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SOLIDARIEDADE COM A PALESTINA

Informação sobre a ocupação israelita, a resistência palestiniana e a solidariedade internacional *** email: comitepalestina@bdsportugal.org

SOLIDARIEDADE COM A PALESTINA

Informação sobre a ocupação israelita, a resistência palestiniana e a solidariedade internacional *** email: comitepalestina@bdsportugal.org

Rabino de Safed propõe enforcar filhos de "terrorista" palestiniano

O rabino principal de Safed, Shmuel Elyahu, escreveu na sua newsletter: "É tempo de chamar os bois pelos nomes: vingança, vingança, vingança. Não podemos esquecer. Temos de exercer uma vingança horrível pelo ataque terrorista contra a yeshiva de Mercaz Harav".

E acrescentou, no mesmo texto: "Não falo de pessoas individuas, falo do Estado (...) Tem de fazer-lhes doer até ao ponto de gritarem 'Basta', até ao ponto de caírem de bruços e gritarem 'Socorro!' Não para satisfazermos o nosso desejo de vingança, mas em prol da dissuasão". E conclui propondo "enforcar numa árvore os filhos do terrorista que levou a cabo o ataque à yeshiva de Mercaz Harav".

O Centro Musawa para Direitos Árabes apresentou uma queixa ao procurador-geral, considerando que "apelos à tortura e à vingança contra os árabes são um incitamento ao racismo e à violência". Outras vozes da sociedade israelita levantaram-se também contra os incitamentos do rabino de Safed.

Fonte: http://www.haaretz.com/hasen/spages/968729.html

Censura no país da "liberdade"

REUTERS, Paris, 24.3.2008

    

Um subchefe da polícia foi demitido pelo governo Sarkosy por ter escrito num site da internet “uma tribuna anti-israelita”.

« Não sou violentamente anti-israelita, isso não quer dizer nada”, declarou Bruno Guigue ao Parisien. “Apenas penso que a paz no Médio-Oriente passa pela aplicação do direito internacional. Isso é um delito?”

Bruno Guigue, subchefe de polícia de Saintes (Charente-Maritime) foi demitido na passada quarta-feira pela ministra Michèle Alliot-Marie, mas a informação só foi tornada pública no sábado. A sanção, bastante rara, foi decidida logo após a ministra do Interior ter tido conhecimento do artigo. Nesse texto, Bruno Guigue critica os Estados Unidos e Israel, « único Estado no mundo cujos snipers abatem as garotas à saída das escolas”. Guigue, que estava em funções apenas desde Setembro, escreveu vários livros sobre o conflito israelo-árabe e publica regularmente análises.

"Cheguei, vi e destruí!"

Por Uri Avneri*

Os eventos da semana apontam para a resposta: quem toma todas as decisões é Ehud Barak, o homem mais perigoso que há em Israel, o mesmo Barak que detonou a conferência de Camp David e persuadiu toda a opinião pública israelita de que "não temos parceiros para negociar a paz".

 

O que aconteceu esta semana é tão revoltante, tão descabido, indigna tanto e enfurece de tal modo, que se destaca até na paisagem a que estamos acostumados, da irresponsabilidade do governo de Israel.

 

No horizonte próximo, uma suspensão de facto das hostilidades estava a tomar forma. Os egípcios fizeram esforços imensos para que se chegasse a um cessar-fogo oficial. A temperatura do conflito baixava visivelmente. O número de foguetes Qassams e Grads disparados da Faixa de Gaza sobre Israel já diminuíra, de dúzias por dia, para dois ou três.

 

E então aconteceu algo que reavivou o fogaréu: soldados da segurança interna de Israel, operando sob disfarce, assassinaram quatro militantes palestinos em Belém. Um quinto foi assassinado numa vila próxima de Tulkarm.

 

O modus operandi não deixa dúvidas quanto à intenção.

 

Como sempre, a versão oficial mentiu. (Quando o porta-voz do exército diz a verdade, ele fala rápido, de tão envergonhado, e logo pula para a frase e mentira seguintes.) Os quatro, dizia a versão oficial, puxaram das armas e ameaçaram a vida dos soldados que só queriam prendê-los, mas foram obrigados a abrir fogo.

 

Qualquer um, com meio cérebro, sabe que é mentira. Os quatro estavam num carro pequeno, na rua principal de Belém, a estrada que ligava Jerusalém e Hebron desde o tempo dos britânicos (ou turcos). Estavam armados, mas não tiveram tempo para sacar as armas. O carro foi atingido por dúzias de tiros; foi transformado numa peneira.

 

Não era, de modo algum, operação para prender alguém. Foi uma execução pura e simples, uma daquelas execuções sumárias nas quais o Shin Bet[1] é, ao mesmo tempo, o acusador, o juiz e o carrasco.

 

Desta vez, ninguém tentou sequer ‘argumentar' que os quatro se encaminhavam para algum atentado criminoso. Ninguém disse, por exemplo, que teriam tido algo a ver com os ataques da semana passada na escola Mercaz Harav, nave madrinha da esquadra dos colonos da ocupação. De facto, seria impossível tentar este tipo de mentira, porque o mais importante dos quatro palestinos assassinados disse recentemente, em entrevista aos jornais de Israel, que se apresentara para o "esquema do perdão" - programa do Shin Bet, pelo qual militantes "procurados" deporiam armas e comprometer-se-iam a não mais resistir à ocupação. E foi candidato, nas últimas eleições palestinianos.

 

Assim sendo, por que foram assassinados? O Shin Bet não escondeu o motivo: dois dos quatro participaram em acções armadas, em 2001, nas quais morreram israelitas.

 

"O nosso braço longo sempre os alcança, mesmo anos depois", Ehud Barak vociferou pela televisão, "pegaremos todos os que tenham as mãos tintas de sangue judeu".

 

Em palavras bem simples: o ministro da Defesa e os seus homens detonaram o cessar-fogo de hoje, para vingar um evento de sete anos atrás.

 

Era óbvio que a matança de militantes da Jihad Islâmica em Belém faria recomeçar a chuva de foguetes Qassam sobre Sderot. E aconteceu.

 

O efeito de um foguete Qassam é completamente imprevisível. Para os moradores de Sderot, é uma espécie de Roleta Israelita - o foguete pode cair em área não habitada, tanto quanto pode cair num prédio; vez ou outra há vítimas.

 

Noutras palavras - nas palavras do próprio Barak -, o governo de Israel arrisca hoje a vida de israelitas, para se vingar de gente que pode ter sido agente de ataques mortais há muitos anos e que, depois, pode nunca mais ter tido qualquer actividade armada.

 

A ênfase está sempre na palavra "judeu". Na sua fala, Barak tomou cuidado para não falar de mãos tintas de qualquer sangue; só falou dos que tivessem "as mãos tintas de sangue judeu". O sangue judeu, como se sabe, é diferente de outros sangues.

 

De facto, não há ninguém, de entre os líderes de Israel hoje, que tenha tanto sangue nas mãos, quanto Barak. Não algum sangue abstracto, metafórico, mas o muito real sangue humano, vermelho. Ao longo do tempo em que serviu como militar activo, Barak assassinou pessoalmente muitos árabes. Quem lhe apertar a mão - de Condoleezza Rice à convidada de honra desta semana, Angela Merkel - apertará mão, sim, tinta de sangue.

 

Os assassinatos de Belém levantam várias questões complexas, as quais, contudo, com raras excepções, não apareceram em nenhum jornal. Os jornais esqueceram o seu dever e a sua missão, como sempre, quando se trata de "questões de segurança".

 

Jornalistas de verdade, num Estado democrático de verdade teriam proposto, pelo menos, as seguintes questões:

 

Quem ordenou as execuções em Belém - Ehud Olmert? Ehud Barak? A Shin Bet? Todos? Nenhum deles?

 

Os tomadores da decisão entendem que, ao condenar à morte aqueles militantes em Belém, também condenam à morte os moradores de Sderot ou Ashkelon que podem ser mortos pelos foguetes disparados como ‘resposta'?

 

Será que entendem que estão a atropelar também Mahmoud Abbas, cujas forças de segurança (que, em teoria, são encarregadas da área de Belém) serão acusadas de colaborar com o esquadrão-da-morte israelita?

 

O objectivo final da acção foi impossibilitar o cessar-fogo que já estava vigente na Faixa de Gaza (embora tenha sido oficialmente negado tanto por Olmert quanto por Barak, mesmo perante o fato de que o número de foguetes caíra, de dúzias por dia, para apenas dois ou três)?

 

O governo de Israel não concorda com o cessar-fogo, que livrará Sderot e Ashkelon da ameaça dos foguetes? Se não concorda, por que não concorda?

 

A imprensa não exigiu que Olmert e Barak expusessem à opinião pública as razões que os moveram a decidir pelos assassinatos - numa decisão que diz respeito a todos que vivem em Israel. Nem se esperava que exigisse.

 

Afinal, é a mesma imprensa que dançou de alegria quando o mesmo governo iniciou uma guerra mal pensada, leviana, no Líbano. É a mesma imprensa que se manteve calada, esta semana, quando o mesmo governo decidiu atirar também contra a liberdade de imprensa, e determinou o boicote à Rede Al-Jazeera de Televisão, como castigo por ter mostrado os bebés assassinados na mais recente incursão do exército israelita em Gaza.

 

Excepto dois ou três jornalistas corajosos, com mente independente, toda a imprensa escrita e televisionada marcha sempre unida, como regimento prussiano em desfile militar, quando se menciona a palavra "segurança".

 

(Este fenómeno foi exposto esta semana, no jornal CounterPunch, por Yonatan Mendel[2], jornalista que já trabalhou no Walla, website muito popular em Israel. Ele observa que toda a média, dos noticiários do Canal 1 às páginas de notícias do Haaretz usam sempre as mesmas palavras, como se todos obedecessem ao mesmo chefe: o exército de Israel "confirma"; os palestinianos "alegam". Os judeus "são assassinados" e os palestinianos "morrem". Os judeus são "sequestrados" e os árabes são "capturados". O exército de Israel "reage" e os palestinianos "atacam". Os judeus são "soldados" e os árabes são "terroristas" ou "assassinos". O exército de Israel sempre encontra e mata "terroristas do alto comando terrorista", nunca soldados rasos. Homens e mulheres mostrados em estado de choque são sempre "judeus", nunca "árabes". E, como já observámos aqui, só árabes têm "mãos tintas de sangue"; nenhum judeu jamais, nunca, teve ou terá "mãos tintas de sangue". E a mesma toada, aliás, repete-se na cobertura internacional do que acontece em Israel e na Palestina.)

 

Se o governo não expõe com clareza as suas intenções e motivos, só resta deduzi-los a partir das acções do mesmo governo. É a regra da dedução jurídica: se alguém faz alguma coisa com resultado facilmente previsível, assume-se que fez para obter aquele resultado.

 

O governo que ordenou a matança em Belém visava, sem dúvida alguma, torpedear o cessar-fogo.

 

Por que torpedear o cessar-fogo?

 

Há vários tipos possíveis de cessar-fogo. O mais simples é fazer cessar as hostilidades na fronteira da Faixa de Gaza. Nem Qassams, Grads e morteiros de um lado; nem assassinatos selectivos, bombardeio, tanques e incursões do outro lado.

 

Sabe-se que o exército não concorda com isto. Querem ser deixados livres para "liquidar" por ar, por terra e por mar. Querem um cessar-fogo de um só lado.

 

Um cessar-fogo ‘parcial' é impensável. O Hamas jamais concordará, enquanto o bloqueio cortar e recortar a Faixa de Gaza em mil direcções e fizer da vida, ali, um inferno - faltam remédios, falta comida, os doentes graves não conseguem chegar aos hospitais, os carros não andam, presos em engarrafamentos perpétuos, nada se importa e nada se exporta, nada se produz, não há comércio. Libertar todos os bloqueios de fronteira para o trânsito de pessoas e produtos é, portanto, parte essencial do cessar-fogo.

 

O governo de Israel não quer fazer isto, porque isto significaria consolidar o poder do governo do Hamas na Faixa de Gaza. Fontes israelitas deixam ‘vazar' opiniões, segundo as quais Abbas e o seu grupo em Ramallah também se opõem ao fim do bloqueio - boato mal-intencionado, porque significaria que Abbas estaria a fazer guerra contra o seu próprio povo. O presidente Bush também rejeita o cessar-fogo, por mais que os porta-vozes digam o contrário. E a Europa, como sempre, acompanha o voto dos EUA.

 

O Hamas concordaria com um cessar-fogo que se aplicasse só à Faixa de Gaza, mas não à Cisjordânia? É pouco provável. Esta semana ficou provado que a Jihad Islâmica activa em Gaza não poderá ser contida, se os seus militantes são assassinados em Belém.

 

O Hamas não aceitará gozar alguma paz em Gaza, gozando os benefícios de ‘ser governo', se o exército de Israel estiver a matar militantes do Hamas em Nablus ou Jenin. E nenhum palestiniano, é claro, aceitará que a Faixa de Gaza e a Cisjordânia sejam fixadas como entidades separadas.

 

Um cessar-fogo local, só em Gaza criará condições para que Barak o ignore a qualquer momento, com alguma provocação como a que houve em Belém. O que acontecerá, já aconteceu várias vezes: o Hamas aceita um cessar-fogo só em Gaza; o exército de Israel mata uma dúzia de militantes do Hamas em Hebron; o Hamas responde com mísseis Grad em Ashkelon; e Olmert diz ao mundo: "Estão a ver? Os terroristas do Hamas violaram o cessar-fogo. Está provado que não temos parceiros!"

 

Tudo isto implica dizer que um cessar-fogo efectivo e duradouro, que criará a atmosfera necessária para verdadeiras negociações de paz, tem de incluir a Cisjordânia. Olmert-Barak jamais concordarão com isto. E enquanto George Bush estiver no circuito, não haverá pressão efectiva sobre o governo de Israel, na direcção da paz.

 

A propósito: Quem está no comando, em Israel, actualmente?

 

Os eventos desta semana apontam para a resposta: quem toma todas as decisões é Ehud Barak, o homem mais perigoso que há em Israel, o mesmo Barak que detonou a conferência de Camp David e persuadiu toda a opinião pública israelita de que "não temos parceiros para negociar a paz".

 

Há 2052 anos, na altura do ano em que estamos hoje, nos "idos de Março", Júlio César foi assassinado. Ehud Barak vê-se, ele mesmo, como uma versão local, última moda, a réplica daquele general romano. Como o romano, Barak gostaria muitíssimo de relatar: "Cheguei, vi e venci." A realidade, contudo é muito diferente. Barak chegou, viu e destruiu.

* Uri Avnery, 85 anos, é membro fundador do Gush Shalom (Bloco da Paz israelense). Em adolescente, Avnery foi combatente na organização sionista Irgun e mais tarde soldado no exército israelita. Foi três vezes deputado no Knesset (parlamento). Foi o primeiro israelita a estabelecer contacto com a liderança da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) em 1974. Foi durante quarenta anos editor chefe da revista noticiosa Ha'olam Haze. É autor de numerosos livros sobre a ocupação israelita da Palestina, incluindo My Friend, the Enemy (Meu amigo, o inimigo) e Two People, Two States (Dois povos, dois Estados).
Artigo publicado em 15/3/2008 na página de Gush Shalom [Grupo da Paz], em http://zope.gush-shalom.org/home/en/channels/avnery/1205617159 Tradução do blog do Bourdoukan, adaptado para português de Portugal por Carlos Santos
 Fonte: www.esquerda.net

Os escritores israelitas no Salão do Livro de Paris: propagandistas oficiais

Os escritores que fazem parte da delegação oficial de Israel no Salão do Livro não se contentam em caucionar moral e intelectualmente as acções do seu governo; eles são também, contratualmente, os seus propagandistas patenteados. É o que afirma o jornalista israelita Benny Ziffer, numa entrevista recolhida pelo site literário www.nonfiction.fr.

Questionado sobre as razões que o conduziram a lançar uma petição pedindo o boicote, Ziffer, que é chefe de redacção do suplemento literário do jornal Haaretz, indica que o Estado israelita, para as manifestações que organiza – e é o caso para a vinda da delegação oficial – exige dos autores a assinatura de um contrato no qual estes últimos se comprometem a ser agentes de propaganda do governo. “Foi o que se passou com as Feiras do Livro de Paris e de Turim”, precisou.

“Está a falar a sério?”, pergunta-lhe então, incrédulo, o jornalista de nonfiction.fr, que conduz a entrevista.

“Absolutamente”, responde Ziffer. “O grande escritor Yehoshua Kenaz, por exemplo, não foi convidado a ir a França porque se recusou a assinar esse documento! Ora, a sua obra está amplamente traduzida em francês”.

Encontramo-nos portanto numa situação em que aqueles que nos dizem que não devemos confundir literatura e política, tais como o escritor Amos Oz, são os mesmos que tomaram o compromisso servil de não prejudicar o seu governo pela ocasião desta feira. É de notar que Ziffer declara que se deslocará mesmo assim ao Salão do Livro, mas para “contar o boicote”. Um gesto não desprovido de ambiguidade, na nossa opinião, mas que não tira nada à sua revelação sobre os contratos.

Fonte: CAPJPO-Europalestine http://www.europalestine.com

Mate 100 turcos, e descanse...

Por Uri Avnery*

Lembrei-me, esta semana, daquela velha história de uma mãe judia, separando-se do filho convocado para servir o exército do czar contra os turcos. "Não exija demais de você mesmo", aconselhava ao filho. "Mate um turco, e descanse. Mate outro turco, e descanse outra vez..."

"Mas, mãe", diz o filho, "E se o turco me matar?"

"Matar-te?", grita ela, indignada. "Por quê? Que mal lhe fizeste?!" 

Não é piada (e esta não é semana para piadas). Aí está uma lição de psicologia. Lembrei-me dela, ao ler que Ehud Olmert declarou que o que mais o enfureceu foi a explosão de alegria em Gaza, depois do ataque em Jerusalém, no qual foram mortos oito estudantes yeshiva.

Antes disto, na semana passada, o exército de Israel matara 120 palestinianos na Faixa de Gaza, metade dos quais civis, além de dúzias de crianças. Não foi "mate um turco, e descanse". Foi "mate 120 turcos, e descanse". Isto, Olmert não entende.

A GUERRA DOS CINCO DIAS em Gaza (como disse o líder do Hamas) foi mais um curto capítulo da luta entre israelitas e palestinianos. Este monstro sanguinário nunca está satisfeito. Quanto mais come, mais sente fome.

Este capítulo começou com o "assassinato selectivo" de cinco altos militantes, dentro da Faixa de Gaza. A "resposta" foi uma chuva de foguetes e, desta vez, não só sobre Sderot, mas também sobre Ashkelon e Netivot. A "resposta" à "resposta" foi a incursão pelo exército de Israel e a matança.

O objectivo declarado foi, como sempre, fazer parar os foguetes. O meio: matar o maior número possível de palestinianos, para dar-lhes uma lição. A decisão baseou-se num tradicional conceito vigente entre os israelitas: mate civis, mate e mate, até que os líderes caiam. Cem vezes Israel já tentou esta "solução"; cem vezes fracassou.

Como se faltasse algum exemplo da loucura dos que divulgam este conceito, lá estava, na televisão, o ex-general Matan Vilnai, para "declarar" que os palestinianos "trazem a Shoah para eles mesmos".

A palavra Shoah, em hebraico, só significa uma coisa, em todo o mundo, e só uma: é o holocausto dos judeus, pelos nazis. A frase de Vilnai incendiou o mundo árabe e provocou uma onda de choque. Também eu recebi dúzias de telefonemas e mensagens de e-mail, de todo o mundo. Como convencer as pessoas de que, no hebraico coloquial, na fala diária, Shoah significa "apenas" uma catástrofe, um grande desastre, e que o General Vilnai, que já foi candidato a presidente, nunca foi o mais inteligente dos homens?

Há alguns anos, o presidente Bush convocou uma "Cruzada" contra o terrorismo. Não sabia que, para centenas de milhões de árabes, a palavra "cruzada" evoca um dos maiores crimes jamais perpetrados na história humana, o horrendo massacre de muçulmanos (e judeus) pelos primeiros "cruzados", nas vielas de Jerusalém. Um concurso de inteligência, entre Bush e Vilnai, provavelmente, acabava empatado.

VILNAI NÃO ENTENDE o que significa a palavra Shoah para os diferentes dele; e Olmert não entende por que houve júbilo em Gaza depois do ataque à escola yeshiva, em Jerusalém. Sábios como estes dois dirigem o Estado, o governo e o exército. Sábios como estes dois controlam a opinião pública, porque controlam os média. O que há de comum entre todos estes sábios: a mesma insensibilidade, a mesma cegueira, que os impede de ver o que sentem os não-judeus, os não-israelitas. Desta cegueira nasce a incapacidade para entender a psicologia do outro lado; e, depois, tampouco entendem as consequências das suas palavras e actos.

A mesma cegueira explica a incapacidade para entender por que o Hamas se declarou vitorioso na Guerra dos Cinco Dias. Que vitória? Feitas as contas, morreram só dois soldados e um civil israelitas, e foram mortos 120 palestinianos, combatentes e civis.

Mas a batalha travou-se entre um dos mais poderosos exércitos do mundo, equipado com o armamento mais moderno que há no planeta, contra umas poucas centenas de combatentes de milícias, com armamento primitivo. A retirada - e este tipo de combate sempre termina em retirada - sempre é uma vitória para o lado mais fraco. Aconteceu na Segunda Guerra do Líbano e aconteceu na Guerra de Gaza.

(Binyamin Netanyahu é autor de uma das "declarações" mais estúpidas da semana; exigiu que o exército de Israel "esqueça os movimentos de atrito e decida o combate". Numa luta como esta, não há como decidir coisa alguma.)

O resultado real deste tipo de operação não se manifesta em números, em quantidades: tantos mortos, tantos feridos, tais e tais prédios destruídos. O resultado, aí, só tem expressão psicológica, resultados que não podem ser medidos e, portanto, são incompreensíveis para cabeças de generais: quanto ódio se acrescentou ao ódio existente, quantos novos homens-bomba surgiram, quantos mais juraram vingança e converteram-se em bombas vivas - como o jovem de Jerusalém que acordou uma manhã, esta semana, arranjou uma arma, andou até a escola Mercaz Harav yeshiva, aquele ninho de onde nascem todas as colónias e "assentamentos", e matou a maior quantidade de israelitas que conseguiu.

Agora, as lideranças políticas e militares de Israel reúnem-se para discutir o que fazer, como "responder". Não tiveram nem terão qualquer ideia nova, porque políticos e generais são incompetentes para gerar ideias novas. Só sabem repetir as ideias de sempre, o que já fizeram centenas de vezes, e fracassaram centenas de vezes e fracassarão sempre.

O PRIMEIRO PASSO para sair deste círculo de loucura é começar a questionar os conceitos e métodos que Israel tem usado nos últimos 60 anos. E recomeçar a pensar, do começo, desde o início.

Isto sempre é muito difícil. E é ainda mais difícil para Israel, porque as lideranças em Israel não têm liberdade para pensar - o pensamento, em Israel, está sempre amarrado ao que pensem os líderes norte-americanos.

Esta semana, foi publicado um documento chocante: o artigo de David Rose na Vanity Fair. Ali é contado como, nos últimos anos, funcionários dos EUA têm ditado cada passo de lideranças palestinianas, nos mínimos detalhes. Embora o artigo não toque nas relações EUA-Israel (uma omissão que, de fato, é surpreendente) sabe-se, mesmo que não se leia, que a acção norte-americana, nos mínimos detalhes, é coordenada com o governo de Israel.

Por que chocante? Em termos gerais, não há novidades, no artigo: (a) os norte-americanos mandaram que Mahmoud Abbas mantivesse as eleições parlamentares, para que Bush aparecesse como aquele que levou a democracia ao Oriente Médio. (b) O Hamas foi eleito - o que não se esperava que acontecesse. (c) Os americanos impuseram um boicote aos palestinianos, para ‘desconstruir' o resultado das eleições. (d) Abbas afastou-se um passo da política que lhe foi ordenada, sob auspícios (e pressão) da Arábia Saudita; e fez um acordo como o Hamas. (e) Os americanos cortaram-lhe as asas e obrigaram Abbas a entregar todos os serviços de segurança a Muhammad Dahlan, escolhido pelos norte-americanos para o papel de homem-forte na Palestina. (f) Os americanos deram armas e dinheiro a Dahlan, treinaram os seus homens e ordenaram que criasse um golpe militar contra o Hamas na Faixa de Gaza. (g) O governo eleito do Hamas abortou o movimento e respondeu, o próprio Hamas, com um contra-golpe armado.

Até aí não há novidades. Tudo isto já era sabido. A novidade é que esta mistura de noticiário, boatos e apostas inteligentes apareça condensada em relatório bem-informado, formulado a partir de documentos oficiais dos EUA. É prova da abissal ignorância dos EUA, só comparável à abissal ignorância de Israel, quanto aos processos internos da Palestina.

George Bush, Condoleezza Rice, o neoconservador sionista Elliott Abrams e os generais norte-americanos, que nada sabem sobre coisa alguma, competem com Ehud Olmert, Tzipi Livni, Ehud Barak e com os generais israelitas, que sabem, sobre a Palestina, o que caiba do fundo à ponta dos canhões de seus tanques.

Os norte-americanos, enquanto isto, já destruíram Dahlan porque o expuseram como seu agente, na linha do "é um filho-de-puta, mas é o nosso filho-de-puta". Esta semana, além do mais, Condoleezza detonou um golpe mortal contra Abbas. Ele anunciou, de manhã cedo, que suspendia as negociações (tempo perdido) de paz com Israel - o mínimo que podia fazer, depois das atrocidades que o exército de Israel cometeu em Gaza. Rice, que soube disto quando tomava o pequeno almoço na estimulante companhia de Livni, imediatamente convocou Abbas e ordenou que desdissesse o que acabava de dizer. Abbas obedeceu e expôs-se, ele mesmo, nu em pêlo, ao seu próprio povo.

A LÓGICA não foi dada ao povo de Israel no Monte Sinai. Mas, sim, foi dada no Monte Olimpo, aos antigos gregos. Apesar desta dificuldade local, tentemos aplicar aqui, alguma lógica.

O que o governo de Israel está a tentar conseguir, em Gaza? Quer derrubar o Hamas (e, marginalmente, também quer que parem os foguetes e morteiros contra Israel).

Israel já tentou obter o que quer mediante um bloqueio total contra a população palestiniana, na esperança de que, assim, a população levantar-se-ia contra o Hamas. O plano falhou. O "plano B" seria reocupar toda a Faixa de Gaza. Mas isto vai custar um alto preço em vidas de soldados, preço mais alto, talvez, do que a opinião pública em Israel esteja disposta a pagar. Além disto, de nada adiantará, porque o Hamas vai reaparecer no momento em que as tropas de Israel se retirarem. (Mao Tse Tung ensinava, como primeira lição na guerra de guerrilhas: "Se o inimigo avança, retrocede. Se o inimigo retrocede, avança.")

O único resultado da Guerra dos Cinco Dias foi o fortalecimento do Hamas e o aumento do apoio que recebe do povo palestino - não só na Faixa de Gaza, mas na Cisjordânia e também em Jerusalém. O Hamas tinha, sim, o que celebrar, naquela festa da vitória. Os foguetes não pararam. E aumentaram a capacidade de fogo e o alcance.

Mas suponhamos que a política de Israel tivesse dado certo e que o Hamas tivesse sido derrotado. E então? Abbas e Dahlan não podem voltar sobre a cabine dos tanques israelitas, como sublocatários da ocupação. Nenhuma empresa de seguros de vida vai aceitá-los como segurados. E, se não voltarem, será o caos, do qual vão emergir forças tão extremistas que, hoje, ainda nem as podemos imaginar.

Conclusão: o Hamas está lá. Não pode ser ignorado. Temos de construir um cessar-fogo com o Hamas. Não a partir de uma oferta ridícula, do tipo "se eles pararem primeiro, nós paramos depois". Cessar-fogo, como o tango, precisa de dois. É preciso haver um acordo prévio e detalhado que inclua a cessação de todas as hostilidades, armadas e outras, em todos os territórios.

Nenhum cessar-fogo será efectivo se não houver negociações, conversações, que têm de começar logo, e que levem a um armistício de longo prazo (a hudna) e à paz. Estas negociações não podem acontecer com a Fatah, e sem o Hamas; nem com o Hamas, e sem a Fatah. Portanto, é preciso construir um governo palestiniano em que se reúnam os dois movimentos. É preciso convocar personalidades que gozam da confiança de todo o povo palestino; Marwan Barghouti, por exemplo.

Não há uma única voz, nem entre as lideranças em Israel nem entre as lideranças nos EUA que se atreva a declará-lo abertamente. Mas esta política é precisamente o avesso, o contrário, da política em curso, pensada por EUA-Israel, e que proíbe até que Abbas converse com o Hamas. Portanto, vamos continuar a ver o que temos visto.

Vamos matar 100 turcos, e descansamos. E, vez ou outra, algum turco vai nos matar, alguns de nós.

Por quê, pelo amor de Deus?! Que mal lhes fez Israel?!

 * Uri Avnery,85 anos, é membro fundador do Gush Shalom (Bloco da Paz israelita).

Publicado em 8/3/2008, na página de Gush Shalom em http://zope.gush-shalom.org/home/en/channels/avnery/1205012429/.
Título original: "Kill a hundred Turks and rest...". Tradução do blog do Bourdoukan, adaptado para português de Portugal por Luis Leiria
 
Fonte: www.esquerda.net

Israel ameaça com Holocausto na Faixa de Gaza

 

 

O Governo israelita ameaça lançar uma ofensiva terrestre contra a Faixa de Gaza para pôr fim ao disparo de “rockets” contra o sul do país. Um dirigente do ministério da Defesa avisou mesmo que os ataques do Hamas podem arrastar o território para a “shoah” – uma palavra hebraica que pode ser traduzida como “catástrofe” ou “holocausto”.

 

 

Pelo terceiro dia consecutivo, várias localidades no Sul de Israel voltaram hoje a ser atingidas por “rockets” lançados a partir da Faixa de Gaza. Segundo a BBC online, vários “rockets” Grad – de fabrico iraniano e com um alcance de 14 quilómetros – atingiram hoje Ashkelon, cidade de 120 mil habitantes, ferindo uma jovem e levando os serviços de emergência a activar as sirenes de alerta para ataque.

 

Na quarta-feira, um estudante israelita morreu quando a sua escola, nos arredores de Sderot, foi atingida por um destes projécteis. Na resposta, Israel ordenou sucessivos raides aéreos contra o vizinho território palestiniano que, no espaço de 48 horas, mataram mais de 30 pessoas, na sua maioria militantes do Hamas mas também vários civis, incluindo cinco crianças.

 

Apesar do poder de fogo aéreo, Israel não consegue impedir que o seu território continue a ser atacado e foram já vários os responsáveis governamentais que admitiram optar por um regresso das tropas hebraicas ao território de onde se retiraram em 2005, apesar dos riscos de tal operação.

 

Segundo o jornal israelita “Yedioth Ahronoth”, Barak terá enviado mensagens confidenciais a vários dirigentes estrangeiros, preparando terreno para uma eventual operação terrestre. “Israel não anseia ou se precipita para tal ofensiva, mas o Hamas não nos deixa outra hipótese”, terá ele confidenciado à secretária de Estado norte-americana, Condoleezza Rice, que na próxima semana deverá regressar à região.

 

No entanto, fontes da segurança israelita adiantaram às rádios pública e militar que, apesar de estar planeada, tal operação não está iminente. A Reuters adianta que o próprio primeiro-ministro, Ehud Olmert, líder do partido centrista Kadima, se mostra reticente em lançar tal operação, tanto por causa dos elevados riscos (menos de dois anos depois da fracassada guerra no Líbano) como pela pressão que tem sofrido por parte dos EUA para não pôr em causa as esperanças de um acordo de paz com a Autoridade Palestiniana.

 

Responsável político cria polémico

 

A declaração mais explosiva do dia partiu, contudo, do vice-ministro da Defesa, Matan Vilnai, que, em entrevista à rádio militar israelita, avisou que os ataques do Hamas poderiam arrastar a Faixa de Gaza para a “shoah”, um termo que os israelitas habitualmente reservam para se referir ao Holocausto nazi.

 

“Quantos mais o disparo de [rockets] Qassam se intensificar e quanto maior o alcance dos 'rockets', maior será a ‘shoah’ que eles arriscam lançar sobre si, porque iremos usar o nosso direito de autodefesa”, afirmou Vilnai.

 

De imediato, Ismail Haniyeh, dirigente do Hamas e chefe da estrutura que controla a Faixa de Gaza, veio a público dizer que “esta é a prova das intenções agressivas pré-planeadas por Israel” contra os palestinianos.

 

“Eles querem que o mundo condene o que eles chamam Holocausto e agora ameaçam o nosso povo com o holocausto”, denunciou Haniyeh, durante uma manifestação em Gaza contra os bombardeamentos israelitas, enquanto o porta-voz do Hamas classificava o inimigo como os “novos nazis”.

 

Pouco depois, um porta-voz do ministério da Defesa israelita veio a público criticar a tradução “falaciosa” da palavra feita pela imprensa internacional. “O ministro usou o termo hebraico ‘shoah’ que significa catástrofe, um termo que neste contexto não se refere à ‘Shoah’, o Holocausto” nazi, afirmou o porta-voz.

 

Também o porta-voz da diplomacia israelita sublinhou que, neste contexto, o termo deve ser entendido “como desastre ou catástrofe”.

Fonte: www.publico.clix.pt


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