Ronnie Kasrils, judeu sul-africano, militante anti-apartheid, hoje ministro, relatando ao jornalista israelita Gideon Levy as impressões da sua visita à Palestina: “A ocupação recorda-me os piores dias do apartheid, mas nós nunca vimos tanques e aviões a dispararem contra a população civil. É uma monstuosidade como não vi nunca. O muro que vocês construíram, os checkpoints e as estradas só para judeus – isto dá-nos volta ao estômago”. E prossegue, recordando a história da cooperação entre Israel e a África do Sul racista, ao nível da marinha de guerra, das armas nucleares e num outro episódio altamente simbólico: “O primeiro-ministro Johannes Vorster, que tinha assumidamente um passado nazi, foi recebido por vós com boas-vindas dignas dum herói”.
Uri Avneri: “Todos os regimes coloniais na história disseram o mesmo. Nenhum governante estrangeiro, quando confrontado com um levantamento do povo oprimido, alguma vez reconheceu o inimigo como combatente legítimo”.
Segundo as organizações de direitos humanos israelitas B’Tselem e ACRI (Associação para os Direitos Civis”), o centro da cidade palestiniana de Hebron foi reduzido a uma cidade-fantasma. Na verdade, quase metade (42%) das habitações palestinianas no centro da cidade e mais de metade das lojas palestinianas (62%) foram abandonadas nos últimos anos, a grande maioria desde o início da Intifada de Al Acqsa. A população tem vindo a ser afugentada pela permanente violência exercida por uma minoria de colonos, que retira toda a sua força do apoio prestado pelo exército. Segundo as duas organizações, os colonos agridem os palestinianos, espancam-nos com bastões, apedrejam-nos, envenenam-lhes os poços. O exército, por seu lado, impõe aos palestinianos sucessivos recolheres obrigatórios: nos primeiros três anos da Intifada, houve 377 de recolher obrigatório.
Uma lei aprovada no Knesset, reserva a judeus a compra de terras do Estado que provenham do Fundo Nacional Judeu. Mesmo os cidadãos árabes israelitas ficaram impedidos de comprá-las. O partido israelita Meretz comentou: “O Knesset está a dar uma excelente desculpa a quem quer representar Israel como um Estado de apartheid que precisa de ser destruído”. O editorial do diário liberal “Haaretz” protestou também: “O Estado de Israel já foi estabelecido e estas terras devem agora servir a todos os seus cidadãos”
Dos 164 colonatos, assentamentos e áreas industriais da Margem Ocidental, 92 beneficiaram de autorizações para a sua expansão desde os acordos de Oslo, de 1993. Numa década, o número de colonos passou de 100.000 a 200.000. Oslo proibia a expansão dos colonatos.
Segundo um relatório do movimento “Paz Agora”, “o Estado reserva grandes extensões para os colonatos, sem qualquer proporção com o seu tamanho, com o objectivo de impedir a construção palestiniana nessas áreas. E, quando uma área é fechada aos palestinianos, os colonos começam a ocupar terras palestinianas adjacentes, muitas vezes propriedades privadas, que estão fora da sua jurisidição”. Dos terrenos atribuídos aos colonatos, apenas 12% são utilizados.
Menachem Livni é um colono judeu e um caso raro de réu condenado a prisão perpétua por ter assassinado a tiro, por puro terrorismo, um palestiniano que conduzia um camião. Depois de cumprir sete anos de pena, foi indultado. Em 2007 foi autorizado pelo Tribunal de Justiça israelita a andar armado novamente, com uma espingarda M-16. Um juiz do Supremo Tribunal de Justiça manifestou o seu desconforto, mas nada mudou.
Bradley Burston: “E se houvesse uma nação que negasse o Holocausto tão eficazmente que (...) centenas de milhares de sobreviventes idosos lá vivessem como cidadãos de pleno direito, e no entanto um em cada três desses sobreviventes vivesse na pobreza, sem poder comprar comida aceitável, sem abrigo, aquecimento ou cuidados médicos? E se essa nação negasse o Holocausto a tal ponto que alguns sobreviventes desesperados de origem alemã apenas conseguissem receber cuidados de saúde voltando para viver na Alemanha? As organizações judaicas de todo o mundo denunciariam o governo dessa nação como obscenamente insensível, como um insulto à memória de seis milhões que pereceram no genocídio nazi. A não ser que os criminosos fôssemos nós”.
O Estado de Israel apresenta geralmente o sofrimento dos judeus sob o nazismo como uma justificação para as suas acções contra os palestinianos. Mas, quando se trata de entregar aos judeus sobreviventes do Holocausto o que lhes pertence por direito, o seu empenhamento cai drasticamente. A “Conferência de Reivinidcações Materiais Judaicas Contra a Alemanha” entrega anualmente 50 milhões de dólares a organizações israelitas. Menos de metade desse dinheiro é directamente utilizado no apoio a sobreviventes. A outra metade, ou mais, é aplicada na construção de edifícios, e especialmente na ampliação de hospitais - obras que competiria ao Estado realizar. Existem hoje em Israel 170.000 sobreviventes que não recebem qualquer ajuda daquele organismo, dos quais 60.000 em situação difícil.