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SOLIDARIEDADE COM A PALESTINA

Informação sobre a ocupação israelita, a resistência palestiniana e a solidariedade internacional *** email: comitepalestina@bdsportugal.org

SOLIDARIEDADE COM A PALESTINA

Informação sobre a ocupação israelita, a resistência palestiniana e a solidariedade internacional *** email: comitepalestina@bdsportugal.org

2ª carta enviada pelo Comité de Solidariedade com a Palestina aos organizadores do Festival de Almada, em 5 junho 2017

Caro Rodrigo, 
 
Agradecemos a sua resposta e o facto de ter aberto connosco uma via de diálogo que confirma o percurso e as características do Teatro de Almada. Queremos, no entanto, clarificar os seguintes pontos: 
 
- a campanha de boicote cultural lançada através do apelo de artistas palestinianos em 2004 é de cariz institucional e rege-se por directrizes que visam uma aplicação consistente e com base em princípios universais. Portanto, não é dirigida a indivíduos por eles mesmos, mas sim a instituições culturais cúmplices da política de apartheid do Estado de Israel, tanto pelos seus laços legais ou pelo seu silêncio, ou por serem embaixadores culturais de Israel. 
 
- Como referimos, em 2005 o Ministro dos Negócios Estrangeiros de Israel lançou uma campanha de marketing - Brand Israel - que tem por objectivo enviar embaixadores culturais à volta do mundo para branquear as políticas de ocupação e colonização do Estado de Israel. É de salientar que uma das condições exigidas para o financiamento de artistas israelitas é que estes se tornem "embaixadores" representantes do Estado. Aliás, este aspeto é evidente no caso da Kamea, quer pela sua denominação de "embaixadores de Beersheva", quer pelo que ficou claro na carta que partilhou connosco, em que eles descrevem Israel como uma democracia, apesar da maior parte da população que Israel governa não ter o direito de voto ou mesmo direitos básicos.  
 
- Assim sendo, achamos cínica a resposta da Kamea e ingénuo tê-la partilhado connosco como sendo um argumento fidedigno a afirmação de que eles não estão envolvidos na política e são "independentes", quando eles se associam abertamente ao governo e aceitam o papel de embaixadores de uma cidade onde se vive diariamente crimes de guerra, sem tomarem qualquer posição de oposição a este racismo como parte deste papel (critico?) de "embaixadores". A Kamea fala na sua carta da "condição humana", mas não assume nenhuma posição contra a ocupação; ela é composta por bailarinos de várias nacionalidades, mas curiosamente nenhum palestiniano. A arte, como sabe, não existe num vácuo e está intimamente ligada à realidade. Acima de tudo, a arte usada politicamente torna-se propaganda ao serviço de um Estado opressor. 
 
- Relativamente à comparação da realidade em Israel com a da ditadura de Salazar, e a viabilidade da aplicação de um boicote cultural aos dois, queremos sublinhar que a diferença  está no facto de o boicote cultural contra Israel ter sido lançado como pedido de solidariedade pelo povo oprimido, neste caso os palestinianos, sendo a nossa resposta em Portugal uma mensagem clara a Israel que não pode haver "business as usual" com um Estado opressor e uma forma de solidariedade para com a luta do povo palestiniano pela liberdade, justiça e igualdade. Não houve no tempo da ditadura um apelo similar ou unificado vindo de Portugal para o mundo. A analogia mais correta será com o movimento anti-apartheid sul-africano que incluiu também um boicote cultural, mobilizando nos anos 80 figuras da cultura pelo mundo fora, que na altura se recusaram a atuar no apartheid sul-africano. 
 
- A visão que nos transmite de um mundo artístico ignorante à realidade e passivo face à opressão, contrasta com o enorme apoio que o boicote cultural a Israel tem vindo a receber a nível mundial, com nomes como Roger WatersKen LoachMike LeighLauryn HillMark RylanceEmma ThompsonAlice Walker, Naomi KleinElvis CostelloBrian EnoJean Luc GodardMira Nair, entre muitos outros. Um Festival de Almada que fecha os olhos ao apelo de solidariedade de um povo oprimido, escolhendo associar-se ao Estado opressor, torna-se cúmplice desta política. 
 

Lamentamos que o Festival de Almada tenha decidido seguir em frente com a sua associação à embaixada de um país conhecido pelos seus constantes crimes de guerra e, como vimos nesta troca de correspondência, com uma coordenação próxima entre as duas partes que não deixa de ser chocante para um festival conhecido como progressista. Apelamos a que reconsidere a vossa posição e continuamos abertos a uma reunião.

Almada: Não dances com o apartheid israelita, cancela o espectáculo do Kamea Dance Company

1ª Carta enviada pelo Comité de Solidariedade com a Palestina ao organizador do Festival de Almada, em 30 junho 2017

 

Exmo Senhor Rodrigo Francisco

 

O Comité de Solidariedade com a Palestina vem apelar à organização do 34º Festival de Almada para que cancele o espectáculo de dança do Kamea Dance Company, a realizar-se no dia 12 de Julho 2017, e recuse o apoio da Embaixada de Israel.

 

A actuação do Kamea Dance Company no prestigiado 34º Festival de Almada vem com o patrocínio da Embaixada de Israel. Esta companhia tem o estatuto oficial de embaixador da cidade de Beer Sheva, onde hoje Israel continua a expulsar comunidades palestinianas com o objectivo de limpeza étnica. Um exemplo disso é a demolição contínua das casas da comunidade palestiniana de Al-Araqib que, em Maio de 2017, foi demolida pela 117ª vez pelas autoridades israelitas. Israel está a ameaçar expulsar mais de 70 000 palestinianos da região do Negev através do plano Prawer, para que sejam instaladas no seu lugar comunidades exclusivamente judias. Israel não faz segredo dos seus planos, como mostra o exemplo da aldeia palestiniana de Um el Hiran, que está hoje em risco de demolição, para ser construído no seu lugar o colonato judio de Hiran.

 

Aliás, de Beer Sheva, cidade da qual a Kamea Dance Company é embaixadora, tiveram de partir milhares de refugiados que hoje se encontram sob bloqueio em Gaza, e a quem o Estado de Israel nega o seu direito de retorno às suas casas.

 

A Kamea Dance Company é portanto um órgão central da campanha de marketing chamada Brand Israel instituída pelo governo israelita, que tem como objectivo explícito apresentar Israel como um "país normal" e desviar a atenção da opinião pública em todo o mundo das contínuas violações dos direitos humanos e do direito internacional pelo governo israelita. Para isso, o governo israelita promove o uso propagandístico da cultura e das artes, e a Kamea Dance Company aceita voluntariamente o papel de embaixador oficial em troca do financiamento que recebe do Estado.

 

Eventos como o Festival de Almada são ocasiões importantes para apresentar o melhor da música, da dança e do teatro, e neles não pode haver espaço para o uso da cultura ou das artes como propaganda. Os laços directos com o governo israelita tornam impossível descrever o papel da Kamea Dance Company como "apolítico". Quando os artistas são cúmplices da opressão de um povo, devem ser boicotados.

 

A solidariedade sincera inclui não só as palavras, mas também o ouvir e responder aos apelos do povo oprimido, que neste caso pedem ao mundo um boicote cultural a Israel e às instituições culturais cúmplices com a sua política, como é o caso da Kamea Dance Company.

 

Inspiradas pela experiência da luta contra o apartheid na África do Sul, mais de 170 organizações da sociedade civil palestiniana lançaram em 2005 o movimento de Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS) contra Israel [como meio eficaz e não violento de luta para apoiar a resistência do povo palestiniano, reivindicando o direito de viver em liberdade nas suas próprias terras]. Neste contexto, a Campanha Palestiniana para o Boicote Académico e Cultural de Israel (PACBI) convida a comunidade internacional a boicotar todos os órgãos culturais que mantenham relações institucionais com o governo israelita.

 

A campanha de boicote cultural contra Israel, com base nas directrizes do PACBI, não é dirigida contra os artistas israelitas individuais, mas contra instituições israelitas e os mecanismos através dos quais os artistas se tornam instrumentos da propaganda do regime.

 

O arcebispo e Nobel da Paz sul-africano Desmond Tutu, que esteve com Mandela entre os campeões da luta contra o regime racista na África do Sul, dirigindo-se a quem se declarou neutro perante o conflito entre a minoria branca e a maioria negra nesse país, disse: "Se você é neutro em situações de injustiça, você escolheu o lado do opressor ". Hoje, Desmond Tutu, um forte defensor do BDS, reafirma os mesmos argumentos em relação à situação na Palestina.

 

Pedimos aos organizadores do Festival de Almada para não serem neutros e assumirem publicamente a responsabilidade política e intelectual que diz respeito a todos os assuntos que operam na esfera da cultura, pedimo-vos que cancelem o espectáculo e não aceitem o apoio da embaixada de Israel, seguindo o exemplo do Festival de Cinema Queer de Lisboa, que largou o apoio da embaixada de Israel desde 2011.

 

Gostaríamos de poder reunir-nos convosco, para termos a oportunidade de fornecer mais informações, esclarecer dúvidas e ouvir a vossa opinião.

 

Agradecemos desde já a vossa atenção e aguardamos uma resposta com a maior urgência.

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