Num artigo publicado em Janeiro, César Chelala, correspondente do jornal australiano Middle East Times International, revela estatísticas israelitas, segundo as quais 237 soldados se suicidaram nos últimos dez anos. Este número representa uma média de 1 suicídio em cada duas semanas.
A diferença entre as estatísticas oficiais de mortes publicadas pelo exército e o número de homenagens póstumas no site oficial de comemoração "Yizkor" levou um blogger a suspeitar de que o número de suicídios no seio do exército seria muito maior do que o oficial e a divulgar novos números.
Segundo um artigo publicado no Haaretz de 31.12, "a principal causa de morte entre soldados da Israel Defense Forces, é o suicídio, segundo uma análise dos dados dos últimos três anos. Em 2011, o ano mais recente para o qual o exército dispõe de dados, 21 soldados puseram fim à vida - mais do que o número de soldados mortos em consequência de doenças, acidente de viação, acções operacionais ou outras tragédias.
***
Um jovem soldado israelita, Natan Blanc, recusa pela 5ª vez ser incorporado no exército de ocupação. Ele recusa-se a destruir as plantações dos camponeses palestinianos, a invadir as suas casas a meio da noite para os expulsar das suas aldeias, a reter mulheres a caminho do hospital e crianças a caminho da escola nos checkpoints. Por essa teimosia, esta a pagar com mais uma pena de prisão.
O conflito entre Israel e a Palestina tem várias dimensões, sobretudo económicas, territoriais e religiosas. O exponente máximo deste conflito, o seu local de maior intensidade, é o Monte do Templo, ou o complexo de Al-Aqsa. Nenhum lugar na terra é tão disputado de forma tão intensa por tantas pessoas. Uma resolução para o conflito não poderá acontecer sem uma solução viável relativa ao controle e utilização deste pequeno território. Sobretudo, os conflitos que acontecem constantemente neste complexo poderão levar a uma escalada do conflito a uma escala regional e possivelmente global.
As disputas sobre a posse de terra orbitam à volta de fatores recorrentes. Um pedaço de terra é mais ou menos disputado consoante o seu valoreconómico, simbólico, emocional, religioso ou estratégico. Neste contexto, é normal constatar que os terrenos dos quais se pode extrair um altorendimento são disputados. Um terreno que simbolize algo contencioso pode igualmente ser o palco físico para disputas teóricas. Se um lugar tiver um valor emocional para muitas pessoas, por ter sido o lugar de um acontecimento histórico ao qual é afixada uma grande importância, por exemplo, o controle sobre esse lugar será disputado a uma maior escala. Se um ou vários sistemas ideológicos afixarem uma importância acrescida a um local, a disputa relativa a quem compete a gestão das atividades desse local irá ser equivalente à disputa sobre pormenores ritualísticos e tradições filosóficas. Se um lugar representar uma mais-valia estratégica, especialmente a ocupação de pontos altos, o que se traduz para uma presença militar numa posição vantajosa, esse lugar irá inevitavelmente ser ponto de conflito espacial acrescido.
O Complexo Al-Aqsa, também chamado o Monte do Templo, em Jerusalém
Não existe nenhum lugar no planeta que tenha um valor económico, simbólico, emocional, religioso ou estratégico tão grande para tantas pessoas como o complexo Al-Aqsa, o Monte do Templo, em Jerusalém, na Palestina/Israel, e em particular o pequeno edifício da mesquita Al-Aqsa.
A Mesquita Al-Aqsa (vista do Sul e de fora da Velha Cidade de Jerusalém)
O complexo de Al-Aqsa, também conhecido como o Monte do Templo, é o sítio mais importante do planeta simplesmente porque é o sítio ao qual mais pessoas dão uma grande importância. É, e tem vindo a ser, sem dúvida, o ponto focal de conflitos políticos e religiosos através dos milénios a uma escala global.
O complexo de Al-Aqsa tem uma área de somente 150,000 metros quadrados, e o terreno onde hoje se encontra a mesquita Al-Aqsa, somente 35,000 metros quadrados. A disputa sobre o controle deste pequeno território continua hoje em dia, e o grau de intensidade assim como as potenciais reverberações dessa disputa estão a atingir uma intensidade cada vez maior. O Estado de Israel assim como a Autoridade Palestiniana declaram simultaneamente soberania sobre o complexo, mas desde que a cidade de Jerusalém está sobre o controlo militar e político do Estado de Israel, é este que controla os pontos de acesso ao local. O Estado de Israel oficialmente aplica um regime controverso que só permite a muçulmanos entrar no complexo, mas porém cidadãos Israelitas apoiados pelo exército Israelita estão constantemente a invadir tanto o complexo como a própria mesquita Al-Aqsa e Al-Sakrah. A polícia Israelita também em muitas ocasiões tem efetuado detenções dentro do complexo. O próprio Primeiro-Ministro de Israel, Benjamin Netenyahu, entrou no complexo abruptamente sob a proteção do exército no mesmo dia em que os resultados da sua reeleição foram conhecidos. Foi uma invasão simbólica num dia simbólico. Em Fevereiro de 2012 uma invasão provocou vários feridos, sendo a origem da violência a distribuição de panfletos do partido do Governo, o Likud, apelando a que Israel invada o complexo, destrua as mesquitas e ‘limpe a área de muçulmanos’.
Mais recentemente um filme Israelita que mostra a destruição da mesquita Al-Sakrah foi lançado:
Necessitaríamos de escrever volumes somente para produzir uma introdução à tema da importância deste local para as três grandes religiões Abraâmicas- o Judaísmo, o Cristianismo e o Islão. Existe uma quantidade vertiginosa de acontecimentos e ligações simbólicas associadas a este pequeno lugar. Ficam aqui somente alguns factos dispersos:
-A mesquita Al-Aqsa é o local onde os muçulmanos acreditam que o profeta Maomé (que a paz esteja com ele) ascendeu aos céus numa viagem astral sendo transportado pelo cavalo místico Buraq, viagemdurante a qual conversou com profetas anteriores, nomeadamente Moisés (Musa, q.a.p.e.c.e.), Abrãao (Ibrahim, q.a.p.e.c.e.), João Batista (Yahya Ibn Zakariyah, q.a.p.e.c.e.) e Jesus (Isa, q.a.p.e.c.e.).
-Nos seus primeiros anos de existência, entre 610 e 624, e ainda sob a liderança do profeta Maomé (q.a.p.e.c.e.), os muçulmanos rezavam na direção da Monte do Templo e somente depois começaram a rezar em direção à Caaba, em Meca.
-O primeiro evento de importância associado a este local é o Sacrifício de Isaac, profeta e patriarca das três religiões Abraâmicas.
‘Sacrificio de Isaac’ de Caravaggio
-A mesquita Al-Aqsa foi construída no Monte do Templo. A expressão ‘Monte do Templo’ refere-se a um altar a Deus, depois convertido em templo pelo seu construtor original, o Rei David (Nabi Dawood, q.a.p.e.c.e.), igualmente profeta e patriarca das três religiões.
-O templo foi depois expandido pelo Rei Salomão (Suleiman, q.a.p.e.c.e., profeta e patriarca das três religiões), destruído pelo Imperador da Babilónia, Nebucanezzar II, sendo depois reconstruído pelo Imperador Persa, Cirus o Grande. Foi depois expandido até ao seu tamanho atual pelo Rei Herod. Uma grande parte do templo foi destruído na primeira guerra entre os Judeus e o Império Romano.
-A mesquita Al-Sakrah foi construída em 691 depois da conquista Islâmica de Jerusalém em 637.
A Mesquita Al-Sakrah, também chamada de ‘Cúpula da Pedra’, é muitas
vezes referida incorrectamente pelo nome da Mesquita vizinha, a Mesquita Al-Aqsa
-O Corão afirma que o Rei Salomão (q.a.p.e.c.e.) puniu entidades que estavam a espalhar magia negra proveniente da Babilónia que os anjos Harut e Marut ensinavam como um teste divino aos crentes. Uma tradição Islâmica de Ibn Kathir afirma que o profeta Salomão escondeu estes livros de magia negra por baixo do seu trono, local que hoje em dia se encontra por baixo da mesquita Al-Aqsa, o mesmo local que está a ser escavado pelo Estado de Israel.
-A Ordem dos Templários, fundada após o começo da primeira cruzada Cristã nas Terras Santas em 1118, obteve o seu nome pelo facto dos seus membros terem vivido na mesquita Al-Aqsa, conquistada durante as cruzadas. Uma grande parte da mística que envolve os Templários provém das alegações que estes terão escavado por baixo da mesquita Al-Aqsa, extraindo textos e relíquias de grande valor, havendo mesmo quem diga que por baixo da mesquita os Templários terão encontrado o Santo Graal e a Arca da Aliança.
-Muitas sociedades secretas inspiram-se ou dizem seguir a tradição dos Templários, nomeadamente a Maçonaria, que tem, no Ritual de York, uma secção que ostenta o seu nome, os Cavaleiros Templários. A Ordem da Rosa Cruz, o Ku Klux Klan e a Ordem Suprema Militar do Templo de Jerusalém, são somente algumas das ordens religiosas e militares ainda em existência que se inspiram diretamente no legado dos Templários.
-O muro Ocidental do complexo do Monte do Templo é o muro das lamentações, o local mais sagrado da religião Judaica, o ponto focal dos seus rituais religiosos. Judeus Israelitas e Judeus de todo o mundo assim como milhares de turistas visitam o local todos os dias.
Esquema do complexo A-Aqsa/ Monte do Templo, demonstrando a localização do Muro das Lamentações
-Diretamente a Leste de Al-Aqsa fica o Monte das Oliveiras, onde os Cristãos acreditam que Jesus carregou a cruz às costas.
-Os muçulmanos associam a destruição futura de Al-Aqsa com a vinda de um tirano global que têm o dever de combater, o Dajjal, o Grande Mentiroso, o equivalente Islâmico do Anticristo.
Uma outra dimensão do conflito provem do facto das três religiões Abraâmicas assim como a panóplia de seitas, cultos, ordens religiosas e sociedades secretas venerarem muitas das personagens associadas a Al-Aqsa de uma forma diferente, tendo versões diferentes relativamente às suas vidas, mensagens, ações e princípios, assim como associam uma grande importância aos eventos associados a este sítio. Estas discórdias e histórias exacerbam o conflito territorial, afixando-lhe uma profundidade ideológica e subsequentemente gerando uma intensidade conflitual acrescida.
Perder o controlo sobre o complexo de Al-Aqsa seria uma catástrofe para a causa Palestiniana. A eventual destruição da mesquita Al-Aqsa ou da mesquita Al-Sakrah, ou das duas, iria sem dúvida precipitar o alastramento do conflito. Uma das razões seria que muitos dos países de maioria Islâmica que têm demonstrado, até agora, um apoio limitado à causa Palestiniana, seriam obrigados a agir na eventualidade da destruição de Al-Aqsa, tal seria a pressão da própria população. De qualquer das formas, será imperativo encontrar uma solução que permita que o local seja utilizado livremente por todos os crentes de todas as religiões. Por enquanto, o batalha por Al-Aqsa está a escalar todos os dias, ameaçando arrastar o resto do mundo para a guerra.