Uma realidade dura para os palestinianos
Ahmad Tibi*
A coligação de direita do novo primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu não começa bem para os palestininanos em Israel. Com a nomeaçºao de Avigdor Liberman para ministro dos Negócios Estrangeiros, os extermistas vão perseguir a população indígena e ameaçam-nos com testes de lealdade e a possibilidade de “transferência” para uma área controlada nominalmente pela Autoridade Palestiniana.
A intransigência de Netanyahu face aos palestinianos nos territórios ocupados é certamente motivo de preocupação. Não menos preocupante é o que a coligação Netanyahu-Liebermann pode significar para os cidadãos palestinianos de Israel.
Este governo, especialmente com Lieberman como ministro dos Negócios Estrangeiros, devia ser boicotado pela comunidade internacional, tal como esta em tempos boicotu Jörg Haider, o falecido político da extrema-direita austríaca que obteve notoriedade global pelas suas opiniões anti-imigrantes.
Lieberman, num dos seus muitos comentários revoltantes, declarou em Maio de 1994 que 90% dos cidadãos palestinianos de Israel “não têm lugar aqui. Eles podem fazer a trouxa e ir-se embora”.
Mas a minha família e eu estávamos neste país séculos antes de cá chegar Lieberman em 1978, vindo da Moldávia. Estávamos entre a minoria que conseguiu ficar quando uns 700.000 palestinianos foram expulsos por Israel em 1948.
Hoje, Lieberman acicata os sentimentos anti-palestinianos com a sua ameaça de “transferência” – um eufemismo para uma renovada limpeza étnica. Também Henry Kissinger apelou a uma troca territorial e Lieberman cita Kissinger para emprestar um aspecto mais sofisticado à sua estúpida ideia. Lieberman e Kissinger planeiam trocar uma parte de Israel por uma parte da Margem Ocidental ilegalmente ocupada por colonos judeus.
Mas Israel não tem direitos legais sobre nenhum dos territórios palestinianos ocupados. E Lieberman não tem o direito de oferecer a terra onde vivo em troca pela integração de colonos judeus dentro de fronteiras redefinidas do Estado de Israel. Nós somos cidadãos do Estado de Israel e não queremos trocar a nossa cidadania de segunda classe no nosso país – por muito que estejamos sujeitos a muitas leis que nos discriminam – pela vida num bantustão palestiniano.
Levamos a sério a nossa cidadania e lutamos todos os dias para melhorar a nossa sorte e vencer as leis e práticas discriminatórias.
Enfrentamos a discriminação em todos os terrenos da vida. Os cidadãos árabes constituem 20% da população, mas apenas 6% dos empregados no sector público. Não há nem um funcionário árabe no banco central de Israel. Imaginem se não houvesse nenhum afro-americano empregado no banco central dos EUA.
Israel mantém simultaneamente três sistemas de governo. O primeiro é a plena democracia para os seus cidadãos judeus – etnocracia. O segundo é a discriminação racial para a minoria palestiniana – um sistema rastejante de Jim Crow. E o terceiro é a ocupação dos territórios palestinianos com um conjunto de leis para os palestinianos e outro para os colonos judeus – apartheid.
Há umas semanas atrás, o partido de Lieberman, Yisrael Beitenu, conduziu o ataque no Knesset israelita para proibir o meu partido – o Movimento Árabe para a Renovação – de participar nas eleições. O Likud de Netanyahu apoiou a acção. O Supremo Tribunal de Justiça anulou as manobras dos políticos. Mas a tentativa que fizeram para impedira nossa participação deveria bastar para desmascarar aos olhos do mundo a fraude da democracia israelita.
A agitação de Lieberman contra os cidadãos palestinianos de Israel não é nova. Há menos de três anos, ele apelou à minha eliminação e à eliminação de alguns colegas do Knesset por ousarem encontrar-se com dirigentes palestinianos democraticamente eleitos. Discursando perante o plenário do Knesset, Leiberman declarou: “A Segunda Guerra Mundial terminou com os julgamentos de Nuremberga. Os dirigentes do regime nazi e os seus colaboracionistas foram executados,. Espero que esse seja o destino dos colaboracionistas deste parlamento”. Lieberman tem agora o poder de pôr em prática as suas opiniões celeradas.
Apelamos a uma maior atenção da Administração Obama para com a minoria palestiniana de Israel. Ela é uma minoria oprimida que sofre duma repartição incorrecta dos recursos do Estado. Do enorme pacote anual de ajudas económicas dos EUA a Israel quase nada chega à nossa comunidade.
Entre Netanyahu e Lieberman, a Administração Obama não vai ter mãos a medir. Não se enganem: Netanyahu e Lieberman vão pressionar duramente a nova Administração para aceitar as acções israelitas na Margem Ocidental, em Gaza e em Jerusalém Oriental – bem como as acções de discriminação anti-palestiniana em Israel propriamente dito. Os colonatos vão crescer e a discriminação vai aprofundar-se. A coluna vertebral norte-americana será decisiva nos próximos meses.
* Ahmad Tib é deputado no Knesset, o parlamento israelita. O artigo foi traduzido do The New York Times, de 6 de Abril de 2009