(…) Os israelitas pensam que enganam o mundo, mas estão a enganar-se a si próprios. Os assentamentos [em inglês: outposts] são a essência do bluff israelita. Faz agora 40 anos que Israel começou a criar colonatos enquanto fingia que preparava a retirada dos territórios em qualquer momento, assim que se desenvolvesse uma oportunidade de paz. Pelas suas próprias mãos, Israel tem estado a tornar irrelevante a solução dos dois Estados, ao mesmo tempo que proclama aos quatro ventos que essa é a única solução possível. Quando, na 2ª feira passada, a ministra dos Negócios Estrangeiros Tzipi Livni disse, na sua primeira (!) visita à Margem Ocidental do Jordão que “não pode haver hesitações” na forma de lidar com os assentamentos, o brigadeiro-general Yoav Mordechai explicou-lhe que já existem 89 assentamentos na Cisjordânia, como se Livni fosse uma visitante doutro planeta, e não uma participante neste desastre nacional.
O presidente dos EUA também é cúmplice. Por isso, a declaração do primeiro-ministro Ehud Olmert, de que vai tratar de acabar com os assentamentos, tal como prometeu ao presidente George W. Bush, equivale a palavras vazias. Os EUA não estão a exigir seriamente a eliminação dos assentamentos – porque se alguma vez tivessem apresentado inequivocamente esse exigência, os assentamentos há muito teriam deixado de existir.
O termo “assentamentos” dá corpo a uma mudança na percepção que os colonos têm da sua luta por um Israel maior. Ao passo que no passado eles tentavam atrar tantas pessoas quantas possíveis para a Margem Ocidental e para a Faixa de Gaza, de modo a derrotar demograficamente os palestinianos, em algum momento eles decidiram que era mais fácil ganhar o controlo do território fisicamente, palm o a palmo. Adegas, quintas, pastagens, zonas industriais, academias pré-militares, yeshivas [escolas religiosas] e assentamentos, tudo isto junto contém a ideia de tomar o território ignorando inteiramente o factor demográfico. Ariel Sharon e Ze'ev Hever (Zambish) incitaram os colonos a tomarem o topo dos montes durante o período do Acordo de Wye, e anteriores chefes de Estado-Maior comoShaul Mofaz e Moshe Ya'alon, tal como os antigos comandantes operacionais Moshe Kaplinsky e Yitzhak Eitan, advogaram a criação de assentamentos e combateram a sua evacuação. Todos estes funcionários e muitos outros não escaparão à comissão de investigação da História quando alguém tentar documentar que Israel perdeu a sua maioria judaica, e como foi forçado pela pressão internacional a mudar de Estado dos Judeus para Estado de todos os seus cidadãos, estendendo-se do rio Jordão ao mar Mediterrrâneo.
A vista de Bush a Israel e as conversações de Olmert com o presidente palestiniano Mahmoud Abbas serão irrelevantes enquanto os factos no terreno – os assentamentos que continuam a expandir-se – mostrarem claramente como falta seriedade às declarações do governo israelita e em que medida a Administração norte-americana está a colaborar com ele.
* Título da redacção deste blog, para excertos do editorial do diário Haaretz, 8.01.08