Israel quer pressionar os deputados europeus a anular a directiva que limita o seu acesso aos fundos da UE Um artigo do jornal La Croix
Israel negoceia com Bruxelas para manter o maná da investigação europeia
Uma directiva europeia pode privar Israel de financiamentos para os seus laboratórios que operam para além da linha verde. O Estado judaico orgulha-se das suas inovações tecnológicas e das suas ligações à investigação europeia.
No início de Agosto, a União Europeia adoptou uma directiva obrigando o Estado de Israel a indicar por escrito, a partir de Janeiro de 2014, em todos os acordos de cooperação com a UE, que ele não tem soberania sobre os territórios ocupados da Cisjordânia, Jerusalém oriental e o Golã. O objectivo declarado é o de bloquear as transferências de fundos europeus para instituições israelitas situadas para lá da linha verde que demarca Israel dos territórios conquistados em 1967 ou mantendo ligações com os colonatos judeus.
O primeiro-ministro Benyamin Netanyahou protestou vivamente contra a directiva europeia. “Ela prejudica o resultado das conversações de paz em curso com os palestinianos sobre o futuro traçado das fronteiras”, declarou, insinuando que Israel iria renunciar a participar em Horizon 2020. O ministro da defesa, Moshe Yaalon, levantou mesmo o ton, ordenando ao exército de parar toda a cooperação com a UE para projectos na Cisjordânia.
Negociar as condições de elegibilidade
“Os europeus utilizam a artilharia pesada para abater uma mosca”, insurge-se o negociador israelita Marcel Szatan. Nestes últimos sete anos, dos cerca de 900 milhões de euros entregues por Bruxelas a Israel a título da investigação e do desenvolvimento, apenas 0,5% beneficiaram projectos nas suas implantações.
Desde então, os negociadores israelitas e europeus encontraram-se várias vezes em Telavive para falarem das condições de elegibilidade ao jackpot de 70 mil milhões de euros que a União Europeia vai afectar à investigação e ao desenvolvimento durante os próximos sete anos para o seu programa-quadro Horizon 2020, na sua 8ª edição.
“A ruptura com a União Europeia teria consequências dramáticas”, previne Galia Blum. Esta farmacóloga figura entre os 32 jovens investigadores israelitas que obtiveram este ano em Bruxelas, cada um deles, uma bolsa de 1,5 milhão de euros para a continuação dos seus trabalhos. “Eu expus o meu projecto em dez minutos perante uma assembleia de peritos e convenci-os”, diz ela com orgulho.
“A nossa riqueza, é a matéria cinzenta”
A concorrência é forte. Dos 3329 projectos submetidos pelos investigadores de 22 países após uma pré-selecção drástica, apenas 287 receberam luz verde, ou seja, 9% em média, contra 31% para os israelitas, que normalmente apanham a parte do leão. Este ano, ficaram na terceira posição depois da Grã-Bretanha (60 bolsas) e da Alemanha (40), mas muito mais à frente, tendo em conta que a população de Israel é de apenas oito milhões.
“A nossa riqueza é a matéria cinzenta”, vangloria-se o presidente Shimon Peres, fazendo alusão nomeadamente à excelência da Universidade Hebraica de Jerusalém, do Technion de Haifa ou do Instituto Weizman de Rehovot, verdadeiras locomotivas do desenvolvimento económico. As invenções de Israel – que se apresenta como “Estado start-up” – deram a volta ao mundo: irrigação gota a gota, tomates-cereja, pen USB.
Um apoio financeiro crucial
Israel é o único país não europeu que participa no Horizon 2020. A sua quota-parte no fundo comum do programa-quadro anterior atingiu 600 milhões de euros e as implicações, incluindo os direitos sobre a propriedade intelectual, ultrapassaram os 1.500.000.000 euros.
A UE tornou-se o segundo maior credor dos investigadores do Estado Judaico, depois da Fundação para a Ciência em Israel.
“Desligar-se da UE significaria mandar um tiro no pé, mas também na cabeça”, defende Ada Yonath, prémio Nobel da química 2009. Na sua opinião, o apoio de Bruxelas é “crucial” para os cientistas e industriais israelitas e “a investigação isolada do mundo é impossível”.
Muito abatido, Marcel Szatan sublinha que o “os apelos ao boicote evocam lembranças cruéis nos judeus”. Ele espera que a UE possa revogar a “cláusula de territorialidade” em relação a Horizon 2020, ou até amenizar ou precisar o seu lado “aproximado”. Exemplo: as 15 empresas mais importantes (Teva, Rafa ou Intel) do parque industrial de Har Hotsvim, em Jerusalém, que estavam na mira porque se encontravam no extremo limite do antigo no man's land que separava Israel da Jordânia até 1967. Essas 15 empresas acabam de escapar por um triz, ao justificarem a sua situação geográfica exacta. Uma decisão que deu um novo tom às negociações: estas prosseguem desde então num ambiente conciliador.
JOËL DAVID, em Jerusalém
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