O Comité de Solidariedade com a Palestina denuncia o ultraje cometido contra o povo português pelo embaixador israelita em Lisboa, Ehud Gol, em entrevista à TVI 24 na noite de 23 de setembro. Aí afirmou Gol, nomeadamente, que os israelitas têm mais direitos sobre Jerusalém do que os portugueses têm sobre Lisboa.
Se a afirmação de Gol fosse verdadeira, ela implicaria que os direitos de soberania do Estado português sobre o seu próprio território fossem nulos. Com efeito, os "direitos" de Israel a colonizar Jerusalém Oriental e a expulsar a sua população palestiniana, não são direitos, e sim violações do direito internacional. Assim os classificam, aliás, numerosas resoluções da ONU, que há muito teriam feito de Israel um Estado-pária se não fosse a sistemática protecção que lhe dispensam várias grandes potências, com especial destaque para os EUA.
O desprezo da Embaixada israelita pela dignidade de um país anfitrião, neste caso Portugal, manifesta-se nomeadamente no check point que há vários anos tem instalado a sua porta, a interromper o trânsito num dos sentidos da R. Pinheiro Chagas. A Câmara Municipal de Lisboa deveria seguir o exemplo da municipalidade de Oslo e obrigar a embaixada israelita a mudar-se para fora da cidade, impedindo assim que os moradores do bairro se tornem escudos humanos de uma embaixada com especiais problemas de segurança. Esse desprezo da embaixada sionista manifestou-se também na grosseira repreensão que emitiu contra todos os partidos portugueses, da esquerda à direita, sem excepções, por terem permitido com votos favoráveis ou com abstenções a aprovação na Assembleia Municipal de Lisboa de uma proposta de geminação entre Gaza e Lisboa.
Em qualquer país que prezasse a sua dignidade e soberania, a provocação do embaixador Gol na TVI 24 valer-lhe-ia ser imediatamente declarado persona non grata. Em Portugal, espera-se que, no mínimo, o embaixador seja convocado ao MNE para apresentar explicações sobre o seu questionamento da soberania do Estado português.
O Queer Lisboa, festival de cinema gay e lésbico da capital portuguesa, abandonou o patrocínio que desde há muito lhe era prestado pela Emabaixada Israelita, na sequência de uma persistente campanha de activistas que lutam pelo boicote de Israel até que este cumpra as suas obrigações à luz do direito internacional e respeite os direitos humanos dos palestininanos. A embaixada israelita vinha apoiando o festival ao longo dos últimos anos como parte da sua campanha “Brand Israel”, lançada em 2005 com o objectivo de desviar a atenção da sua contínua violação do direito internacional e direitos palestinianos, para os seus feitos artísticos e científicos. Uma coligação de organizações portuguesas, incluindo o colectivo de direitos LGBT “Panteras Rosa” e o Comité de Solidariedade com a Palestina, protestou à porta do evento no ano passado exigindo que a organização do festival rejeitasse aquele patrocínio imoral. Os protestos tiveram alguma cobertura mediática pondo em causa o festival. O realizador canadiano John Greyson abandonou sua participação no festival após saber do patrocínio. Numa declaração, Greyson, que havia sido galardoado com a maior honra do Festival em 2009, afirmou que “Tanto os activistas queer portugueses como palestinianos fizeram ver que este apoio viola o apelo feito em 2005 pela sociedade civil palestiniana que pede aos artistas e académicos de consciência que boicotem o estado israelita, em protesto contra a ocupação corrente.” Sérgio Vitorino, porta-voz das “Panteras Rosa” referiu que “Israel usa os eventos queer para fazer “pinkwash” [branqueamento rosa] do apartheid, desviando as atenções da opressão que exerce sobre os palestinianos assim como da verdadeira homofobia com que se confronta a comunidade LGBT dentro de Israel e qualquer gay ou lésbica palestiniano a viver debaixo de uma brutal ocupação militar.” Sérgio acrescenta “Felicitamos a decisão do Queer Lisboa abandonar este patrocínio para que possamos continuar a celebrar a verdadeira mensagem do festival – a da igualdade e da tolerância.” A campanha Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS) foi lançada em 2009 por uma coligação plural que inclui organizações de solidariedade, direitos humanos e anti-racismo, em resposta a um apelo feito pela maioria da sociedade civil palestiniana em 2005. Para saber mais sobre esta campanha global ver: http://www.bdsmovement.net/