A par do “Apelo Consolidado” para reunir 462 milhões de dólares para a população palestiniana, a ONU vai publicar na 3ª feira um relatório especialmente pessimista sobre o ano de 2007 nos territórios ocupados.
Entre as constatações desse relatório, incluem-se as seguintes:
Apesar das promessas de que seriam reduzidas, as barreiras físicas na Cisjordânia aumentaram de 528 para 563.
Vivem abaixo do limiar de pobreza 49% das famílias palestinianas na Cisjordânia e 79% na Faixa de Gaza.
Sofrem de “insegurança alimentar” 34% dos palestinianos (ou seja, vivem em famílias com um rendimento e um consumo inferiores a 1,6 dólar por dia).
O abastecimento de água no ano passado caíu para 75 litros/pessoa na Faixa e para 80,5 litros na Cisjordânia, aproximadamente metade do padrão internacional.
Uns 10.000 palestinianos que vivem nos enclaves a ocidente do Muro da Cisjordânia encontram-se privados de serviços essenciais de saúde e educação e de rede sociais e familiares.
(...)
Aqueles que sustentam que o muro salva vidas humanas ficarão contentes por ler no novo relatório que neste último ano houve uma quebra no número de baixas dos dois lados.
De Janeiro a Setembro de 2007, foram mortos 269 palestinianos pelo exército israelita, incluindo 38 crianças, contra 464 mortos no mesmo período de 2006. O número de feridos também baixou de 2.450 para 1.428. O número de baixas israelitas caíu de 22 mortos e 316 feridos para oito mortos e 279 feridos.
Por outro lado, houve um aumento dramático no número de mortos e feridos em resultado da violência inter-palestiniana, principalmente na Faixa de Gaza: 439 mortos, contra 70, e 2.315 feridos contra 374 em 2006.
As barreiras nas estradas e o muro têm, evidentemente, o seu reverso. O relatório observa que quase todos os obstáculos para criar um regime de movimentos limitados se situam ao longo de uma extensa rede de estrada reservada principalmente aos residentes israelitas. Isto resulta do facto de 40% da Cisjordânia estar coberta de colonatos, assentamentos, infraestruturas militares, reservas naturais e áreas fechadas a ocidente do muro. Mesmo o trajecto do muro foi ajustado para satisfazer as necessidades dos residentes locais.
Segundo os números, cerca de 10.000 palestinianos que vivem em enclaves a ocidente do muro estão privados de serviços de saúde e educação e de redes sociais e familiares. Grande número de palestinianos, principalmente agricultores, que vivem a oriente do muro, precisam de “autorizações de visitantes” para chegarem ás suas terras, fontes de água e outros recursos na área encerrada.
Um inquérito realizado a 67 comunidades afectadas pelo muro ao Norte da Samaria apurou que 20% dos que têm trabalhado na terra ao longo da linha detêm agora essas autorizações. O regime de movimentos limitados e o muro estão a causar a ruptura dos mercados, um aumento dos custos de transporte e ameaça as economias do sector agrícola.
Segundo o relatório, 34% dos palestinianos sofrem de “insegurança alimentar” (quando as famílias têm um consumo e rendimento de 1,6 dólares por dia). Isto não toma em conta a última fase da crise, que ainda terá de entrar no relatório: a agência de assitência da ONU refere que 57.5% dos bébés até 36 meses de idade e 44,9% das mulheres grávidas na Faixa de Gaza (na Cisjordânia , 37.1% dos bébés e 31.1% das grávidas) sofrem de anemia devido à falta de ferro. O acesso a cuidados médicos, especialmente a ecografias, é afectado pelas greves dos trabalhadores da saúde, pelas limitações à livre circulação e pela degradação da situação económica.
(…) Cerca de dois terços dos palestinianos não estão ligados à rede de saneamento básico e 70 a 80% da água usada em suas casas é despejada sem tratamento para as zonas circundantes.
Até meados de Setembro, foram despedidos do sector privado na Faixa de Gaza 75.000 trabalhadores, na sequ~encia da recusa do governo de Israel em permitir a importação de matérias-primas (as manufacturas de Gaza dependem em 95% da importação de matérias-primas). Os prejuízos acumulados totalizavam cerca de 50 milhões de dólares. Assim, metade das famílias na Cisjordânia e 80% na Faixa de Gaza vivem abaixo do limiar de pobreza e dependem de agências como o Programa Alimentar Mundial e a Agência de Assistência da ONU.
A continuação do encerramento das fronteiras externas de Gaza irá intensificar a dependência em relação a essas organizações. Em meados de 2007 a taxa-record de desemprego na Cisjordânia atingia 32,3% (os números são incompletos, porque muita gente deixou de procurar emprego).
Neste ano houve um agravamento do abandono escolar, especialmente entre os jovens e as jovens do secundário. Há uma presença decrescente de raparigas nas salas de aulas e o rendimento escolar dos estudantes está em queda. Segundo uma estimativa de uma agência da ONU, chumbaram 80% dos estudantes das classes quatro a nove na Faixa de Gaza, 90% dos estudantes do nono ano chumbaram num teste de matemática elementar, 53,3% das mães da Cisjordânia e 48,5% na Faixa de Gaza queixaram-se de violências sofridas pelos seus filhos durante o ano de 2005.