Internautas pagos para divulgar a propaganda israelita
Um artigo de Jonathan COOK
«A expressão entusiástica do apoio a Israel nas reacções e comentários publicados nos sites de internet, nos fóruns, blogs, twitter e facebook parecem não ser tão espontâneos como se quer fazer crer.
O ministro israelita dos Negócios Estrangeiros criou uma equipa especial e secreta de assalariados, cujo trabalho consiste em navegar na internet 24 horas sobre 24, a fim de divulgar a boa palavra. […] A existência de uma 'máquina de guerra' no ecrã foi revelada pela publicação do orçamento anual do ministério dos Negócios Estrangeiros. Cerca de 150.000 dólares foram afectados para a primeira fase do seu desenvolvimento, enquanto se espera fundos mais importantes para o próximo ano.
A equipa em questão estaria sob a direcção de um vasto serviço dependente da «hasbara», literalmente «explicação pública», que significa mais prosaicamente propaganda. Isto não inclui apenas o trabalho de relações públicas do governo, mas acordos mais secretos concluídos entre o ministério e uma série de organizações e de iniciativas privadas que promovem a imagem de Israel na imprensa, na televisão e na internet.
Numa entrevista dada em Julho ao Calcalist, jornal económico israelita, Shturman, director adjunto do departamento da propaganda («hasbara») no ministério, admitiu que a sua equipa trabalhava clandestinamente. 'As nossas pessoas […] falarão como se fossem internautas e cidadãos, escreverão respostas que parecerão pessoais, mas que se basearão numa lista de mensagens já preparadas pelo ministério dos Negócios Estrangeiros'.
Rona Kuperboim, journalista do Ynet, o site de informação israelita mais popular, denunciou esta iniciativa que prova, na sua opinião, que Israel se tornou num Estado totalitário. 'Boas relações públicas não podem tornar a realidade dos territórios ocupados mais agradável. Crianças são mortas, casas são bombardeadas, famílias esfomeadas'. […]
'Durante a operação Chumbo derretido, recorremos às comunidades judaicas do estrangeiro e com a sua ajuda recrutámos alguns milhares de voluntários que se juntaram aos voluntários israelitas', disse Shturman. 'Demos-lhes o material básico e o da 'hasbara', e mandámo-los representar o ponto de vista israelita nos sites e nas sondagens da internet'. […] Shturman precisou que durante a guerra o ministério tinha concentrado os seus esforços nos sites europeus, onde o público era mais hostil à política israelita. No topo da lista dos sites visados por este novo projecto estão a BBC Online e os sites árabes.
A nova equipa deverá aumentar a coordenação estreita do ministério com um grupo privado de apoio, giyus.org ('tragam a Israel o vosso apoio unido'). Estima-se que cerca de 50.000 pessoas farão download do programa Megafone, que envia um sinal de alerta para o computador sempre que um artigo criticando Israel é publicado. Têm então que bombardear o site em questão de comentários pró-israelitas. [...]
Jonathan Cook é escritor e jornalista e vive em Nazaré. O seu site: www.jkcook.net