A ONG Human Rights Watch publicou em 13 de Abril um relatório arrasador sobre a exploração da mão-de-obra palestiniana pelos colonos judeus do Vale do Jordão, na Cisjordânia ocupada.
Criança a trabalhar numa plantação de tâmaras do "Jordan Valley"
Um crime israelita adicional: o trabalho das crianças palestinianas nos colonatos do Vale do Jordão
Mais uma razão para boicotar os produtos da colonização, são estas tristemente famosas tâmaras Medjoul da marca “Jordan Valley”, uma vez que uma parte importante da produção de frutos e legumes dos colonatos é exportada, nomeadamente para a Europa. Em violação do direito internacional e até do direito israelita, centenas de crianças, cujos pais agricultores são privados de recursos devido ao roubo das suas terras pelo ocupante israelita, vêem-se assim a suar nas estufas coloniais, por vezes a partir da idade de 10 anos, debaixo de temperaturas que ultrapassam facilmente os 40º no verão, em troca de salários de miséria (da ordem dos 2€ por hora), expostas sem protecção aos pesticidas tóxicos e sem cobertura social, inclusivamente em casos de acidente de trabalho.
Criança na plantação de tâmaras de um colonato perto de Jericó
“Praticamente todas as crianças palestinianas entrevistadas pela Human Rights Watch declararam considerar que não têm outra alternativa senão procurar trabalho nas explorações agrícolas dos colonatos, para ajudar à sobrevivência das suas famílias”, escreve a ONG no seu relatório intitulado “Maduros para a exploração: o trabalho das crianças palestinianas nos colonatos israelitas do Vale do Jordão”.
Israel atribuiu 86% das terras do Vale do Jordão aos colonatos e forneceu às empresas agrícolas dos colonos um acesso muito mais generoso à água dos lençóis freáticos do vale que aos palestinianos que vivem no vale, lembram os autores.
As crianças que a Human Rights Watch entrevistou declararam que sofriam de náuseas e tonturas. Algumas afirmaram que desmaiavam por vezes quando trabalhavam no verão, com temperaturas que ultrapassam frequentemente os 40 graus no exterior, e ainda superiores no interior das estufas nas quais muitas crianças trabalham. Outras crianças disseram que tinham vómitos ou dificuldades em respirar e irritações dos olhos e da pele depois de espalharem pesticidas ou de estarem a eles expostas, inclusive em espaços fechados. Algumas declararam ter dores de costas depois de transportarem pesadas caixas cheias de frutos e legumes ou carregarem como “mochilas” contentores de pesticida.
O direito do trabalho israelita proíbe o carregamento de fardos pesados por jovens, ou fazê-los trabalhar com temperaturas elevadas e manipular pesticidas perigosos.
Mas, quando os inquiridores da Human Rights Watch se dirigiram às autoridades israelitas para lhes pedir que fizessem respeitar a sua própria legislação, estas tiveram a lata de responder... que era preciso dirigir-se à Autoridade Palestiniana - que está evidentemente proibida de estadia nos colonatos.
Entre as 38 crianças entrevistadas pela Human Rights Watch no âmbito do relatório, 33 tinham abandonado a escola e trabalhavam a tempo inteiro nos colonatos israelitas. Entre elas, 21 tinham deixado a escola antes de terminar os dez anos de ensino básico obrigatórios segundo as leis palestiniana e israelita.
“Para quê ir à escola? Vamos acabar de qualquer modo a trabalhar para os colonatos”, declarou uma das crianças.
Professores e directores de escolas palestinianas do vale do Jordão sublinharam que as crianças que trabalham a tempo parcial nos colonatos, durante os fins-de-semana e depois da escola, estavam frequentemente esgotadas na aula.
A União Europeia fez um pequeno passo, no ano passado, ao decidir a exclusão dos produtos dos colonatos israelitas da lista dos bens israelitas aos quais concede um regime fiscal preferencial, e os Estados membros da UE emitiram directivas nas quais aconselham as suas empresas a tomar em consideração os inconvenientes jurídicos, financeiros e em termos de reputação da sua implicação no comércio com os colonatos, mas sem ir ao ponto de dar instruções às empresas para porem fim a tal comércio.
Mas enquanto chamam a atenção, com razão e periodicamente, para as multinacionais como Samsung, Gap, Total pelo seu recurso, directo ou indirecto, ao trabalho infantil, nenhuma medida concreta foi tomada pelos nossos governantes para sancionar as violações do direito por Israel.
É então nossa tarefa, continuarmos e desenvolvermos mais que nunca a campanha BDS (Boicote – Desinvestimentos – Sanções”.
Pois, como diz a HRW ao concluir o seu relatório, “os colonatos são uma fonte de violações quotidianas dos direitos humanos, inclusive contra crianças. Os outros países e as suas empresas não deveriam daí tirar lucros ou encorajá-las”.
Fonte:
http://www.hrw.org/sites/default/files/reports/isrpal0415_forUPload_1.pdf Traduzido de CAPJPO-EuroPalestine,pelo Comité de Solidariedade com a Palestina
Depois do relatório da Amnistia Internacional publicado em …, onde a organização acusava o Hamas de crimes de guerra, em particular por usar armas com pouca precisão, é agora publicado um relatório da DCI Palestine onde se vê como Israel, nunca condenado pelos seus crimes de guerra e contra a humanidade ao longo destes 70 anos, utilizou com precisão as suas armas sofisticadíssimas no grande massacre em Gaza no verão de 2014.
Israel tomou por alvo deliberadamente crianças em Gaza no verão passado, segundo um novo relatório do organismo internacional de defesa das crianças palestinianas DCI – Palestine.
Uma entre muitas crianças de Gaza cujas casas foram destruídas por Israel no verão passado.
(Mohammed Talatene / APA images)
"Entre os 2.220 palestinianos mortos durante os 51 dias da campanha de bombardeamento, pelo menos 1.492 eram civis, incluindo 547 crianças. Um total de 535 dessas crianças foram mortas por causa de ataques directos provenientes de Israel. 68% das crianças mortas por Israel em Gaza tinham menos de 12 anos segundo o relatório.
Além disso, 3.374 crianças foram feridas, incluindo 1.000 que ficaram inválidas para o resto da vida, com necessidade de cuidados médicos, inacessíveis em Gaza, por causa de um cerco israelita devastador que tem de ser levantado desde já. Mais 373.000 crianças sofrem de traumatismos profundos e precisam desesperadamente de um apoio psicológico que falta gravemente na faixa de Gaza.
Não havia nenhum lugar seguro para as crianças
Em termos políticos, Israel alvejou deliberadamente e sem distinção espaços onde é suposto as crianças estarem mais em segurança. Tais actos violam as leis internacionais e são crimes contra a humanidade, segundo o relatório.
As crianças foram esmagadas até à morte quando estavam abrigadas em suas casas, desmembradas quando dormiam nas suas camas, e cortadas em pedaços quando brincavam nos seus jardins. Pelo menos 18 crianças foram mortas em ataques israelitas que visavam escolas. Para as crianças de Gaza, não existe nenhum lugar de protecção contra a violência israelita. O que é tão perturbador como o lugar onde as crianças foram mortas, é a panóplia de armas que Israel usou contra elas.
Divisão das mortes infantis durante a ofensiva “Operação de protecção das barreiras” em função do tipo de ataque
Pelo menos 225 crianças foram mortas por ataques aéreos “quando estavam nas suas casas, ou procuravam um abrigo, a maioria estava sentada para almoçar com a família, brincar ou dormir, indica o relatório. Um inquérito realizado pela Associated Press relata informações semelhantes, mostrando que 844 palestinianos, mais de metade do total de civis mortos em Gaza no verão passado, foram mortos por ataques aéreos israelitas sobre casas de civis, “incluindo 19 bebés e 108 crianças entre 1 e 5 anos”.
Israel tenta justificar o facto de ter tomado por alvo a população de Gaza argumentando, sem provas, que os combatentes da resistência palestiniana utilizam civis como escudos humanos, não dando assim outra opção a Israel que atirar sobre crianças. DCI- Palestine criticou firmemente esta declaração, respondendo:
A retórica proclamada pelos representantes israelitas relativamente aos escudos humanos durante a ofensiva militar não constitui senão uma generalização, o que é pouco credível em relação ao cálculo preciso requerido pelos Direitos Humanos Internacionais, determinando se uma coisa é de facto um objecto militar. Mesmo se existisse uma prova de que o Hamas ou outros grupos de palestinianos armados utilizassem civis como escudos humanos, isso não retira a Israel sob nenhuma circunstância as suas obrigações com respeito aos Direitos Internacionais e isso não justifica um ataque contra os civis ou os lugares públicos.
Na realidade, é Israel que tem uma longa história bem conhecida no que diz respeito à utilização das crianças palestinianas como escudos humanos, e o ataque do verão passado não era uma excepção, como vem detalhado no relatório publicado por DCI- Palestine.
DCI-Palestine atribui os ataques deliberados e sem distinções sobre as casas de civis e escolas de Gaza à doutrina Dahiya. Assim chamada por referência ao bairro Dahiya em Beirute, que foi intencionalmente devastado por Israel durante o seu ataque ao Líbano em 2006, a doutrina Dahiya refere-se à política do exército de Estado que usa as suas forças opressivas contra as infraestruturas civis.
A acusação sem fundamento de “escudos humanos” feita por Israel contra os palestinianos é uma tentativa para dissimular uma política militar que viola sistematicamente as leis internacionais.
“Directamente visados” por drones
Mais 164 crianças foram “directamente alvejadas” e mortas ilegalmente nos ataques de drones israelitas sobre as suas casas e na rua quando tentavam fugir para se protegerem, segundo a DCI-Palestine.
DCI-Palestine estava particularmente alarmada pelo número muito elevado de crianças alvejadas durante os ataques de drones, porque os drones israelitas dão imagens em alta definição dos indivíduos visíveis e em tempo real. Além disso, os representantes israelitas vangloriam-se muitas vezes dos ataques dos drones que eles consideram superiores aos outros métodos de guerra, graça à sua precisão cirúrgica, declara a DCI-Palestine, sugerindo que Israel alvejou deliberadamente crianças durante os ataques de drones.
Um dos vários casos evidenciados pelo relatório da DCI Palestine é a morte de uma criança de 9 anos, Rabi Qasem Rabi Abu Ras, que foi desmembrada por um míssil de drone israelita, alvejando-a enquanto ela corria para a ambulância, após a aterragem de um obus perto dela e da sua mãe.
“Os seus braços e pernas foram cortados. A parte superior do seu corpo ficou separada da parte inferior, que foi em seguida rasgada em pequenos pedaços. Gritei”, contou a mãe, Aisha Abu Ras, numa entrevista à DCI Palestine. “Corri até à ambulância, falei disso aos enfermeiros, mas eles disseram-me que não podiam aproximar-se dos lugares sem uma coordenação prévia com o exército israelita”.
Aisha e Rabi dirigiam-se para um refúgio das Nações Unidas, depois de ter recuperado alguns dos seus bens, e fugiam para Um Nasr, uma cidade no norte de Gaza, perto da fronteira com Israel. […]
Durante a última década, a utilização por Israel de uma guerra robótica contra os palestinianos intensificou-se de forma dramática, com cada ataque militar a Gaza muito mais dependente dos drones que os precedentes. 37% ou 840 indivíduos foram mortos unicamente pelos ataques de drones, durante o ataque do verão passado.
Enquanto maior exportador de drones, Israel beneficia imenso da tecnologia utilizada para matar as crianças.
“Uma crise humanitária criada pelo homem”
As bombas pararam neste momento mas as crianças continuam a sofrer por causa do cerco israelita que dura há 8 anos, imposto em parceria com o Egipto. […]
Desde a redução a ruínas de uma grande parte da faixa de Gaza, Israel recusa a autorização de entrada de materiais de reconstrução desesperadamente necessários em Gaza, abandonando 108.000 indivíduos, a maioria deles crianças sem abrigo.
Em consequência, quatro crianças de tenra idade cujas casas foram destruídas por Israel no ano passado, morreram de hipotermia, devido à ausência de refúgio. […]
Em guerra contra um ghetto
A ferocidade da violência israelita contra as crianças palestinianas atingiu novos limites em 2014, mas a DCI Palestine sublinha que a brutalidade faz parte de uma campanha sistemática. […]
Gaza é o lar de 1,8 milhões de palestinianos dos quais 80% são refugiados. Até hoje as suas famílias foram expulsas de força de Israel e estão proibidas de lá voltar pelo facto de não serem judeus. Entretanto, 43% dos habitantes de Gaza têm menos de 14 anos. A guerra contínua em Gaza é essencialmente uma guerra contra um ghetto de refugiados.
Matar crianças impunemente
[…] O exército israelita recusa qualquer acusação de delito pelo seu comportamento no sul da cidade de Rafah em Gaza no dia 1 de Agosto, um dia considerado pelos palestinianos como “a sexta-feira negra”. Nesse dia, as forças israelitas puseram em prática a directiva Hannibal, um protocolo militar israelita que apela a uma força de fogo massiva para impedir a captura viva de um soldado israelita, mesmo se isso significa matar soldados e uma centena de civis durante o processo.
Para impedir a captura viva de um soldado, imaginado erradamente como tomado refém por soldados palestinianos, as forças israelitas bombardearam Rafah, matando 190 palestinianos em menos de 48 horas, incluindo 49 crianças, segundo DCI Palestine. […]
O inquérito internacional do exército israelita qualificou esta carnificina como sendo “proporcional”. O relatório da DCI Palestine termina apelando a acções internacionais para levantar o cerco a Gaza e responsabilizar Israel pelos seus crimes.
“O fracasso permanente da comunidade internacional em pedir justiça e responsabilidade, leva a um acordo implícito com a negação persistente dos direitos dos palestinianos”, diz a DCI Palestine. “Sem se por fim ao regime actual de castigo colectivo que visa assassinatos e ofensivas militares regulares, a situação das crianças de Gaza terá a garantia de uma deterioração crescente.”
Por Rania Khalek para Electronic Intifada Tradução para o francês: Latifa M. para a agência Média Palestine Tradução do francês pelo Comité de Solidariedade com a Palestina http://electronicintifada.net/blogs/rania-khalek/israel-directly-targeted-children-drone-strikes-gaza-says-rights-group