Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

SOLIDARIEDADE COM A PALESTINA

Informação sobre a ocupação israelita, a resistência palestiniana e a solidariedade internacional *** email: comitepalestina@bdsportugal.org

SOLIDARIEDADE COM A PALESTINA

Informação sobre a ocupação israelita, a resistência palestiniana e a solidariedade internacional *** email: comitepalestina@bdsportugal.org

Mentiras, omissões e contradições de Esther Mucznik

Por Elsa Sertório

O artigo de Esther Mucznik no “Público” de 8 de Maio de 2008 apresenta algumas contradições gritantes de que a autora parece não se ter apercebido.

Por um lado, ela cultiva o mito de uma nação judaica que viria de tempos imemoriais e que teria sobrevivido como nação ao longo de uma Diáspora milenar. Como esta versão é muito difícil de manter, admite que a grande maioria dos judeus alimentou, na sequência da revolução francesa e da sua emancipação política, o desejo de ser assimilada e de fazer parte doutros povos. Mas esse desejo, logo acrescenta Mucznik, não passava de uma “doce ilusão emancipadora”. E a explosão dos pogroms no Leste da Europa rapidamente terá ocasionado um surto do movimento sionista (espantoso como Mucznik apenas recorda os brutais pogroms russos e não a “civilizada” perseguição francesa contra Dreyfus).

Acontece que Mucznik não tem razão. Embora o sionismo tenha efectivamente sido concebido por Theodor Herzl no século XIX, ele era nesse tempo inteiramente marginal e nada atraente para os judeus. A “doce ilusão emancipadora” continuava, apesar das criminosas violências anti-semitas, a embalar uma grande parte dos judeus da Europa. Outros, despertados dessa “doce ilusão” procuravam construir um futuro em paragens distantes – principalmente no Novo Mundo, pouquíssimos na Palestina. Os sionistas, de direita ou de esquerda, continuavam a ser uma minoria ínfima entre os judeus.

Isso mesmo acaba, aliás, por admitir Mucznik, sem grande coerência, ao afirmar que “foi o genocídio nazi um dos principais instrumentos da criação do Estado de Israel”. E, com efeito, a grande oportunidade do movimento sionista surgiu no pós-guerra, quando aos sobreviventes do Holcausto pareciam fechar-se as portas de até então: assimilação nos seus países ou acolhimento nas Américas. Mas continuava a não existir uma nação judaica. E também isso admite Mucznik, sem se dar conta, ao falar-nos na “errância desesperada de mais de cem mil sobreviventes desenraizados cuja única esperança era fugir da Europa e das suas sombras”. Notemos bem as palavras da “investigadora em assuntos judaicos”: os sobreviventes não queriam partir para a Palestina e sim “fugir da Europa”.

E, como continuavam a não ser uma nação, tiveram de ser metidos no molde do Estado israelita para daí sair essa nação. E Mucznik, para fazer a propaganda do Estado, volta a descair-se com a admissão de que foi ele a “cometer a proeza de forjar uma identidade própria forte”.

Dos miríficos inimigos que espreitam esse “Estado de direito exemplar”, Mucznik apenas se refere especificamente ao Irão, um país onde continua a existir legalmente e com representação parlamentar uma significativa comunidade judaica. Classifica-o no entanto como uma espécie de regime nazi, através da referência a Mahmud Amadinedjad como o “pequeno Führer persa”. Devemos portanto esperar que o embaixador iraniano em Lisboa seja em breve visitado e calorosamente cumprimentado por Mucznik como o embaixador nazi o era nos anos 30 pelo antecessor de Mucznik, também dirigente da Comunidade Israelita de Lisboa, Moses Amzalak ...

Enfim, um pequeno esquecimento: ocupada a cultivar o mito do povo eleito, e a meter os pés pelas mãos cada vez que faz baixar esse mito à terra das realidades históricas, Mucznik esquece muito simplesmente a existência do povo palestiniano, como referiu Alan Stoleroff. Regressamos assim à fraudulenta propaganda sobre uma “terra sem povo” (a Palestina). O povo palestiniano, que Mucznik até agora só encarava como detalhe da História, deixa mesmo de ter direito a qualquer nota de rodapé. Deixou de existir na propaganda da “investigadora”.

 

3 comentários

Comentar post

Mais sobre mim

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2023
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2022
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2021
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2020
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2019
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2018
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2017
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2016
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2015
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2014
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2013
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D
  144. 2012
  145. J
  146. F
  147. M
  148. A
  149. M
  150. J
  151. J
  152. A
  153. S
  154. O
  155. N
  156. D
  157. 2011
  158. J
  159. F
  160. M
  161. A
  162. M
  163. J
  164. J
  165. A
  166. S
  167. O
  168. N
  169. D
  170. 2010
  171. J
  172. F
  173. M
  174. A
  175. M
  176. J
  177. J
  178. A
  179. S
  180. O
  181. N
  182. D
  183. 2009
  184. J
  185. F
  186. M
  187. A
  188. M
  189. J
  190. J
  191. A
  192. S
  193. O
  194. N
  195. D
  196. 2008
  197. J
  198. F
  199. M
  200. A
  201. M
  202. J
  203. J
  204. A
  205. S
  206. O
  207. N
  208. D
  209. 2007
  210. J
  211. F
  212. M
  213. A
  214. M
  215. J
  216. J
  217. A
  218. S
  219. O
  220. N
  221. D