Israel: general israelita compara o ambiente em Israel ao da Alemanha dos anos 30
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Racismo e insubordinação dos soldados
Foi no passado mês de fevereiro que começou esta ofensiva da direita contra os responsáveis militares. O chefe do Estado-Maior, general Eizenkot, tinha então explicado a alunos do secundário: “Não podemos agir segundo slogans do tipo: Se alguém quer matá-lo, mate-o primeiro. Eu não quero que um soldado descarregue a sua metralhadora sobre uma rapariga de treze anos que o ameaça com uma tesoura”. Vários deputados e ministros reagiram vivamente, qualificando as palavras de Eizenkot de verdadeira “heresia”. “Um militar ameaçado, diziam alguns, deve poder atirar sem hesitar sobre o seu agressor”. As coisas agravaram-se ainda mais com o caso do soldado de Hebron que, no dia 24 de março, executou um assaltante palestiniano, estendido no chão depois de ter ferido um militar com uma faca. A decisão de deter o soldado e de o levar a um tribunal de guerra foi condenada por uma vasta maioria da opinião pública israelita.
Para o professor Yagil Levy, especialista em sociologia política, o chefe do Estado-maior e o seu adjunto decidiram reagir perante o estado de espírito que infiltra cada vez mais o exército, e “que faz com que as regras sobre a abertura de fogo não sejam respeitadas; que haja fenómenos de recusa, ou mesmo de insubordinação entre os soldados. Constata-se manifestações de racismo nas redes sociais em que participam os soldados. Por fim, há as críticas contra o exército que se expressam no seio mesmo das suas fileiras. Isso ocorre sobretudo nas unidades que operam na Cisjordânia juntamente com os colonos e onde se observa um nacionalismo particularmente forte. Tudo isso preocupa portanto o alto comando”. Na opinião de Yagil Levy, é esse estado das coisas que levou o chefe do Estado-Maior adjunto, o general Golan, a expressar-se, criticando não o exército mas a própria sociedade.
O perigo de ver o Tsahal [exército israelita] transformar-se em milícia
De facto, Or Heller, especialista dos assuntos militares da cadeia israelita 10, constata que “o fosso aumenta cada vez mais entre o público e o alto comando do exército. Até aqui, o Tsahal era a instituição mais popular no país. Hoje, o risco é o seguinte: o de que os soldados obedeçam a uma outra autoridade que não a dos chefes militares... A que provém dos websites, das redes sociais ou de homens políticos”. Moshé Yaalon, o ministro da Defesa, que apoia os seus generais a todo o custo perante o governo, considera que, nestas condições, há um perigo: o de ver o Tsahal transformar-se numa milícia...
Por agora, no plano político, a controversa está longe de se alargar. Yossi Verter, o editorialista do diário de esquerda Haaretz, escreve na segunda-feira de manhã: “Quando um general não canta ao ritmo da propaganda governamental, ele é suspeito de ser uma toupeira e constitui um alvo a abater. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahou não hesita em desfazer-se do que lhe resta da sua estatura de homem de Estado para dar o golpe de misericórdia ao chefe do Estado-maior adjunto”. Não é só isso, a mãe do general interveio no debate, tomando a defesa do filho. Ela recorda que o seu marido, pai de Yair, é um judeu alemão que escapou à Gestapo. “Então não podemos acusá-la de prejudicar a Shoah, como afirma o primeiro-ministro”. A senhora indignada justifica todos os propósitos do filho. Um ambiente longe de estar amenizado, a poucas 48 horas do Dia da Lembrança para os soldados e civis caídos nas guerras de Israel.
Traduzido do artigo de Le Point, de 9 de maio de 2016:
http://www.france-palestine.org/Israel-des-generaux-de-Tsahal-se-mettent-le-pays-a-doshttp://www.france-palestine.org/Israel-des-generaux-de-Tsahal-se-mettent-le-pays-a-dos