O Instituto de Yad Vashem, especializado no estudo do Holocausto, despediu Itamar Shapira, docente e guia porque este, nas suas palavras, "disse que havia pessoas a viverem nesta terra e mencionei o facto de haver outros traumas [além do Holocausto] que fornecem motivações a outras nações. O Holocausto levou-nos a estabelecer um Estado judeu e o trauma da nação palestiniana leva-a a procurar a sua auto-determinação, identidade, terra e dignidade, tal como o sionismo os procurou".
O instituto achou que isto constituía uma comparação entre o Holocausto e a limpeza étnica de 1948, que expulsou centenas de milhares de palestinianos, por eles conhecida como "Nakba" ("catástrofe"). E, afirmando que não podia aceitar uma politização do tema do Holocausto, despediu o docente que recusava silenciar factos da limpeza étnica.
A isto comentou ainda Shapira que, "se Yad Vashem decide ignorar os factos, por exemplo o massacre de Deir Yassin [aldeia árabe cuja população foi chacinada em 1948] ou a Nakba, isso significa que tem medo de alguma coisa ou que a sua abordagem histórica está viciada".
Aluf Benn é um cronista insuspeito do diário israelita Haaretz, defensor quase incondicional do ataque israelita contra Gaza, mas, ao mesmo tempo, preocupado com a loucura que parece ter-se apoderado dos militares e políticos sionistas.
Na edição de hoje do Haaretz on-line em inglês, dois artigos seus reflectem esta preocupação. Num deles, comenta os resultados da "investigação" que o exército conduziu sobre as acusações que lhe eram dirigidas por ter cometido crimes de guerra durante a "Operação Chumbo Derretido".
Entre outras, podemos citar as frases seguintes deste atormentado e angustiado paladino da operação:
"As cinco investigações detalhadas do IDF [Israel Defense Forces] sobre a Operação Chumbo Derretido reflectem uma obstinada concentração das atenções sobre as árvores e uma recusa a discutir a floresta". (...)
"Terá a destruição de casas sido 'proporcional', como as investigações sugerem? É uma questão de interpretação. Alguns dos peritos legais que participaram na investigação pensam outra coisa, e dois oficiais de infantaria com posições-chave durante os combates comentaram: 'Limitámo-nos a arrasar povoações'". (...)
"Em Gaza a doutrina era 'risco zero' para as vidas dos soldados, mesmo quando isso significava atingir civis inimigos". (...)
No outro artigo, Harel discute a campanha do governo da extrema-direita para amalgamar o risco de um Irão nuclear com o Holocausto nazi. Ele põe o dedo na ferida, ao citar a ideia do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu de que o problema não é tanto o de um Irão nuclear alguma vez se atrever a bombardear Tel-Aviv (hipótese mais do que remota), mas o de esse Irão se tornar um interlocutor negocial com uma relação de forças indesejada pelo sionismo, até agora habituado, e mal habituado, a impor-se em todas as negociações com a prepotência que lhe confere o monopólio da arma nuclear.
Comenta Harel: "Não há dúvida que tal situação seria desagradável, mas nem por isso constituiria uma catástrofe nacional ou um genocídio".
Depois, observa que "Netanyahu anda a avisar o mundo: 'Se vocês não actuam, vamos actuar nós'. E o mundo não fica nada excitado". A opinião pública israelita, voltada para o próprio umbigo, pelo contrário, fica excitadíssima e a histeria retórica de Netanyahu "está a bloquear qualquer caminho de recuo, dele e do país, para a confrontação militar".
Enfim, Arel sublinha o efeito desmoralizante que a comparação entre o Irão e a Alemanha nazi irá ter sobre as jovens gerações sionistas: "Se o programa nuclear do irão é o combóio para Auschwitz, então o que farão os israelitas e os judeus se falhar uma operação para travar esse programa e se o Irão conseguir a bomba? O que deverão pensar os jovens ao olharem para o futuro. Se a analogia com o Holocausto for aceite como óbvia, a resposta é clara: eles devem procurar refúgio noutro lugar. Muitos dos que se salvaram do Holocausto deixaram a Europa a tempo, antes da conquista nazi, especialmente em direcção aos EUA e a Israel. Se Israel está realmente confrontado com um Holocausto, então Netanyahu devia pedir a Barack Obama vistos de imigração para seis milhões de israelitas, e não apenas uma luz verde para atacar o Irão".
Palavras também para serem meditadas, entre nós, pelos e pelas ferrabrazes que em editoriais e crónicas do "Público" apelam todos os dias a uma guerra contra o Irão.