Na semana passada, foram verificadas várias leis sociais e físicas.
A primeira lei determina que, ao incrementar-se a pressão sobre uma área fechada sem válvula de segurança, ela acabará por explodir. O cerco que Israel impôs a 1,5 milhões de homens, mulheres, idosos e crianças residentes na Faixa de Gaza resultou numa crise humanitária e fome que levaram a população a romper o muro que selava hermeticamente Gaza. O muro foi derrubado no seu ponto mais fraco, na fronteira com o Egipto, permitindo a milhares de pessoas esfomeadas e cercadas entrarem no Sinai e acumularem alimentos e medicamentos.
A segunda lei determina que os seres humanos nem sempre reagem como previram os órgãos de poder; em vez de cederem à pressão de Israel, os residentes de Gaza decidiram romper o cerco por si próprios.
A terceira lei tem a ver com as supresas dos círculos dominantes – os serviçoes de inteligência, militares, think tanks e “analistas de assuntos árabes” bem como o governo israelita não previram o que aconteceu na última semana em Rafah, e ninguém notou a destruição do muro pelo governo palestiniano de Gaza. E no entanto aqui está uma outra ocasião em que toda esta gente foi surpreendida, como o fôra pela primeira Intifada, pela rejeição das “generosas ofertas” de Barak por Yasser Arafat, pela segunda Intifada e pelas capacidades de resposta do Hezbollah no Verão de 2006.
Esta surpresa não é o resultado da estupidez dos que são supostos entender o que poderia acontecer, e sim da cegueira do poderoso que é incapaz de olhar os que estão sob a sua bota como seres humanos com vontade própria e com a sua própria capacidade para tomar decisões. Aos olhos do ocupante, o ocupado é um objecto, não um sujeito capaz de pensar e de reagir fora do cenário definido pelo ocupante. Através da História, esta cegueira acompanhou todas as guerras coloniais, da Argélia ao Afeganistão, do Vietname ao Iraque – o colonialismo israelita não constitui excepção.
O dia em que os habitantes de Gaza romperam o muro da sua prisão é na verdade um dia digno de comemoração, tal como o da revolta do Soweto na África do Sul ou da insurreição de Budapeste há 50 anos, uma comemoração que distingue entre o que é humano e o que é próprio dos animais: o desejo de liberdade e a vontade de moldar a própria vida. E se a iniciativa dos habitantes de Gaza e dos seus dirigentes representa o que é humano, o cerco a Gaza representa a bestialidade do ocupante que, com a desculpa esfarrapada dos morteiros Qassam sobre a cidade de Sderot, não hesita em impor um castigo que condena à fome 1,5 milhão de pessoas. Na verdade, o encorajamento levado a todo o lado pelas imagens de televisão chegadas de Gaza não deve apagar o facto simples e doloroso de que não acabou a violência de Israel contra os habitantes de Gaza. É razoável supor que os estados-maiores militares estão a cozinhar actos ainda mais cruéis de castigo do que as “experimentações” que Ehud Barak apregoou. A “Aliança contra o Cerco de Gaza” fez bem em não cancelar a caravana de solidariedade planeada para 26 de Janeiro, porque os habitantes de Gaza continuam a necessitar dessa mesma solidariedade e por muito tempo continuarão.
Os políticos, assessores, altos funcionários e jornalistas serão responsabilizados pelo que sem dúvida é definido como um crime de guerra. No banco dos réus, o ministro da Defesa, Ehud Barak, terá jus a um lugar especial de (des)honra. O homem que experimenta em seres humanos é o mesmo que foi responsável pelo massacre de cidadãos palestinianos de Israel em Outubro de 2000, pelo sangrento ataque planeado nas cidades da Cisjordânia no final de 2000, já para não falar das suas acções na campanha militar. Este homem ensanguentado anda com a marca de Caim na sua testa, e quando viajar pelo mundo tem de ser tratado como um criminoso de guerra pelo qual os tribunais esperam para fazer justiça.
Menachem Mazuz, o procurador-geral israelita, anunciou esta semana que ninguém seria julgado pelo massacre que ocorreu em Outubro de 2000. Ehud Barak, o primeiro responsável, não devia ter sido mandado em paz mais uma vez.
Não há muito tempo, sustentei que Israel aplica uma política genocida na Faixa de Gaza. Hesitei antes de usar o termo tão carregado, e no entanto decidi-me a adoptá-lo. Os ecos que obtive indicavam mal-estar em utilizar um termo assim. Repensei-o ainda, mas concluí com convicção ainda maior: é a única forma apropriada para descrever o que o exército israelita está a fazer na Faixa de Gaza.
Em 28 de Dezembro de 2006, a organização israelita de direitos humanos B’tselem publicou o seu relatório anual sobre atrocidades israelitas nos territórios ocupados. Em 2006, as forças israelitas mataram 660 pessoas, o triplo do que tinham matado no ano anterior (cerca de 200). A maioria dos mortos são da Faixa de Gaza Strip, onde as forças israelitas demoliram quase 300 casas e desalojaram famílias inteiras. Desde o ano 2000, quase 4.000 palestinianos foram mortos pelas forças israelitas, metade deles crianças, e mais de 20.000 foram feridos.
A questão não é apenas a da escalada de homicídios intencionais, mas a da estratégia.
Anexação
O decisores políticos israelitas confrontam-se na Cisjordânia e na Faixa de Gaza com duas realidades diferentes. Na primeira, estão a concluir a construção da sua fronteira oriental. O seu debate ideológico interno está concluído e o seu plano director de anexar metade da Cisjordânia está a atingir a velocidade de cruzeiro.
A última fase foi retardade devido às promessas feitas por Israel, sob a vigência do “road map”, de não construir novos colonatos. Israel encontrou duas formas de contornar este problema. Primeiro, definiu um terço da Cisjordânia como Grande Jerusalém, o que lhe permitiu construir cidades e centros urbanos dentro desta nova área anexada. Em segundo lugar, expandiu velhos colonatos para proporções tais que já não é preciso construir novos colonatos.
Transferência silenciosa
Os colonatos, as bases do exército, as estradas e o muro vão permitir a Israel anexar quase metade da Cisjordânia até 2010. Dentro destes territórios, as autoridades israelitas vão continuar com a política de transferência silenciosa contra o número considerável de palestininanos que permanecem.
Não há pressa. No que diz respeito aos israelitas, eles estão na mó de cima; a combinação diária, desumanizante e abusiva de exército e burocracia concorre aqui para o processo de expropriação.
Todos os partidos governantes, do Labor ao Kadima, aceitam o pensamento estratégico de Ariel Sharon, segundo o qual esta política é muito melhor do que a proposta pelos “transferistas” descarados ou higienistas étnicos como Avigdor Liberman. Na Faixa de Gaza não há uma clara estratégia israelita, mas há a experimentação diária com uma. Os israelitas encaram a Faixa como uma entidade geo-política diferente da Cisjordânia. O Hamas controla Gaza, ao passo que Mahmoud Abbas parece governar a fragmentada Cisjordânia com a benção israelita e norte-americana.
Não há na Faixa terra que Israel cobice e não há nenhuma retaguarda, como a Jordânia, para onde os palestinianos possam ser expulsos.
A limpeza étnica é neste caso ineficaz. A anterior estratégia na Faixa consistia em ghettoizar aí os palestinianos, mas não está a funcionar. Os judeus sabem-no da sua história, melhor do que ninguém. No passado, o passo seguinte contra comunidades como esta era ainda mais bárbaro. É difícil prever o que o futuro reserva à comunidade de Gaza community: ghettoizada, psota em quarentena, indesejada e demonizada.
Deitando fora a chave
Construir a prisão e lançar a chave ao mar, como disse o professor sul-africano John Dugard, foi uma opção contra a qual os palestinianos da Faixa reagiram com força em Setembro de 2005. Decididos a mostrarem que continuavam a fazer parte da Margem Ocidental e da Palestina, eles lançaram o primeiro número de mísseis significativo contra o ocidente do Negev. A flagelação foi uma resposta à massiva campanha israelita de detenções de pessoas do Hamas e da Jihad na área de Tul Karem.
Israel respondeu com a operação “Primeira Chuva”. Voos supersónicos foram feitos sobre Gaza para aterrorizar a população inteira, seguidos por pesados bombardeamentos por terra, mar e ar. A lógica, explicou o exército israelita, era a de enfraquecer o apoio da comunidade aos lançadores de morteiros. Como era de esperar, também por parte dos israelitas, a operação apenas aumentou o apoio aos lançadores de morteiros.
A verdadeira intenção era experimental. Os generais israelitas queriam saber como essas operações seriam recebidas em Israel, na região e no mundo. E parece que a resposto foi: “muito bem”; ninguém se interessou pelo número de mortos e pelas centenas de palestinianos feridos.
As operações seguintes foram feitas sobre o modelo de “Primeira Chuva”. A diferença era maispoder de fogo, mais baixas, mais danos colaterais e, como era de prever, mais morteiros Qassam em resposta. As medidas adicionais asseguraram um aprisionamento completo dos gazanos através do boicote e do bloqueio, com o qual a União Europeia vergonhosamente colabora.
A captura do soldado israelita Gilad Shalit em Junho de 2006 foi irrelevante para o esquema geral, mas forneceu aos israelitas uma oportunidade para uma escalada ainda maior. No fim de contas, não houve estratégia que se seguisse à decisão de Sharon de retirar 8.000 colonos de Gaza, cuja presença dificultava as missões “punitivas”. De então para cá, as acções ”punitivas” continuam e tornaram-se uma estratégia.
A “Primeira Chuva” foi substituída por “Chuvas de Verão”. Num país em que não há chuva no Verão, só se pode esperar dilúvios de bombas de F-16 e barragens de artilharia a atingir o povo da Faixa.
“Chuvas de Verão” trouxe uma nova componente: a invasão terrestre em partes da Faixa de Gaza. Isto permitiu ao exército matar pessoas e apresentar isso copmo resultado inevitável duma luta renhida em áreas densamente povoadas e não como um resultado da política israelita.
Chuvas de Verão, núvens de Outono
Quando o Verão terminou, veio a ainda mais eficinete “Núvens de Outono”: a partir de 1 de Novembro de 2006, os israelitas mataram 70 civis em menos de 48 horas. No fim desse mês, quase 200 tinham sido mortos, metade deles mulheres e crianças.
Alguma desta actividade foi acompanhada por ataques israelitas contra o Líbano, tornando mais fácil completar as operações sem grande atenção, para já não falar de crítica, vinda de fora. Da “Primeira Chuva” à “Núvens de Outono”, há uma escalada em todos os parâmetros. O primeiro é o de apagar a distinção entre alvos “civis” e “não-civis”: a população é o alvo principal da operação do exército. O segundo é a escalada nos meios: emprego de todas as máquinas possíveis para matar que o exército israelita possua. O terceiro é a escalada no número de baixas: em cada operação futura, será provável que morra ou seja ferido um maior número de pessoas. Por fim, e mais importante, as operações tornam-se uma estratégia – a forma como Israel tenciona resolver o problema da Faixa de Gaza.
Uma transferência silenciosa na Margem Ocidental e uma política de genocídio calculado na Faixa de Gaza – são as duas estratégias que Israel utiliza hoje em dia. De um ponto de vista eleitoral, a política de Gaza é problemática, porque não produz resultados palpáveis; a Cisjordânia sob Mahmoud Abbas está a vergar-se à pressão israelita e não há força significativa que trave a estratégia israelita de anexação e expropriação.
Gaza defende-se
Mas a Faixa continua a defender-se. Isto permitiria ao exército israelita iniciar operações genocidas mais amplas no futuro, mas também há o grande perigo de que, como em 1948, o exército exija uma acção “punitiva” mais drástica e sistemática contra a população sitiada de Gaza. Ironicamente, a máquina de matar israelita abrandou ultimamente. Os seus generais estão satisfeitos por o morticínio interno na Faiza fazer o seu trabalho.
Eles observam deleitados a guerra civil latente na Faixa, que Israel fomenta e encoraja. A responsabilidade por acabar com a a luta interna cabe aos próprios grupos palestinianos, mas a interferência israelita e norte-americana, o encarceramento constante, a fome e o estrangulamento da Faixa – tudo torna muito difícil um processo de paz interno.
Cortando o oxigénio de Israel
O que se desencadeia em Gaza é uma batalha entre agentes dos EUA e de Israel por um lado – talvez relutantes e involuntários, mas que nem por isso dançam menos segundo a música israelita – e aqueles que se opõem a esses planos. A oposição que assumiu o controlo em Gaza fê-lo de uma forma que é muito difícil aceitar ou aplaudir.
Se aí se mantiver a luta, a “Chuva de Verão” israelita voltará a cair sobre o povo da Faixa, espalhando desolação e morte. Não há outro modo de travar Israel que não sejam o boicote, o desinvestimento e as sanções. O único ponto fraco da máquina de matar são as suas linhas de oxigénio para a civilização “ocidental” e a opinião pública. Ainda é possível furá-las e pelo menos tornar mais difícil aos israelitas levarem a cabo a sua futura estratégia de eliminar o povo palestiniano, varrendo-o da Cisjordânia e cometendo um genocídio na Faixa de Gaza.
* Ilan Pappe é leitor senior no Departamento de Ciência Política da Universidade de Haifa, e catedrático do Instituto Emil Touma para Estudos Palestinianos em Haifa. Os seus livros incluem, entre outros, The Making of the Arab-Israeli Conflict (London and New York 1992), The Israel/Palestine Question (London and New York 1999), A History of Modern Palestine (Cambridge 2003), The Modern Middle East (London and New York 2005) e o mais recente Ethnic Cleansing of Palestine (2006).
O derrubamento do Muro de Rafah resultou de um combinação adequada de planeamento e duma leitura precisa do mapa político e social pelo governo do Hamas, adicionado a uma resposta de massas aos ditames da potência dominante, Israel.
Várias pessoas em Rafah sabiam que "figuras anónimas" andavam secretamente a minar as fundações do muro desde há alguns meses, de modo a tornar-se possível derrubá-lo facilmente quando chegase o momento - mas o segredo não transpirou. As centenas de pessoas que começaram a deixar a localidade palestiniana de Rafah logo a seguir ao derrubamento do muro fizeram-no apesar do risco e do precendente de os egípcios dispararem contra os que se infiltrassem através da fronteira.
A liderança e o povo de Gaza, duas componentes do povo ocupado, foram parceiros no passo corajoso e necessário para quebrar as regras do jogo israelita. O derrubamento do muro é uma clara manifestação da concepção e do temperamento de uma resistência popular entre o povo palestiniano, que por várias razões esteve adormecida nos últimos anos.
A Organização de Libertação da Palestina está preocupada, e com razão, com a eventualidade de a queda do muro fornecer a Israel um pretexto adicional para concluir a separação entre Gaza e a Cisjordânia. Não há nesta tendência nada de novo: o cerco israelita contra Gaza tem estado a desenvolver-se gradual e persistentemente desde 1991, e intensificou-se durante os anos de Oslo. Mas a direcção da OLP não teve a creatividade suficiente para em tempo útil pôr em xeque a estratégia israelita consistente, destrutiva e asfixiante, de limitar a liberdade de movimentos palestiniana.
Não admira. Então como hoje, Israel trabalhava para desenvolver os privilégios dos altos funcionários da Autoridade Palestiniana, concedendo-lhes a eles alguma liberdade de movimentos. Os funcionários condenavam publicamente as restrições aos movimentos da população em geral, ao mesmo tempo que aceitavam de forma submissa os seus próprios privilégios. Por isso, a sua imaginação política foi incapaz de produzir quaisquer planos práticos de acção contra a separação entre Gaza e a Cisjordânia, e contra o encarceramento sofrido pela maioria do seu povo.
A oportunidade de usar esta façanha de romper o muro como forma de avançar e desenvolver a táctica da luta popular é diminuída pela existência de dois obstáculos. Um, é o que se chama a "luta armada" - concretamente os disparos de rockets de Gaza contra cidades israelita ou os atentados suicidas em Israel. A premissa palestiniana de que uma nação ocupada tem o direito de "lutar por todos os meios" soa a oco, visto que não está em causa um direito, e sim a eficácia da luta.
Provou-se que através da desobediência popular os palestinianos conseguem romper as regras do jogo israelitas e voltar a colocar os seus problemas no centro da atenção global - bem como intensificar a crítica contra Israel. A "luta armada", especialmente quando se dirige contra civis, produz o oposto: dá aos palestinianos a aparência de agressores, não de parte ocupada e sob fogo, enfraquecendo portanto a sua posição global.
Se o governo de Gaza não quiser perder o impulso da queda do muro, não deve contentar-se em mandar parar o fogo dos Qassams disparados pelos seus próprios militantes: deve tornar claro a outras organizações que estão a prejudicar um movimento bem sucedido de resistência.
O segundo obstáculo é a recusa do governo entrincheirado em Ramallah a falar com o Hamas. Estes são, afinal, dois quase-governos cuja legalidade é questionável do ponto de vista da lei fundamental da Autoridade Palestiniana. Mas ambos representam o mesmo povo ocupado e o mesmo pedaço de terra sujeito a um processo acelerado de colonização - e isso ultrapassa todas as subtilezas jurídicas. Mahmud Abbas encontrou-se com Ehud Olmert sem pré-condições exactamente no fim-de-semana em que Israel impunha a Gaza o cerco mais cruel de sempre, mas Abbas não pode falar com Ismail Hanyieh sem o dirigente do Hamas aceitar as suas pré-condições?
Este boicote contribui para o corte que Israel tão aplicadamente trata de intensificar. Quanto mais tardarem as conversações directas entre as duas direcções sobre formas práticas de fazer levantar o cerco a Gaza, mais justificadas serão as preocupações, como afirmam funcionários do Hamas, de que o governo de Ramallah esteja a dar ouvidos aos Estados Unidos e a Israel - mas não ao seu próprio povo.
Londres - O rabino askenaze Yona Metzger apelou a que os habitantes de Gaza sejam transferidos para a Península do Sinai, para um Estado palestiniano que, na sua opinião, poderia ser construido no deserto.
Numa entrevista em inglês para o semanário britânico The Jewish News, o rabino também disse que, embora os muçulmanos pacíficos devam ser autorizados a rezar nas mesquitas de Jerusalem, eles devem reconhecer que Jerusalém pertence aos judeus. "Os muçulmanos têm Meca e Medina e", acrescentou o rabino, "vocês não precisam de um terceiro lugar".
Metzger apelou a que a Grã-Bretanha, a União Europeia e os Estados Unidos ajudassem à construção de um Estado palestiniano no deserto do Sinai egípcio.
Segundo Metzger, o plano seria de "levar todos os pobres de Gaza para um novo país maravilhoso comcomboios, anutocarros e automóveis, como no Arizona - estamos agora numa época em que se pode tomar um deserto e aí construir uma cidade. Isso será uma solução para as pessoas pobres - elas terão um belo país e nós teremos o nosso país e viveremos em paz."
Metzger disse ao jornal que o plano era novo e que ainda não o tinha apresentado ao primeiro-ministro Ehud Olmert.
"Pensei nele nestas duas últimas semanas com pessoas de grande sabedoria e acho que é uma grande ideia - ninguém falou ainda sobre isso." O rabino manifestou a sua intenção de discutir o assunto com Olmert e anticipou que a ideia iria ter popularidade entre os israelitas. Ele apresentou os seus comentários, sublinhando que não podia aconselhar sobre questões políticas, pois é um líder religioso de Israel, notando que, segundo a lei "não pode envolver-se em situações políticas."
Os muçulmanos não precisam de um terceiro lugar
Metzger também apelou a que os muçulmanos voltassem a ter liberdade de orar nas mesquitas, na condição de o fazerem pacificamente: "Acolheremos qualquer palestiniano que queira rezar na sua mesquita. Podem vir todas as sextas-feiras, mas com uma condição: sem violência. Temos o mesmo sentimento para com os fieis, queremos respeitá-los, mas deixem-nos viver e acreditar que a nossa terra é a Terra Santa e que Jerusalém nos pertence. Vocês têm outros lugares, Meca e Medina, não precisam de um terceiro lugar."
Na entrevista, Metzger também descreveu Jerusalém como "a capital definitiva da nação judaica". Argumentou que os muçulmanos não têm laços com Jerusalém, comentando que "por trás do Kotel temos uma mesquita. Mas, quando eles rezam, mesmo quando estão no nosso lugar mais santo, estão virados para Meca. Viram as costas a Jerusalém. Assim, pode ver-se por um único sinal que Jerusalém não lhes pertence. Eles não têm nada, nenhuma ligação".
A atitude de Metzger, de 54 anos, nomeado chefe rabino em 2003 para um mandato de dez anos, foi marcada pela controvérsia. Em 2006, o procurador-geral Menachem Mazuz pediu que ele abdicasse do seu posto num relatório que alegava que ele tinha aceitado hospitalidade gratuita num certo número de hoteis israelitas - um pedido que Metzger rejeitou.
Metzger também propôs a criação de "Nações Unidas religiosas", compostas de chefes religiosos de todo o mundo, e foi designado como uma das 12 figuras religiosas internacionais mais influentes num recente documentário da CBS intitulado In God's Name.
O povo da Palestina fê-lo novamente – tomar o próprio destino nas suas mãos depois de a direcção política “moderada” e, de facto, a comunidade internacional o terem abandonado na sua luta pela liberdade. Hoje [24 de Janeiro] ao princípio da manhã, os palestinianos simplesmente rebentaram com o muro que separa Gaza do Egipto, quebrando um cerco que lhes fora imposto por um governo árabe em colaboração com Israel.
Nesta profunda recusa de uma sociedade civil em aceitar a subjugação, o abandono à sua sorte pelos governos, incluindo o seu próprio, para quem as vidas das pessoas comuns são meros joguetes nas suas charadas políticas, – sendo que Annapolis e o decorrente “processo de paz” constituem a sua última expressão de cinismo -, nesta recusa, nós, os povos do mundo, devíamos ver grandes motives de orgulho e encorajamento. Porque os palestinianos representam muito mais do que eles e elas próprias. A sua recusa em submeter-se ao ditames dos governos, ou à falta de interesse dos governos no bem-estar do povo em geral, reflecte o desejo de biliões de pessoas oprimidas por identidade, liberdade, uma vida decente e concretização dos seus direitos e potenciais, colectivos e individuais. A maioria dos oprimidos, os “condenados da terra”, como lhes chamou Franz Fanon há meio século, também estão preocupados com a sufocante luta quotidiana pela sobrevivência para organizar e resistir. Outros resistem numa grande variedade de formas, mas quase sempre são reprimidos pelos seus próprios “dirigentes” políticos e económicos, desaparecendo do mapa anonimamente. Em alguns, poucos, casos, conseguiram organizar uma resistência efectiva contra a opressão, ou mesmo prevalecer – embora os biliões gastos em guerra “contra-insurreccional” pelos EUA, Rússia, Israel e muitos países “em vias de desenvolvimento” sejam um mau prenúncio para os povos que tentam derrubar regimes opressores.
Nisto os palestinianos encontram-se na vanguarda da insistência dos povos para que sejam respeitados pelos governos os seus direitos, bem-estar e valores fundamentais como seres humanos. E fazem-no (e eu escrevo-o como israelita, com grande desgosto e vergonha) contra uma dos mais implacáveis e fortes potências militares do mundo – uma potência que lhes expropriou 85% da sua terra, que tenta transformar a sua ocupação num regime de apartheid permanente, que gastou décadas a empobrecê-los, a quarta maior potência nuclear, que no entanto se faz passar por vítima. Não só os palestinianos têm passado pela experiência de desumanização de todos os povos oprimidos e colonizados, não só se tornaram a imagem mesma do maior medo dos ricos e poderosos, como “terroristas” perversos que podem destruir-lhes a civilização privilegiada, mas também foram transformados em cobaias. Israel consegue ganhar um avanço na indústria da contra-insurreição e ganhar acesso ao núcleo duro do complexo americano de alta tecnologia, ao transformar os territories ocupados num laboratório para o desenvolvimento de armamento sofisticado e de tácticas para usar contra os povos.
E no entanto o povo palestiniano – e em especial aqueles que na Palestina permanecem firmes – continua não só a resistir mas também a surpreender e a confundir a cada instante o seu putativo amo israelita. Apesar de um controlo ilimitado, de um completo monopólio do uso da força, de uma completa insensiblidade e de um reputado Shin Beit, o serviço de informações militar israelita, os palestinianos votam como querem, resistem, fazem as suas vidas quotidianas com dignidade – e abrem enormes buracos nos muros e nas políticas construídas para aprisioná-los e derrotá-los.
Nada disto está nas cabeças das pessoas desesperadas que passaram hoje para o lado egípcio. Talvez não tenham a “grande visão”. E no entanto merecem o respeito e a gratidão de qualquer pessoa que deseje um mundo melhor, baseado em direitos humanos e em dignidade, um mundo inclusivo. Como judeu israelita, tem-me entristecido e mortificado ver que o meu próprio povo, depois de ter passado por tudo o que passou, não veja o que está a fazer a outros. Mas, numa escala mais ampla, não como judeu israelita mas como ser humano, sinto-me encorajado pela activa recusa dos palestinianos a deixarem-se abater sob um sistema global que produz riquezas e crescimento inimagináveis para uns poucos à custa de um aumento das fileiras dos condenados.
Não sou um palestiniano, não sou um dos oprimidos. Espero apenas que possa usar os meus privilégios de modo a fazer valer a dádiva do povo de Gaza a todos nós: a compreensão de que o povo tem poder e pode triunfar perante uma potência esmagadora. Cada um de nós pode assumir a sua responsabilidade perante o povo de Gaza da maneira que mais lhe agrade, mas como privilegiados devemos fazer alguma coisa. Estamos em dívida com os palestinianos e os palestinianos merecem pelo menos esse apoio.
* Jeff Halper é o presidente do Comité contra as Demolições de Casas
Por Barak Ravid, Amos Harel, Avi Issacharoff, e Yuval Azoulay, correspondentes do Haaretz e agências
Uns 350.000 palestinianos infiltraram-se de Gaza para o Egipto na 4ª feira, segundo a ONU, depois de homens armados e mascarados terem aberto dezenas de buracos no muro que marca a fronteira.
Os habitantes de Gaza correram a comprar comida, combustível e outros abastecimentos que escasseiam devido ao bloqueio israelita à Faixa, depois de militantes terem detonado 17 bombas durante a madrugada, destruindo dois terços da parede de metal que separa a Faixa de Gaza do Egipto.
O Hamas não assumiu a responsabilidade por derrubar o muro da fronteira, mas militantes do Hamas rapidamente tomaram o controlo da fronteira, ao passo que os guardas fronteiriços egípcios permaneciam passivos. A destruição da fronteira continuava ao fim da manhã de 4ª feira. Palestinianos conduzindo um bulldozer chegaram a um local em que a fronteira é definida por uma parede baixa de betão com arame farpado, derrubando-a e abrindo um buraco para permitir acesso mais fácil aos carros.
Os palestinianos já por várias vezes romperam a fronteira Gaza-Egipto desde que israel saíu de Gaza em 2005. No passado, forças de segurança egípcias restabeleceram a ordem horas ou dias depois.
A polícia do Hamas canalizou as multidões por dois sectores da fronteira e fsicalizou alguns sacos, confiscando várias pistolas em poder de homens que regressavam a Gaza. Outros caminharam sobre as placas metálicas derrubadas sem ninguém os molestar, levando cabras, galinhas e sacos de carvão. Alguns traziam televisões e pneus de automóveis e um deles trazia uma motorizada. Comerciantes vendiam bebidas e coziam pão para a multidão.
Mohammed Abu Ghazel, de 29 anos, disse que tinha atravessado a fronteira três vezes desde hoje de manhã. Comprou no Egipto cigarros no valor de 200 schekels e vendeu-os por cinco vezes mais em Gaza, segundo disse. “Isto pode alimentar a minha família durante um m~es”, disse.
Na 2ª feira, umas 60 pessoas foram feridas numa manifestação na fronteira em Rafah quando a multidão tentou passar através dos portões da fronteira e guardas egípcios usaram canhões de água contra ela.
Os responsáveis da segurança foram rápidos, na 2ª feira, em ufanar-se do sucesso da sua táctica na escalada contra Gaza: olhem, o número de Qassams [morteiros artesanais lançados pelos palestinianos] baixou. No momento em que estas linhas são pulbicadas, os responsáveis da segurança podem fabricar outro axioma: desde que retomámos o fornecimento de óleo diesel na base do anterior, os palestinianos voltaram a disparar Qassams. A lógica da escalada é o outro nome do actual ministro da Defesa, Ehud Barak, e muitos israelitas estão a adoptá-lo.
Barak era primeiro-ministro em Setembro de 2000, quando as Forças de Defesa de Israel responderam com a escalada a manifestações populares contra o ocupante israelita e ao arremesso de pedras: fogo mortífero contra civis, entre eles muitas criannças. Sem surpresas, os palestinianos não aprenderam a lição e voltaram-se para uma escalada táctica deles próprios. Foi assim que chegámos ao ponto em que hoje estamos – morteiros artesanais de todos os tipos, que até se desenvolvem, cada vez que Israel intensifica as suas medidas de castigo a responder-lhes.
Livros, artigos e dois filmes já debateram, embora tardiamente, a loucura da táctica da escalada. Mas isso não importa àqueles que apoiam a aplicação de cada vez mais pressão sobre os 1,5 milhão residentes na Faixa. Isso mostra que eles – tal como o seu ministro da Defesa e o resto da direcção política – estão a sofrer de quatro falhas: amnésia, miopia, desorientação e incapacidades de aprendizagem.
A amnésia permite aos apoiantes desta posição ponderarem para um período de tempo de dias a meses os resultados visivelmente benvindos da escalada. Os israelitas esquecem o mortífero ataque israelita que precedeu a barragem de fogo de Qassams. E, como não relacionam os Qassams de hoje com aqueles que foram mortos no começo da Intifada, isto é, aos passos de escalada que o exército deu há vários anos, não podem imaginar que resultado vai ter a interrupção do fornecimento de água devida aos cortes de energia e ao colapso do sistema de bombagem; o insulto que implica tratar apenas do frio e da comida. Por causa da amnésia, Israel não pensa no futuro nem nas atitudes palestinianas, pan-islâmicas, pan-árabes, e nas posições que estão a ser formuladas neste preciso momento e que acabarão por comprometer qualquer calma temporária.
A miopia dos que apoiam a escalada permite-lhes olharem para as emissões de televisão de Gaza – crianças a chorarem, porta-vozes a argumentarem ou a protestarem – e crerem que estes são sinais de a escalada estar a funcionar. Não vêem para lá do écran, Não vêem a ajuda mútua, a riqueza de recursos e o humor que as pessoas estão a mostrar, a teimosia e a pressão política e popular sobre o vizinho egípcio.
A desorientação leva os apoiantes da escalada a pensarem que Gaza é realmente uma região geografica e demograficamente separada, que não pertence de todo, nem o destino dos seus habitantes importa, aos palestinianos doutras áreas. A desorientação leva os israelitas a olharem a Linha Verde e a tratarem-na como sagrada apenas quando os palestinianos a atravessam e os atingem Esquecem que eles – isto é, nós, os israelitas – atravessamos a Linha Verde em qualquer momento: com colonatos e disparos, com flagelações, bombardeamentos e ordens militares. E isto começou muito antes de os palestinianos aprenderem a fabricar Qassams.
Tudo isto se relaciona com as incapacidades de aprendizagem. A escalada, segundo pensam os seus apoiantes, vai criar pressão popular sobre o governo do Hamas. Mas os palestinianos não esquecem que as várias formas de cerco e de encerramento, atrição económica, expropriação de terras e arrastar de pés nas negociações, testemunha um falhanço da Autoridade Palestiniana e do seu presidente eleito, Mahmoud Abbas, muito mais do que o fazem sobre o falhanço do Hamas.
Aqueles que defendem a escalada ignoram o facto de encerramentos herméticos de todas as frotneiras de Gaza recordarem ao mundo o que ele adora esquecer: que Israel é o ocupante. O agressor. O incapaz de aprender e o míope que não vê a bancarrota moral – não apenas securitária – da política de escalada. Outros o farão em seu lugar.
A par do “Apelo Consolidado” para reunir 462 milhões de dólares para a população palestiniana, a ONU vai publicar na 3ª feira um relatório especialmente pessimista sobre o ano de 2007 nos territórios ocupados.
Entre as constatações desse relatório, incluem-se as seguintes:
Apesar das promessas de que seriam reduzidas, as barreiras físicas na Cisjordânia aumentaram de 528 para 563.
Vivem abaixo do limiar de pobreza 49% das famílias palestinianas na Cisjordânia e 79% na Faixa de Gaza.
Sofrem de “insegurança alimentar” 34% dos palestinianos (ou seja, vivem em famílias com um rendimento e um consumo inferiores a 1,6 dólar por dia).
O abastecimento de água no ano passado caíu para 75 litros/pessoa na Faixa e para 80,5 litros na Cisjordânia, aproximadamente metade do padrão internacional.
Uns 10.000 palestinianos que vivem nos enclaves a ocidente do Muro da Cisjordânia encontram-se privados de serviços essenciais de saúde e educação e de rede sociais e familiares.
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Aqueles que sustentam que o muro salva vidas humanas ficarão contentes por ler no novo relatório que neste último ano houve uma quebra no número de baixas dos dois lados.
De Janeiro a Setembro de 2007, foram mortos 269 palestinianos pelo exército israelita, incluindo 38 crianças, contra 464 mortos no mesmo período de 2006. O número de feridos também baixou de 2.450 para 1.428. O número de baixas israelitas caíu de 22 mortos e 316 feridos para oito mortos e 279 feridos.
Por outro lado, houve um aumento dramático no número de mortos e feridos em resultado da violência inter-palestiniana, principalmente na Faixa de Gaza: 439 mortos, contra 70, e 2.315 feridos contra 374 em 2006.
As barreiras nas estradas e o muro têm, evidentemente, o seu reverso. O relatório observa que quase todos os obstáculos para criar um regime de movimentos limitados se situam ao longo de uma extensa rede de estrada reservada principalmente aos residentes israelitas. Isto resulta do facto de 40% da Cisjordânia estar coberta de colonatos, assentamentos, infraestruturas militares, reservas naturais e áreas fechadas a ocidente do muro. Mesmo o trajecto do muro foi ajustado para satisfazer as necessidades dos residentes locais.
Segundo os números, cerca de 10.000 palestinianos que vivem em enclaves a ocidente do muro estão privados de serviços de saúde e educação e de redes sociais e familiares. Grande número de palestinianos, principalmente agricultores, que vivem a oriente do muro, precisam de “autorizações de visitantes” para chegarem ás suas terras, fontes de água e outros recursos na área encerrada.
Um inquérito realizado a 67 comunidades afectadas pelo muro ao Norte da Samaria apurou que 20% dos que têm trabalhado na terra ao longo da linha detêm agora essas autorizações. O regime de movimentos limitados e o muro estão a causar a ruptura dos mercados, um aumento dos custos de transporte e ameaça as economias do sector agrícola.
Segundo o relatório, 34% dos palestinianos sofrem de “insegurança alimentar” (quando as famílias têm um consumo e rendimento de 1,6 dólares por dia). Isto não toma em conta a última fase da crise, que ainda terá de entrar no relatório: a agência de assitência da ONU refere que 57.5% dos bébés até 36 meses de idade e 44,9% das mulheres grávidas na Faixa de Gaza (na Cisjordânia , 37.1% dos bébés e 31.1% das grávidas) sofrem de anemia devido à falta de ferro. O acesso a cuidados médicos, especialmente a ecografias, é afectado pelas greves dos trabalhadores da saúde, pelas limitações à livre circulação e pela degradação da situação económica.
(…) Cerca de dois terços dos palestinianos não estão ligados à rede de saneamento básico e 70 a 80% da água usada em suas casas é despejada sem tratamento para as zonas circundantes.
Até meados de Setembro, foram despedidos do sector privado na Faixa de Gaza 75.000 trabalhadores, na sequ~encia da recusa do governo de Israel em permitir a importação de matérias-primas (as manufacturas de Gaza dependem em 95% da importação de matérias-primas). Os prejuízos acumulados totalizavam cerca de 50 milhões de dólares. Assim, metade das famílias na Cisjordânia e 80% na Faixa de Gaza vivem abaixo do limiar de pobreza e dependem de agências como o Programa Alimentar Mundial e a Agência de Assistência da ONU.
A continuação do encerramento das fronteiras externas de Gaza irá intensificar a dependência em relação a essas organizações. Em meados de 2007 a taxa-record de desemprego na Cisjordânia atingia 32,3% (os números são incompletos, porque muita gente deixou de procurar emprego).
Neste ano houve um agravamento do abandono escolar, especialmente entre os jovens e as jovens do secundário. Há uma presença decrescente de raparigas nas salas de aulas e o rendimento escolar dos estudantes está em queda. Segundo uma estimativa de uma agência da ONU, chumbaram 80% dos estudantes das classes quatro a nove na Faixa de Gaza, 90% dos estudantes do nono ano chumbaram num teste de matemática elementar, 53,3% das mães da Cisjordânia e 48,5% na Faixa de Gaza queixaram-se de violências sofridas pelos seus filhos durante o ano de 2005.
Ao mesmo tempo que Gaza mergulha na escuridão devido ao corte de energia, vozes no terreno advertem sobre a iminência de uma crise humanitária. Um palestiniano de Gaza afirmou que as medidas de castigo colectivo reforçam a solidariedade entre os palestinianos.
Extensas áreas da Faixa de Gaza mergulharam na escuridão no domingo à noite, quando a central eléctrica foi obrigada a parar as suas turbinas depois de Israel ter cortado o fornecimento de combustível à Faixa. Muitos habitantes de Gaza receiam agora que esteja iminente uma crise humanitária, apesar das afirmações de Israel segundo as quais 70% da energia ainda está a ser fornecida por uma central israelita.
Os hospitais na Faixa já anunciaram o cancelamento de todas as operações marcadas para os próximos dias. Funcionários dos serviços de Saúde receiam que equipamentos médicos, tais como máquinas de diálise e de respiração, possam avariar-se. Segundo o Ministério da Saúde palestiniano, 10 minutos sem electricidade podem causar a morte de dezenas de pacientes.
Residentes da Faixa de Gaza receavam também a crise sanitária no caso de as bombas de elevação pararem de funcionar. Além disso, algumas fontes na Faixa entendiam que a maioria das fábricas começaria a ficar paralizada a partir de 2ª feira.
Estava previsto que milhares de habitantes de Gaza participassem numa “manifestação de velas” na noite de domingo, vindo para a rua com velas nas mãos em protesto contra o corte de energia. A imprensa da Faixa, especialmente aquela ligada ao Hamas, tem durante o dia instado as organizações internacionais e o mundo árabe a intervirem.
A United National Relief and Works Agency (UNRWA) anunciou recentemente que a ajuda humanitária tem sido impedida de passar para a Faixa de Gaza desde que foram encerradas as fronteiras.
O encerramento da central eléctrica “vai ter um impacto significativo na vida quotidiana de centenas de milhares de pessoas em Gaza”, segundo, o porta-voz da UNRWA Christopher Gunness, cujos envios de ajuda humanitária têm voltado para trás.
“O corte de energia em Gaza não vai atingir o Hamas, pelo contrário, vai reforçar as organizações islâmicas, de modo que mesmo palestinianos seculares, que habitualmente apoiavam a Fatah, vão simpatizar com o Hamas”, disse à Ynet Youssef Khatib, um funcionário da região de Khan Younis.
“A política israelita de castigo colectivo não vai dar resultado. Não sou um homem do Hamas, mas digo aos meus filhos que o corte de energia é o resultado da guerra de Israel contra nós”, acrescentou.
Segundo Khatib, as sanções israelitas reforçaram a solidariedade entre os palestinianos, “O povo palestiniano une-se nestes momentos difíceis. Embora exista em Gaza a divisão interna, a ajuda mútua está a intensificar-se”.
Israel endureceu hoje o bloqueio à Faixa de Gaza controlada pelo Hamas em resposta aos disparos de morteiro do outro lado da fronteira e passou a impedir mesmo os fornecimentos humanitários de entrarem, segundo funcionários.
A decisão veio depois de Israel anunciar um alargamento da sua campanha militar contra os combatentes de Gaza que dispararam mais de 110 morteiros contra o Sul de Israel nos últimos três dias.
Um míssil israelita matou hoje de manhã pelo menos um militante no Norte de Gaza. Na cidade cisjordana de Nablus, tropas israelitas mataram um militante ligado ao movimento Fatah, do presidente palestiniano Mahmoud Abbas.
A escalada da violência levou o governo de Abbas na Margem Ocidental, apoiado pelo ocidente, a avisar que estavam em perigo novas conversações de paz, iniciadas na semana passada com a visita do presidente do EUA, George W. Bush.
A agência da ONU para assistência (UNRWA), que fornece comida aos refugiados palestinianos em Gaza, disse que não foi autorizada a entregar camiões de fornecimentos humanitários na 6ª feira de manhã, como habitualmente faz.
"Gaza está completamente fechada. Isto só vai agravar uma situação já de si dramática" afirmou o porta-voz da UNRWA, Christopher Gunness.
Israel já impôs uma redução drástica na entrega a Gaza de bens não-humanitários desde Junho, quando os islamitas do Hamas tomaram o controlo do território costeiro, depois de afastarem a facção secular da Fatah, de Abbas.