Israel: casado com a guerra?
Ben White
Para Israel, as consequências da guerra do Líbano de 2006 resumem-se a interrogações. Que erros foram cometidos, e quem foi responsável por eles? O que poderia ser feito para Israel restabelecer “a repressão” depois de uma derrota tão amplamente sentida? Em geral, que lições podem ser aprendidas sobre a confrontação com o Hezbollah para que, na próxima vez, não se ponha a questão de uma derrota?
Infelizmente, parece que só chegaram a conclusões erróneas, pelo menos no que diz respeito à hierarquia militar e entre os especialistas que determinam as políticas vigentes. Na sexta-feira, o jornal de Yedioth Ahronoth publicou comentários feitos pelo general israelita Gadi Eisenkot, dirigente do comando norte do exército. Eisenkot aproveitou a oportunidade para partilhar os princípios reguladores de planos para uma guerra futura.
O general prometeu força “ desproporcionada” para destruir aldeias inteiras, identificadas como lugares de procedência dos bombardeamentos do Hezbollah, justificando este facto por considerar que as mesmas não são “aldeias civis” mas antes “bases militares” – o tipo de justificação que leva qualquer pessoa a um tribunal de crimes de guerra.
Eisenkot lembrou como Israel arrasou o bairro de Dahiya em Beirute em 2006 e confirmou que esta seria a sorte de “cada aldeia de onde Israel for bombardeado”. Para o caso de haver dúvidas, acrescentou “ Isto não é uma recomendação, é um plano e foi aprovado.”
A promessa franca de uma força “desproporcionada” será arrepiante para os libaneses, que mesmo da última vez foram sujeitos a ataques indiscriminados, alvos da destruição de infra-estruturas civis e bombardeados massivamente. Mas o que Há’aertz denominou “Dahhyia Doctrine” recebeu apoio entusiástico em alguns sectores, tais como a veterana TV israelita e o jornalista de imprensa Yaron London.
London pareceu ficar bastante agradado com a determinação de Eisenkot de “destruir o Líbano” sem ter em conta “os protestos do mundo”. London, enquanto anseia para que Israel “pulverize” umas “160 aldeias shiitas” clarificou as implicações da ideologia de Eisenkot “ em termos práticos os palestinianos em Gaza apelam-se todos Khaled Mashaal, os libaneses são todos Nasrallah, e os iranianos são todos Ahmadinejad. O significado disto em termos práticos não precisa de ser repetido.
O relatório Há’aretz também descreve como conclusões semelhantes aparecem em relatórios de instituições académico militares. Um destes relatórios, publicado pelo National Security Studies (INSS) da universidade de Tel Aviv, e ambiguamente intitulado “Força Desproporcionada”, revela a compreensão do autor (Gabriel Siboni,coronel na reserva) acerca das lições de 2006.
Com o irromper de hostilidades o IDF precisará de actuar de imediato, com uma violência desproporcionada face aos actos do inimigo e às ameaças que representam. Tal resposta tem como objectivo causar destruição e infligir punições de tal forma graves que exijam um processo de reconstrução longo e dispendioso.
Siboni incita os militares israelitas a atacar desproporcionadamente “os pontos fracos do inimigo” e só depois perseguir os lançadores de mísseis. Devastar “interesses económicos”, “centros de poder civil”, e “infra estruturas do estado” “criará uma lembrança inesquecível entre os governantes libaneses e sírios” e deste modo aumentará a “intimidação israelita” e neutralizará os recursos do “inimigo” na reconstrução.
Uma nova e posterior publicação de um ex-dirigente do National Security Council incita Israel a garantir que da próxima vez, o exército libanês e as infra-estruturas civis serão destruídas. Ou como o autor energicamente diz, “ As pessoas não irão para a praia em Beirute enquanto os residente de Haifa estão em abrigos”.
Esta determinação de “criar uma recordação inesquecível” nas mentes dos sírios e dos libaneses é uma reminiscência de anteriores declarações de objectivos israelitas. Em 2003 o comandante do IDF, tenente general Moshe Ya’alon, afirmou que a guerra mantida nos territórios ocupados “entranharia de forma profunda na consciência dos palestinianos a ideia de que são um povo derrotado”.
De facto em 2006, os comparsas do Dr Reuven Erlich, chefe do “Intelligence and Terrorism Information Centre” no “Centre of Special Studies” em Tel Aviv também recomendava “entranhar” na “ consciência libanesa” o “ preço elevado que irão pagar por nos provocar e importunar”.
Utilizar a força bruta para marcar de forma indissipável certas verdades na consciência dos árabes de várias origens é uma herança do pensamento sionista e israelita, que já vem dos tempos da teoria do “muro de ferro” de Jabotinsky. Nos anos vinte ele escreveu candidamente que “ Todos os povos indígenas resistirão aos invasores estrangeiros enquanto virem alguma esperança de se conseguirem libertar do perigo desse domínio”. Haveria então a necessidade de um “muro de ferro” de força para levar os palestinianos ao ponto de abdicar de toda a esperança.
Enquanto a lógica brutal da dominação colonial-ocupante tem sido um princípio regulador para os estrategas militares israelitas ao longo de décadas, e vem sendo complementada pelo “cliché antropológico” racista de que os “os árabes só compreendem a força”. Interessantemente, tais credos são actualmente lugares comuns no discurso militar dos EU pois o Pentágono também ocupa directamente um país do médio oriente e enfrenta resistência.
Assim, parece que Israel só está a assimilar lições inteiramente erradas do conflito de 2006. Erradas com certeza, do ponto de vista moral (embora isso só seja aparente em termos de um previsível retrocesso internacional). A conclusão também pode ser vista