O movimento BDS é uma campanha de Boicote, Desinvestimento e Sanções para pressionar Israel a respeitar os direitos do povo palestiniano. Esta campanha, iniciada em 2005 e cada vez mais forte a nível mundial, inspira-se naquela que contribuiu para derrubar o regime de apartheid na África do Sul.
Artistas de todo o mundo, como Elvis Costello, Carlos Santana, The Pixies, têm-se recusado a actuar em Israel. Outros artistas e escritores, como Roger Waters, Alice Walker, Naomi Klein, John Berger, Ken Loach, Etienne Balibar, Arundhati Roy, Angela Davis, apoiam activamente a campanha BDS.
Empresas importantes e fundos de pensões estatais tiveram de romper os seus negócios com Israel; é o caso da Veolia, da Fundação Gates, da Danske Bank, da Deutsche Bank, entre muitos outros.
A campanha abrange o boicote cultural, académico, político e económico, e participar nela está ao alcance de todos nós.
Omiri - Hezbo MC - LBC Soldjah - Bandex - Francisco Fanhais - Flak - Manuel João Vieira - Gazua - King Mokadi - Marco Rodrigues - Ricardo Parreira (guitarra portuguesa)
A violência e a morte intensificaram-se nos últimos dias em Gaza, culminando num massacre, em nome de um direito de auto-defesa do Estado de Israel. Esta suposta acção de "defesa" é na verdade um ataque indiscriminado e genocida à população civil palestiniana, que já matou em poucos dias centenas de civis - homens, mulheres e muitas crianças.
Pouco antes da invasão terrestre de Gaza, o Hamas propôs, por intermédio do Egipto, uma lista de condições muito razoáveis e aceitáveis para uma trégua de dez anos. Mas o governo israelita não quer ouvir falar de trégua, nem de paz, como a comunidade internacional constatou após o fracasso das últimas negociações de paz. Como tão bem diz o escritor Eduardo Galeano, "para justificar-se, o terrorismo de Estado fabrica terroristas: semeia ódio e colhe álibis. Tudo indica que esta carnificina de Gaza, que segundo os seus autores quer acabar com os terroristas, conseguirá multiplicá-los".
Portugal, como Estado democrático que aderiu à Carta das Nações Unidas e munido de princípios constitucionais de cariz humanitário, deveria usar todos os meios ao seu alcance para parar o crime de guerra que está a ser cometido pelo exército e o governo israelitas. O governo português deveria recusar-se a que o povo português pactue pelo silêncio e a inércia com os massacres repetidamente cometidos em Gaza e de forma geral com a opressão de um povo cuja vida tem vindo a ser sequestrada pelos sucessivos governos de políticas sionistas devastadoras desde 1948.
Apelamos a que o governo português, seguindo o exemplo do Equador, suspenda de imediato as suas relações diplomáticas com o regime israelita e, tal como um conjunto de cidadãos israelitas o fizeram através de uma carta dirigida à UE, apoie as condições da trégua propostas pelo Hamas.
A carta aberta foi publicada na The Lancet, publicada no dia 22 de julho.
“Somos médicos e cientistas, que passamos a nossa vida a desenvolver meios para cuidar e proteger a saúde e as vidas. Também somos pessoas informadas; ensinamos a ética das nossas profissões, conjuntamente com o conhecimento e a prática. Todos trabalhámos em Gaza e conhecemos há anos a sua situação.
Baseando-nos na nossa ética e prática, denunciamos o que testemunhamos na agressão a Gaza por Israel. Pedimos aos nossos colegas, velhos e jovens profissionais, que denunciem esta agressão israelita. Desafiamos a perversidade de uma propaganda que justifica a criação de uma urgência para mascarar um massacre, uma suposta “agressão defensiva”. Na realidade, trata-se de um ataque implacável de duração, extensão e intensidade ilimitadas. Queremos referir os factos tais como os vemos e as suas implicações nas vidas das pessoas.
Estamos chocados pelo ataque militar a civis em Gaza sob o pretexto de castigar os terroristas. Este é o terceiro ataque militar em grande escala a Gaza desde 2008. De cada vez, o número de mortes confirmadas refere-se principalmente a pessoas inocentes de Gaza, em particular mulheres e crianças, sob o pretexto inaceitável de Israel erradicar os partidos políticos e a resistência à ocupação e ao cerco que impõe.
Esta ação também aterroriza aqueles que não são diretamente atingidos e fere a alma, a mente e a resiliência da geração jovem. A nossa condenação e aversão são agravadas ainda mais pela negação e proibição de Gaza receber ajuda externa e suprimentos para aliviar as terríveis circunstâncias.
O bloqueio a Gaza está mais apertado desde o ano passado e tem um custo mais gravoso para a sua população. Em Gaza, as pessoas sofrem de fome, sede, poluição, escassez de medicamentos, eletricidade e de todos os meios para obter um rendimento, não só por serem alvejadas e bombardeadas. Crise de energia, escassez de gasolina, escassez de água e comida, vazão de esgoto e sempre a diminuição dos recursos são catástrofes provocadas directa e indirectamente pelo cerco.
O povo da faixa de Gaza está a resistir a esta agressão, porque quer uma vida melhor e normal e, mesmo quando chora de tristeza, dor e terror, rejeita uma trégua temporária que não oferece uma oportunidade real de um futuro melhor. Uma voz no meio dos ataques em Gaza é de Um Al Ramlawi que fala por todos em Gaza: "Eles estão a matar-nos a todos, de toda a maneira — ou uma morte lenta pelo cerco, ou uma rápida pelos ataques militares. Nós não temos nada a perder — devemos lutar pelos nossos direitos, ou morrer ao tentar.”
Gaza tem sido cercada por mar e terra desde 2006. Qualquer indivíduo de Gaza, incluindo pescadores, que se aventure além de 3 milhas marítimas da costa de Gaza, arrisca-se a ser baleado pela marinha israelita. Ninguém de Gaza pode sair pelos dois únicos check-points, Erez ou Rafah, sem permissão especial dos israelitas e dos egípcios, o que é difícil de obter para muitos, se não impossível. As pessoas de Gaza não podem ir para o estrangeiro para estudar, trabalhar, visitar famílias ou fazer negócios. Feridos e doentes não podem sair facilmente para obter tratamento especializado fora de Gaza. Foram restringidas as entradas de alimentos e medicamentos em Gaza e muitos produtos essenciais para a sobrevivência foram proibidos.
Antes do presente ataque, os produtos médicos armazenados em Gaza já estavam no nível mais baixo de todos os tempos devido ao cerco. Esgotaram-se agora. Da mesma maneira, Gaza é incapaz de exportar os seus produtos. A agricultura tem sido severamente prejudicada pela imposição de uma zona-tampão, e não podem ser exportados produtos agrícolas devido ao bloqueio. 80% da população de Gaza é dependente das rações de comida da ONU.
Muitos dos edifícios e da infraestrutura de Gaza foram destruídos durante a operação Chumbo Derretido, em 2008-09, e os materiais de construção foram bloqueados, de modo que escolas, casas e instituições não podem ser correctamente reconstruídas.
As fábricas destruídas pelos bombardeamentos raramente foram reconstruídas, acrescentando o desemprego à miséria.
Apesar das condições difíceis, o povo de Gaza e os seus líderes políticos actuaram recentemente para resolver os seus conflitos "sem braços nem danos" através do processo de reconciliação entre as facções, os seus líderes renunciando a títulos e posições, para que um governo de unidade pudesse ser formado, abolindo a política factional que existe desde 2007. Esta reconciliação, embora aceite por muitos na comunidade internacional, foi rejeitada por Israel. O actual ataque israelita cortou esta oportunidade de unidade política entre Gaza e a Cisjordânia e separou uma parte da sociedade palestiniana, destruindo a vida do povo de Gaza. Sob o pretexto de eliminar o terrorismo, Israel está a tentar destruir a crescente unidade palestiniana. Entre outras mentiras, é afirmado que os civis em Gaza são reféns do Hamas, quando a verdade é que a faixa de Gaza está cercada pelos israelitas e egípcios.
Gaza tem sido bombardeada continuamente durante os últimos 14 dias, seguindo-se agora a invasão terrestre por tanques e milhares de tropas israelitas. Mais de 60.000 civis do norte de Gaza foram intimados a deixar as suas casas. Estas pessoas deslocadas internas não têm para onde ir uma vez que o centro e o sul de Gaza estão também sujeitos ao bombardeamento de artilharia pesada. Toda Gaza está a ser atacada. Os únicos abrigos em Gaza são as escolas da Agência da ONU para os refugiados (UNRWA), abrigos incertos já alvejados durante a operação Chumbo Derretido, onde muitas pessoas morreram.
De acordo com o Ministério da Saúde de Gaza e o escritório da ONU para a coordenação de assuntos humanitários (OCHA), até 21 de julho 149 dos 558 mortos em Gaza e 1.100 dos 3.504 feridos eram crianças. Os que estão enterrados sob os escombros ainda não estão contados. Enquanto escrevemos, a BBC noticia o bombardeamento de um outro hospital, que atingiu a unidade de cuidados intensivos e salas de cirurgia, com mortes de pacientes e funcionários. Há agora receios relativamente ao principal hospital Al Shifa. Além disso, a maioria das pessoas estão psicologicamente traumatizadas em Gaza. Qualquer pessoa com mais de 6 anos já viveu o seu terceiro ataque militar por parte de Israel.
O massacre em Gaza não poupa ninguém e atinge deficientes e doentes em hospitais, crianças brincando na praia ou em cima do telhado, com uma grande maioria de não-combatentes. Hospitais, clínicas, ambulâncias, mesquitas, escolas e edifícios de imprensa têm sido todos atacados, com milhares de casas particulares bombardeadas, o fogo claramente direcionando para alvejar famílias inteiras e matá-las dentro das suas casas, privando as famílias de suas casas ao mandá-las sair uns minutos antes da destruição. Uma área inteira foi destruída em 20 de julho, deixando milhares de pessoas deslocadas sem tecto, ao lado de centenas de feridos e matando pelo menos 70 — isto é muito além do propósito de encontrar túneis. Nenhum destes são objetivos militares. Estes ataques visam aterrorizar, ferir a alma e o corpo das pessoas e tornar-lhes a vida impossível no futuro, assim como também demolindo as suas casas e proibindo os meios para reconstruir.
É usado armamento conhecido por causar danos a longo prazo na saúde de toda a população; em particular armamento de não fragmentação e bombas de ponta-dura. Vemos armamento de precisão a ser usado indiscriminadamente em crianças e vemos constantemente que as chamadas armas inteligentes falham a precisão, a menos que elas sejam deliberadamente usadas para destruir vidas inocentes.
Denunciamos o mito propagado por Israel de que a agressão é feita com a preocupação de poupar as vidas de civis e o bem-estar das crianças.
O comportamento de Israel insultou a nossa humanidade, a nossa inteligência e dignidade, bem como a nossa ética profissional e os nossos esforços. Até mesmo aqueles de nós que querem ir e ajudar são incapazes de chegar a Gaza devido ao bloqueio.
Esta "agressão defensiva" de duração, extensão e intensidade ilimitadas tem de ser travada.
Além disso, se o uso de gás for confirmado, isto é inequivocamente um crime de guerra, pelo qual, antes de mais nada, sanções graves terão de ser tomadas imediatamente sobre Israel, assim como a ruptura de qualquer comércio e acordos de colaboração com a Europa.
No momento em que escrevemos, são relatados outros massacres e ameaças sobre o pessoal médico nos serviços de urgência e o impedimento da entrada de comboios de ajuda humanitária internacional. Enquanto cientistas e médicos, não podemos ficar em silêncio enquanto este crime contra a humanidade continua. Instamos os leitores a também não ficarem em silêncio. Gaza presa no cerco está a ser morta por uma das maiores e mais sofisticadas máquinas militares modernas. A terra está envenenada por detritos de armas, com consequências para as gerações futuras. Se aqueles de nós capazes de se exprimir não o fazem e não tomam uma atitude contra este crime de guerra, também somos cúmplices da destruição das vidas e das casas de 1,8 milhão de pessoas em Gaza.
Registamos com consternação que apenas 5% dos nossos colegas académicos israelitas assinaram um apelo ao seu governo para parar a operação militar contra Gaza.
Somos tentados a concluir que, à excepção desses 5%, o resto dos académicos israelitas é cúmplice do massacre e da destruição de Gaza. Vemos também a cumplicidade dos nossos países na Europa e América do Norte neste massacre e a impotência mais uma vez das instituições e organizações internacionais para parar este massacre.”
Exmo Senhor Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros de Portugal
A violência e a morte intensificaram-se nos últimos dias em Gaza, culminando num massacre, em nome de um direito de auto-defesa do Estado de Israel. Esta suposta acção de "defesa" é na verdade um ataque indiscriminado e genocida à população civil palestiniana, que já matou em poucos dias centenas de civis - homens, mulheres e muitas crianças.
Pouco antes da invasão terrestre de Gaza, o Hamas propôs, por intermédio do Egipto, uma lista de condições muito razoáveis e aceitáveis para uma trégua de dez anos. Mas o governo israelita não quer ouvir falar de trégua, nem de paz, como a comunidade internacional constatou após o fracasso das últimas negociações de paz. Como tão bem diz o escritor Eduardo Galeano, "para justificar-se, o terrorismo de Estado fabrica terroristas: semeia ódio e colhe álibis. Tudo indica que esta carnificina de Gaza, que segundo os seus autores quer acabar com os terroristas, conseguirá multiplicá-los".
Portugal, como Estado democrático que aderiu à Carta das Nações Unidas e munido de princípios constitucionais de cariz humanitário, deveria usar todos os meios ao seu alcance para parar o crime de guerra que está a ser cometido pelo exército e o governo israelitas. O governo português deveria recusar-se a que o povo português pactue pelo silêncio e a inércia com os massacres repetidamente cometidos em Gaza e de forma geral com a opressão de um povo cuja vida tem vindo a ser sequestrada pelos sucessivos governos de políticas sionistas devastadoras desde 1948.
Apelamos a que o governo português, seguindo o exemplo do Equador, suspenda de imediato as suas relações diplomáticas com o regime israelita e, tal como um conjunto de cidadãos israelitas o fizeram através de uma carta dirigida à UE, apoie as condições da trégua propostas pelo Hamas.
A violência e a morte intensificaram-se nos últimos dias em Gaza, culminando num massacre, em nome de um direito de auto-defesa do Estado de Israel. Esta suposta acção de "defesa" é na verdade um ataque indiscriminado e genocida à população civil palestiniana, que já matou em poucos dias centenas de civis - homens, mulheres e muitas crianças.
Pouco antes da invasão terrestre de Gaza, o Hamas propôs, por intermédio do Egipto, uma lista de condições muito razoáveis e aceitáveis para uma trégua de dez anos. Mas o governo israelita não quer ouvir falar de trégua, nem de paz, como a comunidade internacional constatou após o fracasso das últimas negociações de paz. Como tão bem diz o escritor Eduardo Galeano, "para justificar-se, o terrorismo de Estado fabrica terroristas: semeia ódio e colhe álibis. Tudo indica que esta carnificina de Gaza, que segundo os seus autores quer acabar com os terroristas, conseguirá multiplicá-los".
Portugal, como Estado democrático que aderiu à Carta das Nações Unidas e munido de princípios constitucionais de cariz humanitário, deveria usar todos os meios ao seu alcance para parar o crime de guerra que está a ser cometido pelo exército e o governo israelitas. O parlamento português deveria recusar-se a que o povo português pactue pelo silêncio e a inércia com os massacres repetidamente cometidos em Gaza e de forma geral com a opressão de um povo cuja vida tem vindo a ser sequestrada pelos sucessivos governos de políticas sionistas devastadoras desde 1948.
Apelamos a que os deputados portugueses, seguindo o exemplo unânime do parlamento chileno, se manifestem contra o massacre da população civil palestiniana e a ocupação da Palestina e, tal como um conjunto de cidadãos israelitas o fizeram através de uma carta dirigida à UE, apoiem as condições da trégua propostas pelo Hamas.
No meio do apoio declarado ou do silêncio cúmplice da maioria dos governos (entre os quais de Portugal), a agressão israelita a Gaza já causou a morte de 440 palestinianos, a maioria civis. O bombardeamento do bairro histórico de Shujai’yya levou à fuga de 85.000 pessoas, uma fuga naturalmente limitada pelo cerco que impede os habitantes de sair do território de Gaza.
Mas o ataque terrestre sionista também custa caro ao exército israelta, que já reconheceu a morte de 18 soldados e uma centena de feridos. Entretanto, as brigadas Ezzedine al Qassam, braço armado do Hamas, anunciaram ter capturado um soldado israelita, uma notícia desmentida por Israel, embora o Hamas tenha exibido publicamente os documentos de identidade do soldado.
Khaled Barakat, porta-voz da FPLP, faz-nos "lembrar que em 1967 Israel ocupou a Cisjordânia, a faixa de Gaza, o Sinai e os Montes Golan em seis dias. E agora, em duas semanas, o potente exército israelita não conseguiu avançar 10 metros ao combater contra a resistência no terreno. E por isso dirigiu um bombardeamento massivo e ao acaso sobre bairros civis inteiros. (...) No confronto no campo de batalha, há a verdade: há mais soldados israelitas mortos e feridos do que resistentes palestinianos". [citado por EuroPalestine].
Na sua cobardia e no seu servilismo perante o dono americano, o governo português continua silencioso perante mais este ataque genocida da população civil palestiniana. E a maioria da comunicação social portuguesa continua a servir-nos a propaganda israelita da "luta contra o terrorismo do Hamas" como informação.
O professor de Filosofia Paulo Tunhas escreve um artigo a defender os bombardeamentos e a invasão da Palestina pelo exército israelita na mais recente plataforma panfletária online da direita portuguesa. É sempre interessante confrontar-nos com as estratégias argumentativas e as falácias de um professor de Filosofia (como também já fui mestre desse ofício, sintam-se à vontade para fazer o mesmo comigo). Claro que este artigo não é um tratado de Filosofia. Mas situa o debate numa forma a-histórica e sem contexto social onde alguns pensam que a Filosofia se deve enclausurar para estar mais confortável. Apesar de não estarmos à vontade na planura deste tipo de argumentação, acamparemos por aí. O escopo deste texto é, portanto, limitado, e segue de perto o tipo de argumentos apresentados.
O artigo começa com a acusação de má-fé de quem se oponha às suas teses (será que essa tal má-fé não explicada é a modalidade central de oposição às teses israelitas?) como forma de introduzir um pseudo-pedido de desculpa pela «elaboração do óbvio» que se encena no texto. Começa portanto com um estratagema que não é brilhante (porque é demasiado óbvio na sua artimanha) mas que é significativo do objetivo: todo o bom senso se deveria render ao óbvio israelita, fora dele apenas a má-fé de uns ou a ingenuidade de outros. Aquele que foi um dos pensadores da evidência, apresenta-se agora como profeta do óbvio.
Sublinhe-se que este óbvio segue fielmente a pauta que a embaixadora de Israel em Lisboa, Tzipora Rimon, apresenta num artigo publicado no jornal Público.O óbvio que enaltece o sistema anti-míssel israelita «capaz de identificar e interceptar os mísseis passíveis de atingir centros populacionais», que cria agora uma mitologia sobre os avisos prévios dos bombardeamentos israelitas e a tese de que o Hamas procura, pelo contrário, atingir áreas residenciais israelitas e de que as vítimas dos bombardeamentos são culpa desta organização que usa civis como escudos humanos. Em algumas partes, de tão óbvios, os argumentos do filósofo e os da embaixadora confundem-se ao ponto de parecer cópia. E o que acr escenta Tunhas não aprofunda nem melhora a argumentação. O óbvio enquadra-se afinal numa máquina de propaganda por repetição.
Depois do apelo ao óbvio, Tunhas prossegue com a ilustração com a qual começa a pensar este conflito. A imagem de partida, claro, escolhe-se como início da narrativa e como arrasamento da história: usam-se os detalhes da execução dos adolescentes raptados de forma a ganhar o lado emotivo do leitor. E, seguindo-se o exemplo do assassinato de um adolescente palestiniano por colonos israelitas, tal não surge para aparentar isenção ou mostrar que há violência dos dois lados mas para tentar provar a diferença: o primeiro-ministro israelita «reagiu prontamente, apelidando o acto de “terrorismo”» enquando os palestinianos teriam regozijado sanguinariamente com a morte dos israelitas(segundo os exemplos apresentados e escolhidos a dedo, dos quais se poderia perguntar se são significativos do pensamento palestiniano sobre o tema).
Só que, poder-se-ia também afirmar, a diferença que é mais significativa no que diz respeito ao desenvolvimento do conflito é que o primeiro-ministro israelita que diz não distinguir terrorismos bombardeia e invade a Palestina sob o pretexto de um dos assassinatos mas não bombardeia nem invade os colonatos extremistas israelitas por causa do outro assassinato.
Momento seguinte: o lançamento de rockets que teria «ao mesmo tempo» subido dramaticamente (aqui o óbvio será tão óbvio que não se acompanha de provas, de números ou fontes indepedentes). Repetindo a embaixadora, Tunhas afirma «claro que o muito efectivo sistema de defesa israelita, a Cúpula de Ferro, tem impedido que o número de mortos seja elevado.» O pressuposto de que o exército israelita bombardeia humanitária acompanha-se pelo pressuposto de que o Hamas lança rockets da forma mais assassina possível. Pressuposto que se procura fazer assentar na carta do Hamas de 1987 (não há documentos ou tomadas de posição mais recentes?) e cuja citação apresentada se encontra profusamente na internet como originária de outra fonte.
Dito isto, Tunhas insurge-se contra a «fauna abundante» que defende que Israel «não deveria reagir» (reagir ao quê?), para imediatamente a seguir afirmar: «no fundo, Israel deveria deixar de existir, deveria desistir da sua própria sobrevivência.» Ou seja, esquecendo já os assassinatos que foram apresentados como motivo, Tunhas, como a embaixadora de Israel, passa magicamente da ideia do bombardeio inofensivo do Hamas ao perigo de sobrevivência de Israel. A sobrevivência de Israel é uma justificação também ela desproporcionada.
O momento óbvio seguinte é o que imputa as vítimas civis exclusivamente ao Hamas:
«Se há vítimas civis, isso deve-se, antes de tudo o mais, ao facto de as armas do Hamas e os seus centros de acção se encontrarem propositadamente localizadas no meio de populações civis, ou em mesquitas, hospitais e escolas, e de o Hamas tentar impedir que as pessoas, antecipadamente avisadas dos ataques por Israel, saiam do sítio onde estão, e onde estão também os responsáveis políticos e militares terroristas que dessas pessoas se servem como protecção.» A repetida tese do «aviso prévio» parece ser agora peça central na argumentação dos defensores do exército israelita. Curiosamente, os adeptos recém-convertidos ao «aviso prévio» de ataques não achariam tão humanitários os ataques com aviso prévio feitos pela ETA. E, para além de seletivo, o argumento é claramente falacioso como prova o artigo que responde no Público à embaixadora.
O aviso prévio é uma sms/telefonema enviada aos milhares com três minutos de antecedência. E se quisermos procurar um óbvio alternativo facilmente equacionaremos que é improvável que um exército empenhado em assassinar os dirigentes do Hamas e eliminar os misseis supostamente escondidos avise os alvos antes de os atingir o que tornaria as ações ineficazes.
Este artigo termina originalmente, com as razões que o autor encontra para a «extravagante vontade de acreditar no Hamas» (claro que só se pode partir do princípio que quem levante dúvidas sobre a atuação do Estado israelita estará do lado do Hamas, organização que se acabou de denegrir e que sobre a extravagante vontade de acreditar piamente no exército israelita nada é dito). São cinco razões:
1- «Para além de uma genérica piedade com o sofrimento humano que só pode merecer simpatia e acordo.» Sobre esta razão prévia nada se diz mas sobre ela impende a suspeita de ingenuidade.
2- «Uma certa vocação para Cavaleiro Andante que vem dos sonhos da infância e que não resiste ao apelo do quadro de um David (imaginário) a lutar, quase indefeso, contra um Golias (não menos imaginário).»
3- «Um secreto gosto romântico pela violência, sobretudo pela violência longínqua e “revolucionária”.»
4- «Uma não excessiva consideração pela democracia. Israel é um país democrático, e a democracia não excita (a não ser nos últimos delírios com a “Primavera Árabe”). Para mais, sendo localizada naquela região, Israel estraga a paisagem. Está culturalmente demasiado próxima de nós para poder geograficamente estar onde está. Ao mesmo tempo, é real. De uma certa maneira, precipita-se em Israel, porque Israel vive numa situação-limite, a questão da possibilidade e da sobrevivência da democracia.»
5- «Anti-semitismo. É certamente uma palavra que se deve usar com muito cuidado, mas também aqui, em certas bandas mentais, a coisa entra em jogo.»
Ou seja, desfilam as personagens estereotipadas na cerimónia de encerramento do artigo: dos ingénuos, aos revolucionários de má-fé aliados aos terroristas sanguinários. Já para não falar anti-semita que é lançado de forma aparentemente inocente mesmo no final do artigo, como acusação que fica a pairar sem destinatário conhecido. Destes fantasmas psicológicos de Tunhas que procuram ocupar todo o espaço de quem não louve o comportamento do Estado israelita pouco resistirá a uma análise. Espremidos os fantasmas caricaturais que só serão óbvios para quem lhes pretende dar vida, a única novidade é também um velho argumento destes debates: a imagem utópia da democracia israelita. Mas, entrando por aqui, perde-se facilmente: porque é tudo menos óbvio que um Estado religioso, que depende da ocupação e da expulsão dos habitantes de um território, que sobrevive assente na exclusão dos palestinianos e na força permanente das armas seja um Estado democrático. E parece-me óbvio que será preciso mais esforço intelectual do que a propaganda do costume para quem queira justificar o que se passa agora mesmo em Gaza.
“É um assassínio! A incursão e o bombardeamento de Gaza não são para destruir o Hamas. Não se trata de parar o lançamento de mísseis sobre Israel, não se trata de alcançar a paz.
A decisão de Israel de lançar a morte e a destruição em Gaza, o uso de armas letais do campo de batalha moderno contra uma população civil indefesa, é a fase final de uma campanha de décadas para limpar etnicamente os palestinianos.
Israel utiliza sofisticados aviões de ataque e tanques de guerra para bombardear densamente acampamentos de refugiados, escolas, edifícios de apartamentos, mesquitas e bairros baixos para atacar uma população que não tem força aérea, nem defesa aérea, sem marinha, sem armas pesadas, nenhuma unidade de artilharia, sem armamento mecanizado, sem nenhum comando no controlo, nem exército... e chama a isso guerra. Não é uma guerra, é um assassínio.
Quando os israelitas nos territórios ocupados agora afirmam que têm de se defender, estão a defender-se no sentido em que qualquer ocupante militar tem de defender-se da população que está a oprimir. Não é possível defender-se quando se está a ocupar militarmente uma terra alheia. Isso não é defesa. Chamem-lhe como quiserem, não é defesa.
Julguem vocês próprios pelas imagens que não divulga a imprensa ocidental.”
Entrevista filmada a Ronnie Barkan, activista israelita pro-palestiniano, co-fundador da associação Boycott from Within, sobre a opressão israelita, a resistência ao apartheid e a campanha de boicote a Israel. Em inglês e francês: