O Instituto de Yad Vashem, especializado no estudo do Holocausto, despediu Itamar Shapira, docente e guia porque este, nas suas palavras, "disse que havia pessoas a viverem nesta terra e mencionei o facto de haver outros traumas [além do Holocausto] que fornecem motivações a outras nações. O Holocausto levou-nos a estabelecer um Estado judeu e o trauma da nação palestiniana leva-a a procurar a sua auto-determinação, identidade, terra e dignidade, tal como o sionismo os procurou".
O instituto achou que isto constituía uma comparação entre o Holocausto e a limpeza étnica de 1948, que expulsou centenas de milhares de palestinianos, por eles conhecida como "Nakba" ("catástrofe"). E, afirmando que não podia aceitar uma politização do tema do Holocausto, despediu o docente que recusava silenciar factos da limpeza étnica.
A isto comentou ainda Shapira que, "se Yad Vashem decide ignorar os factos, por exemplo o massacre de Deir Yassin [aldeia árabe cuja população foi chacinada em 1948] ou a Nakba, isso significa que tem medo de alguma coisa ou que a sua abordagem histórica está viciada".
Aluf Benn é um cronista insuspeito do diário israelita Haaretz, defensor quase incondicional do ataque israelita contra Gaza, mas, ao mesmo tempo, preocupado com a loucura que parece ter-se apoderado dos militares e políticos sionistas.
Na edição de hoje do Haaretz on-line em inglês, dois artigos seus reflectem esta preocupação. Num deles, comenta os resultados da "investigação" que o exército conduziu sobre as acusações que lhe eram dirigidas por ter cometido crimes de guerra durante a "Operação Chumbo Derretido".
Entre outras, podemos citar as frases seguintes deste atormentado e angustiado paladino da operação:
"As cinco investigações detalhadas do IDF [Israel Defense Forces] sobre a Operação Chumbo Derretido reflectem uma obstinada concentração das atenções sobre as árvores e uma recusa a discutir a floresta". (...)
"Terá a destruição de casas sido 'proporcional', como as investigações sugerem? É uma questão de interpretação. Alguns dos peritos legais que participaram na investigação pensam outra coisa, e dois oficiais de infantaria com posições-chave durante os combates comentaram: 'Limitámo-nos a arrasar povoações'". (...)
"Em Gaza a doutrina era 'risco zero' para as vidas dos soldados, mesmo quando isso significava atingir civis inimigos". (...)
No outro artigo, Harel discute a campanha do governo da extrema-direita para amalgamar o risco de um Irão nuclear com o Holocausto nazi. Ele põe o dedo na ferida, ao citar a ideia do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu de que o problema não é tanto o de um Irão nuclear alguma vez se atrever a bombardear Tel-Aviv (hipótese mais do que remota), mas o de esse Irão se tornar um interlocutor negocial com uma relação de forças indesejada pelo sionismo, até agora habituado, e mal habituado, a impor-se em todas as negociações com a prepotência que lhe confere o monopólio da arma nuclear.
Comenta Harel: "Não há dúvida que tal situação seria desagradável, mas nem por isso constituiria uma catástrofe nacional ou um genocídio".
Depois, observa que "Netanyahu anda a avisar o mundo: 'Se vocês não actuam, vamos actuar nós'. E o mundo não fica nada excitado". A opinião pública israelita, voltada para o próprio umbigo, pelo contrário, fica excitadíssima e a histeria retórica de Netanyahu "está a bloquear qualquer caminho de recuo, dele e do país, para a confrontação militar".
Enfim, Arel sublinha o efeito desmoralizante que a comparação entre o Irão e a Alemanha nazi irá ter sobre as jovens gerações sionistas: "Se o programa nuclear do irão é o combóio para Auschwitz, então o que farão os israelitas e os judeus se falhar uma operação para travar esse programa e se o Irão conseguir a bomba? O que deverão pensar os jovens ao olharem para o futuro. Se a analogia com o Holocausto for aceite como óbvia, a resposta é clara: eles devem procurar refúgio noutro lugar. Muitos dos que se salvaram do Holocausto deixaram a Europa a tempo, antes da conquista nazi, especialmente em direcção aos EUA e a Israel. Se Israel está realmente confrontado com um Holocausto, então Netanyahu devia pedir a Barack Obama vistos de imigração para seis milhões de israelitas, e não apenas uma luz verde para atacar o Irão".
Palavras também para serem meditadas, entre nós, pelos e pelas ferrabrazes que em editoriais e crónicas do "Público" apelam todos os dias a uma guerra contra o Irão.
O ex-primeiro-ministro Ehud Olmert e a dirigente da oposição Tzipi Livni podem ter de enfrentar um processo por crimes dae guerra na Noruega respeitante ao papel de Israel na ofensiva conta o Hamas em Gaza, segundo ontem referiu a AFP.
A agência noticiosa disse que seis advogados noruegueses anunciaram na 3ª feira planos para acusar dos crimes os dois políticos, bem como o ministro da Defesa Ehud Barak e sete oficiais israelitas de alta patente.
Os advogados, que tencionam apresentar a queixa ao procurador-geral norueguês, foram citados a dizer que também pediriam a detenção e extradição dos dirigentes israelitas.
Segundo o código penal norueguês, os tribunais do país podem julgar casos que envolvam crimes de guerra ou violações graves dos direitos humanos.
Os advogados emitiram uma declaração citada pela AFP acusando Israel de "ataques terroristas massivos" na Faixa de Gaza desde 27 de Dezembro do ano passado até 25 de Janeiro, matando civis, usando ilegalmente armas contra alvos civis e atacando propositadamente hospitais e pessoal médico.
"Não pode haver dúvidas de que estes indivíduos sabiam, deram ordens ou aprovaram as acções em Gaza e de que conheciam as consequências dessas acções", afirma a declaração dos advogados.
Também se afirma aí que os advogados representam pessoas residentes na Noruega.
"O processo envolve três pessoas de origem palestiniana residentes na Noruega e 20 famílias que perderam parentes ou bens durante a ofensiva", disse à AFP um dos advogados, Kjell Brygfjeld.
O objectivo israelita alegado durante a ofensiva de três semanas era o de pôr cobro aos ataques de morteiros através da fronteira de Gaza.
Funcionários de Gaza afirmaram que mais de 1.300 palestinianos morreram durante a campanha, a maioria dos quais civis. Mas o exército israelita contesta esta afirmações, afirmando que a grande maioria dos mortos eram militantes do Hamas.
O activista palestiniano Omar Barghouti escreveu o texto seguinte em comentário a um artigo ontem publicado no diário Haaretz, pelo jornalista Gideon Levy, um ícone do jornalismo israelita mais acerrimamente defensor dos direitos humanos. Levy afirmava aí que, apesar dos crimes de guerra por si cometidos, o exército israelita não pode ser comparado com as tropas nazis. Sobre essa categórica negativa se pronuncia, em seguida, Barghouti. O texto original não tinha título.
Omar Barghouti
Ao recusar a comparação [entre sionismo e nazismo] no seu artigo, é claro que Gideon Levy faz exactamente isso - ele está a comparar. Ele cita também vários exemplos, no final do artigo, que levam muitos analistas a comparar.
Se é certo que concordo inteiramente com ele em que a ocupação israelita, mesmo acrescida da sua forma especial de apartheid e dos seus crimes contra a humanidade, não pode ser identificada com o nazismo, não é menos certo que acho inaceitável o estauto sagrado que o Holocausto adquiriu, fora de qualquer quadro racional de pensamente e de investigação científica. Nenhum genocídio deve ser "intocável" ou categoricamente incomparável. Só deus tem, na cabeça dos crentes, essas propriedades divinas, não-humanas. Nada no mundo está ou deveria estar fora do alcance da razão. Nem sequer o Holocausto.
O genocídio contra os africanos no tráfico de escravos dominado pelos europeus causou sem dúvida mais mortes e mais sofrimento durante um período mais longo. O extermínio em massa das populações indígenas da América do Norte e da Austrália não pode senão ser comparada com o Holocausto na sua inspiração ideológica e no seu impacte. Os crimes de Israel, todavia, não podem ainda medir-se, em qualidade ou quantidade, com os cometidos pelos nazis. Mas, tal como consta da alusão de Levy, não se pode deixar de ver que certas práticas, políticas, e posições ideológicas são aparentadas com práticas e modos de pensamento nazis, especialmente nos anos 1930 (pré-Holocausto) e nos territórios europeus ocupados pela Alemanha.
Quando soldados israelitas na primeira Intifada entrraram quatro palestinianos vivos e os deixaram morrem, ese foi um crime de crueldade propriamente nazi.
Quando soldados israelitas na segunda Intifada adoptaram no norte da Margem Ocidental a política de arrebanhar os palestinianos de sexo masculino, tanto os rapazes a partir de certa idade como os mais velhos, e lhes escreveram na testa os seus números de identificação, também isso se parecia demasiado com as práticas nazis para ser simplesmente ignorado. Tommy Lapid, um político israelita racista e de direita, foi quem mais ruidosamente protestou no Knesset contra esta política. A sua avó e outros membros da sua família contavam-se entre os milhões exterminados no Holocausto.
Quando soldados israelitas gravaram, com punhais do exército, a Estrela de David nos braços de adolescentes palestinianos durante a invasão da Margem Ocidental em 2002, ninguém podia ignorar a semelhança do acto com as práticas nazis.
Mais recentemente, as práticas israelitas nazistóides em massa, os slogans, as T-shirts, etc., durante a guerra de agressão contra Gaza, especialmente devidas à doutrinação fascista levada a cabo por rabinos fundamentalistas sobre os soldados antes ou durante a ofensiva, evocaram certamente práticas nazis nas cabeças de muitos sobreviventes do Holocausto e de pessoas de consciência.
Iguais? Não, de modo algum. Comparáveis? Certamente
O editorial de hoje do "Público", assinado por José Manuel Fernandes, pode resumir-se a duas palavras de ordem: Boicotem a conferência da ONU contra o racismo! E: bombardeiem o Irão!
Para justificar a primeira palavra de ordem, Fernandes afirma que a conferência é um "espectáculo grotesco". Cita o episódio, na verdade grotesco, de um médico palestiniano que, depois de ter sido preso, torturado e julgado na Líbia, foi libertado por via duma negociação internacional e agora, na conferência, foi impedido de falar pela presidente líbia da conferência.
Escapou no entanto ao perspicaz Fernandes que esse episódio, tão revelador, revela na verdade o inverso do que ele pretendeu demonstrar: os palestinianos continuam a ser vítimas silenciadas, não só pelo sionismo e pelas potências ocidentais, mas também pelos regimes árabes entretanto promovidos de "terroristas" a "bons alunos" da comunidade internacional.
Ora, o sr. Kahdaffi é precisamente um desses grotescos ditadores, que monta a sua tenda e o seu harém em qualquer capital europeia para onde é convidado e finalmente ainda recebe o prémio de poder designar a presidente duma conferência da ONU sobre racismo. Quem lá pôs a presidência líbia? Foram os palestinianos? Ou foi o sr. Ban-Ki Moon, homem de confiança do imperialismo?
Fernandes aplaude, naturalmente, os países que recusaram estar presentes na conferência, quase todos por carregarem com o embaraço de terem exterminado as suas populações indígenas e não suportarem enfrentar um areópago em que os crimes passados e presentes facilmente lhes seriam lançados à cara. Dos que lá foram (23 Estados-membros da União Europeia), diz-nos Fernandes muito docemente que foram "fazer figura de palhaço (Portugal incluído)", e que, do mal o menos, "lá se levantaram quando o presidente iraniano ultrapassou os limites do decoro".
E que limites de decoro foram estes? Negar o Holocausto, como Amhadinedjad realmente fez em ocasiões anteriores, para gáudio e deliciamento da propaganda imperialista? Nada disso. Amhadinedjad disse, desta vez quatro coisas citadas por Fernandes que nada tinham a ver com essas, negacionistas, "barbaridades do costume". Vejamos quais foram.
Primeira afirmação: que "Israel é o mais cruel regime racista". Verdade: desde que foi destruído o apartheid sul-africano não há outro que se lhe compare. Sairiam da sala os representantes dos 23 países se tivesse sido o ex-presidente Carter a dizê-lo? Mas não é isso que ele tem dito e escrito? Ou foi o abandono da sala uma manifestação de racismo contra o que pode ser dito por um dignitário norte-americano mas está vedado a um persa?
Segunda: que Israel existe "a pretexto do sofrimento judeu" às mãos do nazismo. Note-se que Amhadinedjad não nega aqui o dito sofrimento. O que ele diz é que tem sido usado como pretexto para criar um Estado com características particulares, que discrimina os árabes e muçulmanos como o Irão fundamentalista e obscurantista não o faz aos judeus.
Terceira: que foi por via da "agressão militar" que europeus e americanos "deixaram sem terra uma nação inteira". Também é verdade.
Quarta, enfim: que a colonização sionista criou "um governo totalmente racista na Palestina ocupada". Não é isto que temos diante dos nossos olhos?
A figura de palhaços que fizeram os 23 governos europeus, Portugal incluído, foi portanto a de terem saído da sala por lá serem ditas verdades. E não teriam faltado no discurso de um fundamentalista religioso inverdades, para se levantarem contra elas. Mas decidiram sair por causa de evidências duras como punhos, e que molestam a sua política de apoio ao terror sionista.
De tudo isto conclui Fernandes que o governo da extrema-direita actualmente no poder em Israel "tudo fará para que o Irão não tenha a bomba nuclear, mesmo que tenha de o fazer sozinho" e, sob a forma de pergunta retórica, que não é "tolerável que tenha de o fazer sozinho". Ah, que saudades do unilateralismozinho bushiano, sr. Fernandes! Saudades suas e saudades da embaixada de Israel, que lhe paga as viagenzinhas pelo Médio Oriente! Vamos a ver se a Administração Obama continua a precisar tanto destes ferrabrazes de mata-e-esfola, belicistas nucleares e genocidas de aviário como precisou a Administração Bush.
A conferência da ONU sobre o racismo, além dos exemplos relativos à discriminação dos palestinianos em matéria de política de emprego, está confrontada com vários outros exemplos de importância vital. Um deles diz respeito à discriminação no abastecimento de água. O diário israelita Haaretz publicou hoje o artigo seguinte do seu correspondente, Avi Issacharoff:
O regime de abastecimento de água usado por Israel e pelos palestinianos tem de ser mudado, segundo um relatório do Banco Mundial que vai ser hoje publicado.
O relatório oserva que um israelita médio recebe quatro vezes mais água do que um palestiniano médio e adverte que o sistema de água da Autoridade Palestiniana se "aproxima da catástrofe".
Conclui com a recomendação de que o actual entendimento para a distribuição de água, incluído nos acordos de Oslo II, seja alterado para melhorar o sistema palestiniano.
O relatório, requerido pela Autoridade Palestiniana, pode tornar-se especialmente problemático para Israel devido à crise de água a nível regional. O acordo entre as duas partes é assimétrico e exacerba grandemente a crise no que diz respeito aos palestinianos.
Este é o primeiro documento do género apresentado pelo Banco Mundial sobre o uso de água israelita e palestiniano.
Segundo o relatório, o entendimento alcançado em Oslo não serve para satisfazer as necessidades dos civis palestinianos.
A desigual partilha de recursos, bem como as limitações à informação relativa ao abastecimento regional de água, têm impedido os palestinianos de desenvolver os recursos aquíferos - um problema que é agravado pela fraqueza das instituições de governo palestinianas.
O relatório diz que isto conduziu a uma situação de emergência com graves ramificações na economia, na sociedade e na ecologia da Autoridade Palestiniana. As crises humanitárias relacionadas com a água são frequentes em partes da Margem Ocidental e de Gaza.
O relatório afirma que os palestinianos têm acesso a apenas um quinto do total de abastecimento de água, que Israel extrai o resto, preenchendo a quota que lhe está atribuída sem a necessária autorização do comité conjunto para a água instituído pelos acordos de Oslo.
A sobre-extracção do aquífero cria um perigo de excesso de salinidade, afirma o relatório.
O relatório observa também que os palestinianos cavam poços comparativamente pouco profundos, devido à perfuração muito mais profunda dos israelitas.
Segundo o Banco Mundial, Israel tem uma distirbuição e euma gestão de água satisfatórias, ao passo que a Autoridade Palestiniana luta para manter uma infraestrutura mínima com meios financeiros mínimos. Em Gaza, o escasso investimento em água e na rede sanitária conduziu a uma falta de controlo de qualidade da água, com graves riscos para a saúde pública.
No dia em que a conferência da ONU contra o racismo, também chamada "Durban II", abre em Genebra, boicotada pelas potências responsáveis de alguns dos maiores genocídios da História, e sob a ameaça de novos boicotes se Israel for alvo da menor crítica, tem toda a pertinência a informação que nos chegou através do site http://www.labourstart.org/. Ei-la aqui.
Em Março de 2009, os caminhos-de-ferro israelitas, uma empresa pública, deu início a uma nova política recusando emprego aos guardas ferroviários que não tenahm licença de porte de arma - isto é: aqueles que não tenham feito o serviço militar no exército israelita. Esta política conduzirá ao despedimento de aproximadamente 150 ferroviários árabes, que fazem a vigilância e manutenção das passagens de nível de Israel. A empresa declarou explicitamente que a nova política se destina a favorecer o emprego de jovens veteranos do exército.
Os cidadãos árabes-palestinianos de Israel sempre estiveram extremamente sub-representados no sector público do país (incluindo em companhia de propriedade estatal) e, apesar de existirem leis anti-discriminação, constituem apenas 5% dos trabalhadores do Estado, ao passo que constituem quase 20% do total da população. A exclusão dos árabes no sector público resulta principalmente da política de segurança israelita, que afasta os árabes que não tenham feito o serviço militar, e portanto recusa, a quem não tenha licença de porte de arma, o acesso à administração e serviços públicos (tais como: comunicação, água, eletricidade, transportes públicos, bombeiros, etc.). Esta priorização da segurança do Estado reflecte-se também nas biografias dos funcionários executivos das companhias israelitas de propriedade estatal. Yitzhak ‘Haki’ Harel, o administrador-geral dos caminhos-de-ferro israelitas. por exemplo, é major-general do exército israelita (IDF), reformado em Agosto de 2006, pouco depois da guerra de Julho no Líbano, e dirige a empresa desde 2007.
A nova política da empresa é um exemplo revelador do modo em que os trabalhadores árabes são sistematicamente excluídos do mercado de trabalho israelita: em primeiro lugar, mostra como a segurança do Estado tem prioridade absoluta sobre a segurança individual e sobre a segurança na política de emprego israelita; em segundo lugar, revela que estas preocupações de segurança são utilizadas para camuflar uma dualidade de critérios a favor dos trabalhadores judeus israelitas porque a) o trabalho de guardar passagens de nível não exigia até agora o porte de armas; b) outros trabalhadores ferroviários, como os maquinistas, não são afectados pela nova política, e c) alguns postos de trabalho são reservados às "minorias que não fizeram o serviço militar" Isto autoriza a conclusão de que o serviço militar é de facto uma condição de emprego irrelevante. Aqui deve tam´bém ser observado que a nova política exlcui imigrantes recentes, judeus ultra-ortodoxos, pessoas portadoras de deficiência e objectores de consciência.
Em 7 de Abril de 2009, o Tribunal de Trabalho de Tel-Aviv suspendeu o despedimento dos ferroviários até à audiência seguinte, de 19 de Abril. No entanto, os trabalhadores disseram em resposta a uma investigação de Sawt el-Amel que a empresa já tinha começado a recrutar novos guardas de passagens de nível. Em 8 de Abril de 2009, a empresa respondeu a essa investigação reafirmando que a decisão política ss baseia em "considerações práticas e de segurança" e não pretende "discriminar minorias".
Globalmente, a nova política de emprego da empresa deve ser vista como um prolongamento da estratégia israelita de longo prazo para excluir os trabalhadores árabes do mercado de trabalho e como um atentado contra todos os grupos social e economicamente marginalizados em tempos de crescente crise económica.
3) Encorajar a sua organização sindical a subscrever o apelo, juntando também ao e-mail o logotipo da sua organização sindical
4) Escrever uma carta de protesto aos caminhos-de-ferro israelitas
Copy-paste o modelo de carta abaixo e escreva a sua própria mensagem para:
Yitzhak Harel, CEO
Israel Railways
Fax: +972 (0)3 6937480
Email: pniyot@rail.co.il
Com cópia para Sawt el-Amel:
Sawt el-Amel
Email: laborers@laborers-voice.org
Fax: +972 (0)4 6080917
Modelo de carta para Israel Railways:
Dear Mr. Yitzhak Harel,
I am concerned about Israel Railways’ new policy requiring army service and weapons training as an employment condition for guards at level crossings. Since Arab citizens of Israel are exempt from obligatory army service, it can be assumed that all or most Arab crossing guards will be laid off as a consequence of this policy decision.
This contradicts the fundamental right of workers to equality and non-discrimination in employment, and consequently, the policy should be revised.
I would much appreciate to hear your position on this issue.
Sincerely,
Signatários até à data:
Organisations:
Sawt el-Amel/The Laborer’s Voice
Intal, Belgium
Association Tutti-Frutti International Développement Solidarté, France
UNISON (the public service trade union), U.K.
Brighton & Hove District Trades Union Council, U.K.
Brighton & Hove UNISON Local Government, U.K.
Brighton & Hove Unemployed Workers Centre, U.K.
New York City Labor Against the War, U.S.A.
PGFTU - Palestine General Federation of Trade Unions, Palestine
O Partido Trabalhista holandês, segundo mais votado do país e membro do governo da Haia, está a preparar um documento para enviar ao ministro dos Negócios Estrangeiros, Maxime Verhagen, a propor-lhe a adopção de sanções contra Israel segundo o modelo das que a seu tempo foram adoptadas contra a Áustria sob o governo de Jörg Haider.
Verhagen, membro do partido da direita CDA, maioritário na coligação, é conhecido como um apoiante de Israel. O Partido Trabalhista manifestou a convicção de que o governo israelita em que pontifica o leader da extrema-direita sionista Avigdor Lieberman não deseja a paz, por se tratar de um extremista com características racistas.
As discussões a este respeito entre os dois partidos da coligação vão prosseguir na próxima semana.
Fonte: www.haaretz.com, "Key Dutch party: Sanctions against Israel if it thwarts peace", 11.04.09
Três polícias israelitas foram formalmente arguidos pelo espancamento e roubo cometidos contra quatro palestinianos em 2006. Os palestinianos eram trabalhadores indocumentados que regressavam a suas casas, na área de Hebron. Os polícias espancaram-nos com bastões, apedrejaram-nos e obrigaram-nos a esvaziar os bolsos, tendo roubado 300 shekels a um e 800 a outro.
A promessa de "paz económica" de Benjamin Netanyahu anuncia um novo estádio da colonização.
Os israelitas ofereceram aos palestinianos vários tipos de "paz". A primeira tentativa que fizeram para chegar aos palestinianos foi em 1948 com uma proposta de "paz racista". A limpeza étnica era a base para a "paz racista", num momento em que os terroristas sionistas expulsaram dois terços da população palestiniana das suas casas. A lógica era que a expulsão acabaria com o conflito entre sionistas e palestinianos (por via da eliminação de uma das partes), permitindo aos sionistas disfrutarem da paz num oásis etnicamente judeu. Os palestinianos, teimosos como eram, recusaram o Estado sionista racista como base para a "paz".
Israel estendeu então incansavelmente a mão aos palestinianos, oferecendo-lhes em vez disso uma "paz militar" em que um Estado sionista armado até aos dentes manteria o medo nos corações dos palestinianos. A lógica era que através da capacidade de dissuasão militar os palestinianos aceitaram a sua condição de expulsos. Pouco depois da expulsão de 1948, os refugiados palestinianos tentavam constantemente voltar às suas propriedades. Os sionistas lançaram então uma campanha contra o direito de regresso. Centenas foram mortos desta forma, incluindo através de massacres como o de Qibya em 1953, Líbano em 1982, Jenine em 2002 e Gaza em 2009. Contudo, os palestinianos continuaram a recusar a dmoinação militar sionista como base para a "paz".
Sendo aquelas duas propostas de paz muito toscas, Israel concebeu uma "paz de apartheid" como proposta mais elaborada a fazer aos palestinianos, esperando que eles finalmente reagissem de modo favorável. A separação física entre judeus e árabes palestinianos era a base para a "paz de apartheid". A lógica era que os palestinianos ficariam com uma autonomia limitada para gerir os seus assuntos internos e para construir as suas próprias instituições, mas que as suas reivindicações acabariam por ter de ficar abaixo da plena soberania. Alguns palestinianos foram cooptados ao assinar os acordos de Oslo 1993, aceitando o apartheid como a base para a "paz".
Durante os anos seguintes, Israel consolidou a sua visão para uma "paz de apartheid", a que generosamente se referia como uma "solução de dois Estados". Aos palestinianos foi retirada mais terra para a construção de colonatos só-para-judeus e de estradas só-para-judeus, framgentando os territórios ocupados. As demolições de casas afastaram os indesejados palestinianos de certas áreas e foi construído um muro para cercar os ghettos. A ofensiva de "paz" israelita dividiu os palestinianos entre aqueles que aceitavam o apartheid israelita, nomeadamente a colaboracionista Autoridade Palestiniana de Ramallah, e aqueles que recusam subordinar os seus direitos mais elementares ao racismo de Israel.
Na mais recente oferta de paz, o novo primeir-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, prometeu aos palestinianos "paz económica", desta vez literalmente. Anteriores governos israelitas usaram a economia para pacificar os palestinianos e engodá-los com ganhos individualistas e materialistas a curto prazo. Netanyahu, todavia, é astuto e considera que as circunstâncias são hoje diferentes do que eram nos anos 70 ou 90. Ele goza de um apoio ainda mais entusiástico do lado palestiniano e da comunidade internacional.
Desde que tomou posse, Salam Fayyad, o primeiro-ministro não-eleito da colaboracionista Autoridade Palestiniana, trabalhou com o enviado do Quarteto, Tony Blair, para desenvolver um plano económico que "revitalizasse" a economia palestiniana. A Conferência de Paris em fins de 2007 juntou 7,4 biliões de dólares para o "Plano de Reforma e Desenvolvimento Palestiniano". Apelou à criação de um "ambiente favorável para o crescimento do sector privado". O documento nada diz sobre liberdades fundamentais e direitos humanos. Além disso, ele coloca Israel na posição de parte motora, normalizando o seu estatuto como ocupante e aceitando explicitamente as estruturas da colonização. O plano apela por exemplo à criação de "checkpoints agradáveis para os turistas".
Muito devido à pressão do lobby da segurança, Israel resistiu no passado a facilitar este tipo de iniciativas, recusando desmantelar os controlos de estrada ou permitir o acesso de investidores estrangeiros. Condicionou esses passos à demonstração da vontade dos palestinianos de policiarem e conterem a resistência às acções colonialistas de Israel. As forças de segurança colaboracionistas passaram um teste decisivo durante os 22 dias do massacre israelita em Gaza, quando centenas de protestatários foram violentamente reprimidos e impedidos de expressarem a sua repulsa pelos ataques ou de chegarem aos checkpoints israelitas. As forças de segurança actuaram como leais sub-empreiteiras no interesse de Israel. Israel pretende agora recompensar a camarilha de Ramallah com "medidas de criação de confiança", como incentivo para prosseguirem na colaboração.
A "paz económica" proposta por Netanyahu não deveria ser vista apenas neste contexto e sim, também, como o início de um novo estádio de colonização. Israel tem tido êxito em dividir os palestinianos em diferentes grupos, politica e geograficamente separados. Israel também tem tido êxito em criar uma classe política colaboracionista. Israel falhou, contudo, em esmagar o desejo de liberdade dos palestinianos e o seu direito de resistir à agressão. Por outras palavras, Israel tem tido êxito na colonização física da terra, controlando de facto o conjunto da Palestina histórica, mas tem falhado em colonizar as consciências palestinianas, pelo menos na sua maior parte. É esse o objectivo deste novo estádio.
Uma amostra do que está para vir já está à vista na burocracia colaboracionista da Autoridade Palestiniana. Empregando cerca de 300.000 pessoas, ela é a maior empregadora nos territórios ocupados. Estes empregados e as suas famílias dependem da burocracia para manter os seus níveis de vida, beneficiando de incentivos pela obediência e pagando custos pela dissidência política, designadamente perdas de rendimentos e represálias políticas. A "paz económica" de Netanyahu vai significar que, além da estratificação política existente na sociedade palestiniana, vai ser cooptada uma classe capitalista para submeter a classe trabalhadora palestiniana às exigências do mercado. Espera-se que os palestinianos passem a sentir-se demasiado confortáveis com as novas liberdades económicas para não não relegarem os direitos políticos a um segundo plano. A ideia consiste em criar um homo economicus, um individualista, interessado apenas em si próprio, um escravo das estruturas capitalistas de desigualdade. A dependência desta estrutura neo-liberal em vias de formação visa acabar com a acção individual e colectiva. A falsa consciência daí resultante - no quadro dum capitalismo hegemónico - reflecte a relação de forças entre ocupante e ocupado
Claro que nem tudo é cinzento e triste. Os palestinianos sobreviveram aos piores atentados contra a sua existência. A ideia de que os palestinianos podem simplesmente ser manipulados é demasiado ingénua nos seus fundamentos. Ela está ligada a uma visão orientalista de um povo inferior, que o considera destituído de princípios, e supõe que os palestinianos de barriga cheia aceitarão a sua condição de oprimidos. Israel esquartejou a palavra "paz" nos seus vários significados. A mais recente proposta de "paz económica" de Netanyahu ficará para os livros de História como uma das muitas tentativas falhadas para controlar um povo que tem fome e sede de justiça.
Ziyaad Lunat é um activista no movimento de solidariedade com a Palestina e co-fundador da Palestine Solidarity Initiative (www.palestinesolidarity.org). Pode ser contactado pelo e-mail z.lunat@gmail.com.