O método não é novo: de cada vez que o governo de Israel se sente pressionado internacionalmente, ou o povo palestiniano se une para determinar o seu caminho, procura um pretexto para lançar uma onda de violência sobre a população palestiniana. Os pretextos são, com frequência, acções atribuídas ao Hamas, neste caso, o rapto e assassinato de três colonos, acusação rejeitada por esta organização.
A violência e a morte intensificou-se nos últimos dias, em nome de um direito de "retaliação". Embora a imprensa repita, sem questionar, essa versão, sabemos que se trata, na verdade, de crimes de guerra perpetrados por uma potência ocupante.
O governo português, como tantos outros, tem-se calado perante mais este massacre contra o povo da Palestina ocupada. Cabe-nos a todos pressionar o governo para que tome posição contra os crimes de guerra de Israel e contra o terror imposto pelas forças de ocupação.
Por isso, várias organizações, entre as quais, o Comité de Solidariedade com a Palestina, apelam a uma
CONCENTRAÇÃO SEGUNDA-FEIRA 14 de Julho, às 18 HORAS
Dezoito dias após o desaparecimento de três jovens colonos perto de Hebron, os seus corpos foram encontrados na segunda-feira desta semana.
Ninguém até hoje reivindicou o presumível rapto e assassinato. Mas Israel já tem o seu culpado: "O Hamas vai pagar", disse Netanyahu quase imediatamente após a descoberta. O ministro israelita da Economia reclamou mesmo a execução de presos palestinianos que estejam acusados de crimes de sangue.
É que em Israel as investigações e os tribunais são supérfluos, quando as vítimas são israelitas, mesmo quando elas não são quaisquer israelitas: embora a imprensa goste de falar dos "jovens", "adolescentes", "estudantes" israelitas, a verdade é que a característica mais importante destas três vítimas é a de serem colonos, instalados nas terras roubadas pela força das armas aos seus habitantes. Só desde 2000 já foram mortas 1.500 crianças palestinianas pelas forças de ocupação.
O terror agora anunciado por Netanyahu não esperou, aliás, pela descoberta dos cadáveres; ele começou logo a seguir à notícia do desaparecimento dos três colonos e ao longo de quase três semanas de busca num território reduzido e completamente controlado pelas forças de ocupação. Só nos últimos dias tinham sido assassinados 12 palestinianos, metade crianças. Mais de 500 palestinianos tinham sido detidos. A partir da segunda-feira, o castigo colectivo agravou-se, com a intensificação dos bombardeamentos sobre Gaza; a destruição das casas de dois palestinianos "suspeitos"; a morte de um rapaz de 16 anos abatido a tiro em Jenin, as incursões de soldados e colonos em Hebron. A reacção do governo israelita desencadeou autênticos pogroms organizados pelos colonos e suas milícias armadas contra a população palestiniana. Ontem foi raptado, torturado e assassinado pelos colonos mais um adolescente palestiniano.
O governo israelita sempre encontrou os seus pretextos - tão facilmente aceites pela maioria dos governos no mundo - para dizer que a paz é impossível na Palestina. Qualquer acto de violência do lado palestiniano lhe serve para acusar o Hamas e justificar o terror sobre uma população inteira. O recente acordo de entendimento político entre a Autoridade Palestiniana e o Hamas é inaceitável para Israel, que procura por todos os meios a ruptura entre os dois partidos palestinianos. E é especialmente preocupante para Israel o facto de ganhar cada vez mais adesão internacional a campanha BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções) que ameaça a própria existência do seu regime de apartheid e limpeza étnica.
O comunicado do Ministério dos Negócios Estrangeiros, publicado hoje, anunciando a adesão do governo português às recomendações da União Europeia para dissuadir qualquer tipo de actividade nos colonatos ou de relações com entidades que neles actuem mostra bem a importância que está a tomar essa campanha.
O Comité de Solidariedade com a Palestina, 3 de julho de 2014
O governo português juntou-se oficialmente aos países europeus que aderiram às recomendações da União Europeia para prevenir os seus cidadãos contra qualquer relação com os colonatos israelitas na Palestina.
Perante a opinião pública, torna-se cada vez mais difícil para estes países continuarem calados perante os crimes de guerra e contra a humanidade cometidos pelo Estado de Israel.
Aqui transcrevemos o comunicado, publicado no dia 2 de julho pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros português:
A União Europeia (UE) e os seus Estados Membros consideram que os colonatos israelitas são ilegais à luz do Direito Internacional, constituem um obstáculo à paz e ameaçam impossibilitar a solução de dois estados para pôr fim ao conflito israelo-palestiniano. A UE e os seus Estados Membros não reconhecerão quaisquer alterações às fronteiras anteriores a 1967, inclusive no que diz respeito a Jerusalém, que não sejam acordadas pelas partes. A Cisjordânia, incluindo Jerusalém Oriental, Gaza e os Montes Golan são territórios ocupados por Israel desde 1967.
Face a essa situação, a UE e os seus Estados Membros chamam a atenção dos seus cidadãos e das suas empresas para os riscos que envolve o desenvolvimento de atividades económicas e financeiras nos colonatos. Transações financeiras, investimentos, aquisições, contratos, bem como outras atividades económicas (incluindo em serviços como o turismo) nos colonatos israelitas ou que beneficiem os colonatos israelitas acarretam riscos económicos e legais decorrentes do facto dos colonatos estarem, de acordo com o Direito Internacional, construídos em territórios ocupados e não serem reconhecidos como parte legítima do território israelita. Tal pode dar origem a disputas de títulos de propriedade de terras, água, minérios ou outros recursos naturais que possam ser objecto de compra ou investimento.
Possíveis violações do Direito Humanitário Internacional e de Direitos Humanos também deverão ser tidos em conta. Potenciais compradores e investidores devem estar informados que um futuro acordo de paz entre Israel e os Palestinianos, ou entre Israel e a Síria, poderá vir a ter consequências para as propriedades que adquiram ou para as atividades económicas que promovam nos colonatos. Em caso de diferendo, poderá ser muito difícil para os Estados Membros garantirem a proteção dos seus interesses.
Os cidadãos europeus e as empresas devem igualmente estar cientes das possíveis implicações em termos de reputação pelo envolvimento em atividades económicas e financeiras nos colonatos. Os cidadãos e as empresas europeias que pretendam envolver-se económica ou financeiramente nos colonatos devem previamente procurar aconselhamento jurídico apropriado.