Mensagem de Mazin Qumsyieh nos 64 anos da Nakba
Mazin Qumsyieh é um activista palestiniano e propagandista da resistência popular não violenta, residente em Belém
"Neste 64° aniversário da Nakba, estamos de luto pela limpeza étnica que começou em 1948 e que continua hoje com transferências sub-reptícias, demolições de casas, confiscações de terras, etc. Porém, celebramos também uma resiliência e um êxito espantosos do povo palestiniano autóctone, em condições incrivelmente desfavoráveis."
"Acabamos de festejar o sucesso duma greve da fome levada por mais de 1 600 prisioneiros políticos, apesar de tentativas para ocultar este facto nos media ocidentais sob dominação sionista. Os presos conseguiram ganhar uma parte dos seus direitos fundamentais, entre os quais o de receber as visitas de suas famílias e o fim da encarceração em isolamento.
- Somos 11,5 milhões, e apesar da maioria de nós sermos pessoas refugiadas e deslocadas, continuamos firmes, cheios de esperança e unidos entre nós. Graça a esta perseverança, e agora a internet e aos meios modernos de comunicação, até as fracas tentativas para isolar-nos uns dos outros fracassaram. Milhares de palestinianos continuam a ir à sua capital Jerusalém sem autorização israelita. Milhares estão conectados com as zonas ocupadas desde 1948, de cada parte da Linha Verde.
- Continuamos sendo a população mais educada do Médio Oriente, com a maior taxa de diplomados do ensino superior. Já possuímos 12 universidades na Palestina ocupada. Sábado passado, fizemos em Belém o segundo congresso internacional de investigação biomédica, pondo em evidência uma actividade científica que rivaliza com a realizada em países dotados de uma grande tradição de investigação. O que é milagroso, sabendo das condições impostas pela ocupação.
- Continuamos sendo o povo que contribui para desenvolver o mundo árabe e manter viva a memória da sua unidade e do seu destino comum. Mais ainda, foi a nossa resistência que protegeu os nossos irmãos árabes contra os planos sionistas iniciais de um império se espalhando do Nilo até o Eufrates. Continuamos a ser o obstáculo maior à vitória do projecto sionista e racista.
- Temos uma história espantosa de 130 anos de luta contra o projecto colonial (elaborado pelos sionistas e seus apoios ocidentais) que na história foi o mais bem financiado, o mais organizado e o mais apoiado.
- Temos, na história das lutas anticoloniais, as campanhas mais dinâmicas, de boicote, desinvestimento e sanções (BDS). Em menos de 7 anos, realizámos muito mais do que o que foi cumprido por BDS em qualquer outro lugar (inclusive durante 25 anos na África do Sul).
- A Palestina é o lugar onde povos de religiões diferentes viveram juntos e sem segregação nos mesmos bairros, até à chegada de sionistas europeus, que criaram de novo guetos para os palestinianos (muçulmanos e cristãos), e para os judeus, um vasto gueto chamado Israel. Os sinos das igrejas e a chamada do muezzin à oração continuam a penetrar profundamente as nossas almas, apesar das tentativas sionistas de as reduzirem ao silêncio (por exemplo, pela limpeza étnica e a destruição de 530 aldeias e cidades).
- Ensinamos aos nossos filhos que o racismo e as noções de povo eleito são aberrantes, e eles crescem na esperança de que podemos ainda ter uma nova Palestina que será como a de antigamente: multiétnica, multirreligiosa, multicultural e bela.
- Os palestinianos inspiraram activistas no mundo inteiro. As sondagens revelam uma grande simpatia pela nossa causa entre as pessoas comuns. A Palestina é agora uma causa famosa para quem luta contra a opressão. O próprio Nelson Mandela avisou que a África do Sul não será totalmente livre antes de a Palestina ser libertada. Segundo os inquéritos de opinião, uma maioria na Europa ocidental percebe, com razão, Israel e os USA como sendo os dois perigos maiores para a paz no mundo. Milhares de internacionalistas juntaram-se a nós localmente na luta. Por isso Israel ganhou a paranóia no que diz respeito a qualquer visita de solidariedade com os palestinianos, pondo assim em evidência a sua essência de apartheid racista.
Estamos agradecidos para com todos os que contribuíram para aperfeiçoar o futuro da humanidade. Estou seguro de que a nossa Nakba acabará, que os refugiados voltarão, que a liberdade e a igualdade acontecerão e que os israelitas também serão libertados daquele papel de opressores e colonizadores para se integrarem na edificação de uma nova e melhor Palestina. Poderemos então ser uma «luz entre os povos».
Mazin Qumsiyeh, PhD
Fonte : http://popular-resistance.blogspot....