Os escritores que fazem parte da delegação oficial de Israel no Salão do Livro não se contentam em caucionar moral e intelectualmente as acções do seu governo; eles são também, contratualmente, os seus propagandistas patenteados. É o que afirma o jornalista israelita Benny Ziffer, numa entrevista recolhida pelo site literário www.nonfiction.fr.
Questionado sobre as razões que o conduziram a lançar uma petição pedindo o boicote, Ziffer, que é chefe de redacção do suplemento literário do jornal Haaretz, indica que o Estado israelita, para as manifestações que organiza – e é o caso para a vinda da delegação oficial – exige dos autores a assinatura de um contrato no qual estes últimos se comprometem a ser agentes de propaganda do governo. “Foi o que se passou com as Feiras do Livro de Paris e de Turim”, precisou.
“Está a falar a sério?”, pergunta-lhe então, incrédulo, o jornalista de nonfiction.fr, que conduz a entrevista.
“Absolutamente”, responde Ziffer. “O grande escritor Yehoshua Kenaz, por exemplo, não foi convidado a ir a França porque se recusou a assinar esse documento! Ora, a sua obra está amplamente traduzida em francês”.
Encontramo-nos portanto numa situação em que aqueles que nos dizem que não devemos confundir literatura e política, tais como o escritor Amos Oz, são os mesmos que tomaram o compromisso servil de não prejudicar o seu governo pela ocasião desta feira. É de notar que Ziffer declara que se deslocará mesmo assim ao Salão do Livro, mas para “contar o boicote”. Um gesto não desprovido de ambiguidade, na nossa opinião, mas que não tira nada à sua revelação sobre os contratos.