A ajuda a Gaza é colocada sob o controlo de um criminoso de guerra israelita
(à esquerda, o general Mordechai, celebrando não se sabe que crime)
Num contributo à Electronic Intifada, o jornalista David Cronin recorda que, no início da semana, Yoav Mordechai foi apesar de tudo obrigado a renunciar a uma visita ao parlamento europeu, na sequência dos protestos do movimento de solidariedade e de vários deputados europeus. Mas isso não o impediu de se encontrar, mais discretamente, com os representantes dos 28 governos da União Europeia.
A atitude dos diplomatas é ao mesmo tempo monstruosa e lógica, nota David Cronin.
Monstruosa, porque confere uma certa dose de respeitabilidade a este criminoso. Mas lógica no sentido em que a UE é o primeiro fornecedor de ajuda à Palestina... e que Mordechai é o homem encarregado do controlo da distribuição dessa ajuda.
A UE comprometeu-se, na conferência do Cairo em Outubro de 2014, a pagar cerca de 450 milhões de euros para ajudar à reconstrução de Gaza, depois das terríveis destruições cometidas por Israel em Julho e Agosto.
Mas o dinheiro é suposto ser pago através de um "mecanismo de reconstrução" que implica as Nações Unidas, a Autoridade Palestiniana e um organismo militar israelita, o COGAT ("Coordenação das actividades governamentais israelitas nos territórios"). Enquanto patrão do COGAT, o general Mordechai tem portanto o poder de controlo sobre o dinheiro do contribuinte europeu suposto ajudar à reconstrução de Gaza. O procedimento assinado no Cairo prevê assim que o COGAT receba os dados pessoais de cada receptor potencial da ajuda, e que ele tenha o poder de recusar segundo a sua vontade.
Ele comandava um dos batalhões da sinistra brigada Golani, que participou no ataque contra Gaza em janeiro de 2009, onde fez uso abundante de fósforo branco contra as populações civis, provocando terríveis queimaduras e lesões mortais.
O COGAT, que é um instrumento-chave da dominação israelita tanto na Cisjordânia como em Gaza, não hesita, com o objectivo de fazer propaganda, a apresentar-se como um organismo humanitário que só quer o bem das populações palestinianas. Ele acaba de editar uma brochura, diz David Cronin, onde se gaba de ter dado luz verde a 235 projectos para Gaza "criando postos de trabalho e melhorando a qualidade de vida dos habitantes".
Naturalmente, não está mencionado nessa brochura, destinada a diplomatas ocidentais que só querem ser enganados, que muitos desses projectos dizem respeito a localidades precisamente atacadas pelo exército israelita, como o hospital Al-Quds em Gaza.
"Podemos admitir que para levar ajuda a uma população cercada seja preciso fazer compromissos. Mas, neste caso, os doadores internacionais não se contentam de fazer um compromisso com a ocupação israelita e prostram-se perante ela", conclui num tom amargo David Cronin.
Traduzido de CAPJPO-EuroPalestine, 7 fevereiro 2015