste ano, um destes drones despenhou-se em Creta, enquanto vigiava as fronteiras marítimas da Grécia.
A Elbit Systems desenvolve os seus drones em conjunto com os militares israelitas e promove a sua tecnologia como tendo sido testada no terreno – em palestinianos. Ela fornece 85% dos drones utilizados por Israel nos seus repetidos ataques militares e no permanente cerco desumano a Gaza.
No início deste ano, a Grécia anunciou que alugará drones Heron da IAI, conhecidos pelas mesmas razões que os drones Hermes, para expandir a sua capacidade de segurança na fronteira. E no mês passado a Frontex anunciou que tinha celebrado um contrato de 50 milhões de euros com a Airbus (e a IAI como subcontratante) e a Elbit para o fornecimento de voos de vigilância de drones no Mediterrâneo nos próximos dois anos.
Com estes contratos, a Frontex dá novos passos no seu trabalho de segurança de fronteiras, na expansão do seu papel nas políticas de migração e de fronteiras da UE e na aquisição do seu próprio equipamento em vez de recorrer ao dos Estados membros da UE.
Para os refugiados que tentam atravessar o Mediterrâneo, isto pode ter consequências mais devastadoras, especialmente à luz das recentes publicações sobre a cumplicidade da Frontex em deportações ilegais da Grécia para a Turquia e devoluções para a Líbia. É também motivo de preocupação o facto de se continuar sem saber o que as empresas contratadas podem fazer com os dados em bruto recolhidos pelas missões dos drones, para além de os fornecerem à Frontex.
"O fim da utilização dos drones da Elbit pela EMSA mostra que a pressão pública tem impacto para acabar com práticas anti-éticas e lançar luz sobre as estratégias de vendas atrozes das empresas de armamento israelitas", disse Aneta Jerska (ECCP) da World Without Walls Europe. "O novo contrato da Frontex e a utilização crescente de drones, muitos deles de empresas israelitas, que têm como alvo os refugiados nas fronteiras da Europa, significa que temos de exercer muita mais pressão para parar a política anti-imigração mortífera da Europa e o financiamento da UE à indústria militar de Israel".
Para mais informação, contacte: Aneta Jerska - eccp.brussels@gmail.com
Para saber mais sobre o novo contrato da Frontex: https://stopwapenhandel.org/node/2432
Aqui, a petição e a lista de organizações co-patrocinadoras: https://petition.stopthewall.org/
E, sobre o papel dos drones na repressão militar dos migrantes às portas da União Europeia: http://www.eccpalestine.org/wp-content/uploads/2020/03/StopIsraeliKillerDrones.pdf
O Comité de Solidariedade com a Palestina (CSP) condena o estreitamento de relações diplomáticas e económicas, incluindo de pesquisa e desenvolvimento, entre Portugal e Israel representada pelo recente encontro entre o ministro português da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior Manuel Heitor e o ministro da Ciência e Tecnologia de Israel Yizhar Shai.
Numa altura em que o governo de extrema-direita israelita se prepara para anexar formalmente uma grande parte do território palestiniano ocupado, uma grave violação do direito internacional que vem destruir perspectivas para a paz e justiça para o povo palestiniano, o governo português vem fomentar a impunidade de Israel com o seu desejo expresso de cooperação "renovada, efetiva e tangível".
Este ato mostra uma hipocrisia tremenda do governo português que, por um lado, se opõe à colonização israelita e, por outro, mantém relações próximas com um ministério que trabalha de forma estreita com o exército de ocupação responsável por essas mesmas políticas. A política hipócrita do atual governo português não se limita a esta reunião. No ano passado, o Força Aérea Portuguesa assinou um contrato de 50 milhões de euros com a empresa de armamento israelita Elbit Systems que testa o seu armamento reprimindo civis palestinianos.
Exigimos o fim imediato destas colaborações de cumplicidade e a imposição de sanções ao governo de apartheid de Israel até que este respeite os direitos do povo palestiniano e o direito internacional. Neste contexto, Portugal tem a obrigação de banir o comércio com os colonatos ilegais e de impor um embargo militar a Israel.
A política pro-apartheid do governo português contrasta com o crescimento impressionante do movimento de Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS), incluindo em Portugal onde vários espaços (comércios, associações, clubes) têm-se declarado Espaços Livres do Apartheid Israelita, comprometendo-se a boicotar Israel e a adoptar uma política de solidariedade e anti-racista.
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