A aliança espúria entre a direita israelita e os anti-semitas da Europa
Nacionalistas extremistas de Israel convidaram extremistas europeus e pensam que os aliciaram para a sua causa.
O artigo que se segue foi publicado na versão inglesa do jornal Haaretz de 13 de Dezembro. O seu autor, Adar Primor, pertence à ala liberal do regime sionista.
Ai da Europa! O seu braço oficial, magnânimo e poderoso estendeu-se em direcção a nós na forma de dezenas de bombeiros e de aviões de combate a incêndios, enviados para combater a catástrofe de Carmel. O seu outro braço - o proscrito, o desobediente - veio atear incêndios cujos estragos são imprevisíveis. Estes tomaram a forma da aliança espúria entre figuras da direita israelita e nacionalistas extremistas e mesmo anti-semitas da Europa, que está a ganhar fôlego na Terra Santa.
O primeiro dos pirómanos, o deputado holandês Gert Wilders - quase um hóspede permanente em Israel - foi convidado pelo deputado Aryeh Eldad (União Nacional) , para convencer-nos de que a Jordânia faz parte da Palestina. Em 2008, Wilders fez manchetes quando o seu filme "Fitna" estabeleceu uma ligação entre o Corão e o terrorismo islâmico. Ele muitas vezes compara o Corão com o "Mein Kampf" e apela à taxação de construções muçulmanas "que poluem a paisagem holandesa". Durante a sua visita a Israel deixou cair várias pérolas de sabedoria, como a de que "sem Judeia e Samaria, Israel não conseguirá proteger Jerusalém".
Outro perito europeu em atear fogos é o político belga Filip Dewinter, que foi convidado a participar noutra conferência também realizada em Israel, esta organizada pelo antigo deputado de Yisrael Beitenu, Eliezer Cohen. Aborrecido por Eldad lhe ter "roubado" Wilders debaixo do nariz, Cohen trouxe à sua própria convenção de islamofobia um punhado de racistas que fazem o populista holandês parecer um cordeirinho inocente.
Dewinter é o líder do partido Vlaams Belang, um continuador do Movimento Nacional Flamengo, muitos dos membros do qual colaboraram com os nazis. Entre os seus membros actuais conta-se um certo número de negacionistas do Holocausto. O próprio Dewinter movia-se em círculos anti-semitas e tem ligações com partidos europeus extremistas e neo-nazis. Em 1988, ele prestou homenagem às dezenas de milhares de soldados nazis sepultados na Bélgica e, em 2001, começou um discurso com uma fórmula de juramento usada pelas SS.
Mas a honra de acender a tocha vai para a jóia mais brilhante desta coroa racista - Heinz-Christian Strache, dirigente do austríaco Partido da Liberdade. Se Jörg Haider era o "neto espiritual de Hitler", então Strache é o seu bisneto extremamente ilegítimo. O seu avô esteve nas Waffen-SS e o seu pai na Wehrmacht. Quando estudante universitário, Strache pertencia a uma organização extremista em que não eram admitidos judeus, passeava-se com neo-nazis e participava com eles em exercícios para-militares.Observadores austríacos afirmam que Strache tenta copiar Haider, mas que é menos sofisticado e em última análise mais extremista do que o seu modelo (uma selecção dos brilhantes comentários de Strache foi publicada numa sua entrevista com o Haaretz em Março).
Os organizadores destas visitas acham que aliciaram este punhado de extremistas trazidos da Europa e que, depois de terem trocado o seu demónio-inimigo judeu pelo modelo de imigrante-criminoso muçulmano, andam agora a cantar em uníssono que a Samaria é terra judaica. Em breve andarão a deixar crescer a barba e a cobrir-se com a kippa. Mas eles não renegaram genuinamente o seu ADN e, de qualquer modo, não procuram outra coisa senão a absolvição judaica que lhes permita chegarem mais próximo do poder político.
À lista dos que envergonharam este país hospedando tais figuras, juntam-se o Colégio Académico de Ashkelon, que lhes deu uma tribuna; o deputado Nissim Zeev (do Shas), que os recebeu no Knesset; o vice-ministro Ayoob Kara (do Likud), que expressou a sua satisfação por se encontrar com estes "amigos de Israel, que devemos encorajar"; e a Força Aérea Israelita, que manchou a sua reputação permitindo que Cohen, um veterano da força, levasse este bando para um passeio exclusivo numa esquadrilha de F-15.
A imprensa austríaca observava nesta semana que o branqueamento em curso por Strache na nossa Terra do Leite e do Mel poderia muito bem pavimentar o seu caminho para o gabinete de chanceler. E, como eles dizem: "Pela glória do Estado de Israel".