Os três primeiros candidatos a primeiro-ministro são extremistas. Tzipi Livni e Ehud Barak foram para a guerra em Gaza e são portanto tão radicais quanto possível. Benjamin Netanyahu é mais radical apenas na retórica.
Não devemos deixar-nos enganar por esta campanha eleitoral, considerando Livni e Barak como moderados, em contraste com o "extremista" Netanyahu. Isso é uma ilusão. O Kadima e o Partido Trabalhista, os partidos do centro e da esquerda, levaram Israel para duas horríveis guerras no espaço de dois anos. Netanyahu ainda tem que fazer uma vez a guerra. É verdade que ele fala de forma mais radical que os outros dois, mas até agora só têm sido palavras, enquanto que os "moderados" foram até à acção radical, agressiva.
"Bibi é duvidoso e terrivelmente direitista", afirma a propaganda eleitoral do Kadima. Será? Livni e Barak são exactamente o mesmo.
Nenhum dos envolvidos na guerra de Gaza pode agora falar de paz. Aqueles que lançaram um golpe tão brutal sobre os palestinianos, apenas para semear mais ódio e medo entre eles, não têm a intenção de fazer a paz com eles. Aqueles que são responsáveis por ter atirado cápsulas de fósforo branco sobre uma população civil e ter destruído milhares de casas não podem falar no dia seguinte de dois Estados vivendo pacificamente ao lado um do outro.
Numa investida, Ehud Olmert, que emitiu algumas das declarações mais corajosas alguma vez feitas nesses meios sobre o fim da ocupação, transformou essas declarações num balbúcio cínico de clichés ocos. Quem agora acreditará que ele queria a paz? E quem acreditará Barak ou Livni?
Esta guerra desmascarou Livni, a mulher que nos havia prometido uma "política diferente". Ela, que enquanto ministra dos Negócios Estrangeiros era suposta mostrar ao mundo o lado simpático de Israel, escolheu apresentar uma face arrogante, violenta e brutal. Durante a guerra, ela gabou-se de que Israel estava a actuar "selvaticamente", ameaçou o Hamas "levar" e anunciou que o cessar-fogo viria a efectuar-se "quando Israel o decidisse".
Pelo que lhe dizia respeito, não existia mundo, nem Estados Unidos e Europa, nem Conselho de Segurança da ONU, nem outro lado ensanguentado e derrotado – apenas Israel decidiria. Nenhum ministro dos Negócios Estrangeiros tinha falado assim anteriormente.
Para ela não existe mundo, EUA e Europa, não existe Conselho de Segurança, não existe o outro lado exangue e derrotado - apenas Israel, que decide. Nunca antes algum ministro dos Negócios Estrnageiros falou desta forma.
Nas suas tentativas patéticas de assumir uma postura masculina, militarista, machista até, de alguém que saberia o que dizer se o telefone tocasse às 3 da manhã, Livni expôs-se como uma ministra dos Negócios Estrangeiros falhada, cujas palavras e acções não são diferentes das dos homens militaristas radicais à sua volta. Nenhum eleitor que se respeite e se considere um centrista convicto poderia votar nela. Quem votar no Kadima estará a votar na direita, que está ansiosa por embarcar em qualquer guerra e por arriscar-se a cometer os crimes que a acompanham.
Votar no Partido Trabalhista também significa votar na guerra e nos seus horrores. Este xerife da guerra, Ehud Barak, privou-se para sempre do direito moral de falar de coexistência, acordos políticos e diplomacia. Se ele acreditasse neles realmente, deveria ter-lhes dado uma hipótese antes de ir para a guerra, e não depois. Barak levou o exército para a guerra e Barak deve pagar por isso, juntamente com o seu partido de "esquerda", que se juntou aos partidos mais radicais, de extrema-direita, ao apoiar a ilegalização dos partidos árabes em Israel.
Avigdor Lieberman, Netanyahu, Livni e Barak são um único – eles todos votaram a favor de uma decisão antidemocrática. E não fiquem assustados com Lieberman – ele, também, só fala. Mas, pelo menos, fá-lo honestamente, ao passo que Barak dispara e intruja.
Seguramente, estes impostores ainda gozam do apoio de dirigentes mundiais, mas para muitas pessoas pelo mundo fora, eles tornaram-se fomentadores de guerras e presumíveis criminosos de guerra. A sua imunidade diplomática protegê-los-á – mas quem quer desses dirigentes, com as suas mãos ensanguentadas, para nos representar?
Não menos grave é o facto de não haver diferenças ideológicas entre os candidatos. Peçam a Barak e Livni para explicarem que diabo os distingue um do outro. Que discussão ideológica estarão eles a conduzir, para além de andarem à bicada para ver quem fica com os louros de ter conduzido a guerra?
Em frente deles está Netanyahu – o que tem ele para oferecer? "Paz económica". Após esta guerra, que não foi suficiente na sua opinião, a sua doutrina soa mais grotesca do que nunca.
É assim que nos encaminhamos para eleições – com três partidos à frente, pouco diferentes um do outro.
Costumávamos dizer: "Não existem moderados no mundo árabe". Agora somos os únicos que não têm moderados. Vota como desejares, mas não te enganes. Qualquer voto no Kadima, no Partido Trabalhista e no Likud é um aval à última guerra e um voto na próxima.
Ehud Olmert, primeiro ministro de Israel, acaba de manifestar o seu pesar pelas mortes e danos casusados aos civis em Gaza. Já a sua antecessora Golda Mair dizia “nunca perdoaremos aos árabes obrigarem-nos a matar os seus filhos”.
Foram 1320 os mortos e 5600 feridos, cerca de 30% crianças. As perdas de Israel cifram-se em 13 mortos, dos quais 3 civis.
Israel atacou e invadiu Gaza alegando estar a ser agredido. Como sublinhou o dr. Fernando Nobre, na sessão de lançamento do Fórum Pela Paz e Pelos Direiros Humanos, estranha agressão essa em que o agressor sofre 100 vezes mais baixas que o agredido.
O bombardeamento sistemático de Gaza, por terra, ar e mar durante toda a operação, a intervenção dos carros de combate pesados destruindo tudo à sua passagem, nomeadamente as oliveiars arrancadas pela raiz para limpar os campos de tiro, deixariam o território inabitável, se os palestinianos não estivessem já habituados a verem as suas terras e casas destruídas pelo exército israelita desde há mais de 60 anos. A população de Gaza vai voltar às suas casas e reiniciar a lenta e dolorosa reconstrução de tudo o que foi destruído sistematicamente, sem terem onde se abrigar com temperaturas inferirores aquelas que aqui levam a Protecção Civil a decretar alerta laranja, sem terem que comer nem com que se tratar.
Por isso que, nesta situação de agressão bárbara, falar da necessidade de meter o Hamas no mesmo saco que os israelitas, porque é disso que se trata quando se acha que quando condenamos a agressão isarelita não podemos deixar de condenar a do Hamas, não cola bem.
O Hamas é um grupo fundamentalista, que tem um objectivo de poder arcaico e brutal, assente na subordinação política por via ideológica ou religiosa, como os judeus ortodoxos que, se não mandam, impõem a sua vontade em Israel. Mas o Hamas, perante a decadência e a capitulação da OLP face às manobras dos árabes e ocidentais, perante o poder colonial esmagador e a violência inumana do apartheid sionista, respondeu aos anseios do seu povo: apoio social ímpar, combate à corrupção, radicalidade na resistência necessária à dignidade daquele povo. Por isso foi escolhido para governar, nas únicas eleições democráticas nos países árabes.
O Hamas só ganhou força, ajudado e empurrado pelos isarelitas, porque a essência laica, democrática, plural e socialista da OLP se esfumou quando a primeira intinfada que ganhara a consciência e o apoio emocionado dos povos de todo o mundo foi traída; e o ímpeto e o heroísmo da juventude palestiniana foi entregue de bandeja ao inimigo colonial, nas negociações de Camp David e nos acordos de Oslo, a troco de um reconhecimento formal da Autoridade Palestiniana, sem qualquer autoridade soberana , encarrregada de manter o povo na ordem e ajoelhada perante a potência colonial culpada dos mais bárbaros crimes contra esse mesmo povo. Nenhuma reivindicação da luta de décadas da OLP foi satisfeita, nem sequer a devolução dos territórios ocupados.
O único território desocupado foi Gaza, por Sharon, para ficar disponível para as incursões de demolição e assassinato, para bombardeamentos e invasões militares que a presença dos colonos dificultava.
Sejamos claros, até porque um simples olhar de relance, minimamente descomprometido, não permite qualquer disfarce: a estratégia sionista, assumida desde sempre pelos governantes israelitas, e que atingiu agora um dos seus pontos culminantes, é a expulsão dos palestinianos da sua terra, no seguimento de todo um processo velho de cem anos. A primeira-ministra Golda Mair asseverava, em 1969 que os judeus não precisavam dos palestinianos para nada, aliás de acordo com a doutrina sioniosta que preconiza que a nação judaica deve ter as suas próprias classes sociais, incluindo a classe operária, pelo que os árabes não deviam ser explorados mas substituídos na sua totalidade.
Os que preconizavam um lar para os judeus na Palestina (fartos de perseguições, pogroms e expulsões, até ao holocausto final) tinham consciência de que tinham que ir ocupar terras de outrém: “do exterior somos levados a crer a que a Palestina é um territótio despovoado. Mas a verdade é que é difícil encontrar terras aráveis que não estejam cultivadas” dizia o judeu ucraniano
Ahad Haam por volta de 1892.
Depois – o judaísmo não se afirma apesar da história mas através da história, como dizia Marx - com a ajuda interesseira, mas desinteressada das pessoas, do colonialismo inglês e da bestialidade negra do nazismo, manobrando pelos interstícios da malha balcanizada do médio oriente depois da primeira guerra, o sionismo armou-se e preparou-se.
Esse processo passou pelo terrorismo contra os próprios ingleses e logo contra os camponeses palestinianos numa limpeza preparatória da formação do Estado de Israel imposto pelas potências colonizadoras através da ONU .
A derrota dos exércitos árabes pelo recém formado Estado de Israel em 1948 teve como consequência o abandono das suas casas e terras por dois terços da população palestiniana que iniciou assim um longo calvário como refugiados em terra alheia e não poucas vezes enfrentando a hostilidade de governos e facções árabes que levaram a massacres e chacinas com a cumplicidade das forças ocidentais, como o setembro negro na Jordânia, a chacina no Libano, durante a guerra civil, levada a cabo pelas tropas sírias e os massacres de Sabra e Chatila pela falange cristã, com a ajuda dos ocupantes israelitas.
Desde o confronto de 1948 que a estratégia israelita, de expulsão dos palestinianos da sua terra, passou a assentar na propaganda da ameaça árabe à existência do Estado de Israel como justificação para todas as atrocidades cometidas, quando é sobejamente conhecido que a causa palestiniana de uma pátria livre e soberana nada tem a ver com quaisquer posições ou reivindicações árabes nem sequer, desde há muito, com a unidade da nação árabe.
Tal propaganda não tem qualquer base mínima objectiva desde a guierra de Yon Kipur, quando o Exército egípcio levou de vencida o imbatível exército de Israel, logo recuando em seguida sem ter imposto as condições mínimas que se exigiam na altura e ainda hoje persistem: devolução dos Montes Golan à Síria e retirada dos territórios ocupados por Israel.
Ficou provado que a mítica ameaça ameaça árabe à existência de Israel não passa de propaganda e de justificação para a sua política de expulsão dos palestinianos da palestina
Ehud Olmert está compungido, mas nós estamos ainda mais porque sabemos que ele e os outros dirigentes israelitas, deste e de outros governos, não vão ser julgados como criminosos de guerra no TPI .
O espantoso, será?, nesta incomensurável tragédia que é a perseguição e o massacre de gerações de palestinianos, é que a “sociedade civilizada” assiste a tudo isto de mãos postas e propositadamente atadas, decidida a garantir... a segurança de Israel!
O Embaixador israelita nas Nações Unidas, Aharon Leshno-Yaar, interpelou a Comissão dos Direitos Humanos da ONU, reunida em Genebra, de 12 de Janeiro último, e o representante da Autoridade Palestiniana, sobre se estavam convencidos que as resoluções da ONU serviam para alguma coisa! E deixou claro que “vocês têm-se entretido com resoluções e nós vamos fazendo o que nos apetece”. Assim, mais coisa menos coisa.
É preciso que nos entendamos: vão fazendo o que lhes apetece porque as principais potências (prineiro com a desculpa da guerra fria, agora porque sim.) estiveram sempre claramente dispostas a impedir a afirmação de uma nação democrática, laica e progressista no Médio Oriente, que era o caso da OLP antes de se ter deixado corromper e passar da troca de “paz por terra” para a troca de “terra por dólares”.
A vista grossa vai ao ponto de nem sequer o facto de ter sido decretada a marginalização do processo eleitoral dos partidos árabes de Isarel ter feito enrugar as amplas testas dos senhores dos Estados altamente civilizados e poderosos.
E vêm falar-me do Hamas!? Lembram-se quando Pierre Bourdieu encabeçou um abaixo assinado insurgindo-se em termos violentos contra o governo francês e todas as nações democráticas e civilizadas por não reconhecerem a vitória eleitoral democrática do FIS na Argélia, apoiando a solução militar e fascistóide, do que resultou a explosão do terrorismo fundamentalista? Algo parecido aconteceu na Palestina.
A simplicidade da solução para a Palestina é esta: basta reconhecer o Estado Independente e Soberano da Palestina. E todos sabemos que isso não é ameaça nenhuma para Israel. Antes pelo contrário:é a garantia do seu sossego.
Por isso é que eu, quando me vêm com o Hamas convido-os a olhar, já nem falo no Bush, mas para os limpinhos da UE, a começar pelo nosso introspectivo mas simpático ministro dos negócios estrangeiros.