O ciclismo português deverá ter um representante no Giro d'Italia, que este ano - e coincidindo com a provocação de Trump - terá início em Jerusalém. A esse respeito, enviámos no dia 18 deste mês uma carta dirigida ao presidente da Federação Portuguesa de Ciclismo e ao representante de Portugal na UCI-União Internacional de Ciclismo. Até à data não recebemos resposta destes dois organismos, pelo que tornamos pública a carta abaixo.
Exmo Sr. Delmino Albano Magalhães Pereira
Presidente da Federação Portuguesa de Ciclismo
Exmo Sr. Artur Lopes
Representante de Portugal na União Internacional de Ciclismo
Neste momento em que surgem vários apelos de organizações da sociedade civil internacional e palestiniana para que o
Giro d’Italia 2018 não tenha início em Israel, o Comité de Solidariedade com a Palestina vem dirigir-se à Federação Portuguesa
de Ciclismo e ao Representante de Portugal na UCI para que escutem este apelo.
O código ético da União Internacional de Ciclismo afirma que a UCI “reconhece a sua responsabilidade de salvaguardar
a integridade e a reputação do ciclismo em todo o mundo”. Ora, o Giro d’Italia é um evento mundial da UCI, pelo que esta tem
o dever e a autoridade para agir.
Antes de o presidente Trump reivindicar ilegalmente a soberania de Israel sobre Jerusalém, contra todo o consenso da comunidade
internacional e do direito internacional, o Giro d'Italia já estava a reforçar esta reivindicação, usando em materiais oficiais imagens
de Jerusalém Oriental como se ela fosse parte de Israel e removendo a palavra "ocidental" da descrição da etapa de Jerusalém,
após o governo de Israel ameaçar retirar o seu patrocínio.
O reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel, um acto ilegal contra os direitos dos palestinianos, é a forma mais grave
até à data de cumplicidade da administração americana por reforçar e legitimar o regime de apartheid em Jerusalém e acelerar
a limpeza étnica levada a cabo por Israel contra os palestinianos originários desta cidade.
A Federação Israelita de Ciclismo, membro da UCI, patrocina e organiza eventos de competição nos territórios palestinianos
ocupados, assim como nos Golãs ocupados, em descarada violação do direito internacional.
Da mesma maneira, a Academia Israelita de Ciclismo (ICA), uma equipa Pro Continental da UCI, participará numa corrida
em Jerusalém-oriental ocupada através do colonato ilegal de Pisgat Ze'ev uns dias antes do início do Giro d'Italia, evento no qual
ela também participará.
Tanto o acto de Trump como a decisão do Giro d’Italia encorajam o governo israelita e os colonatos ilegais a roubarem e destruírem
mais casas palestinianas, a expropriarem mais terras palestinianas e a negarem os direitos de residência a mais palestinianos de
Jerusalém. Encoraja-se igualmente Israel a impedir mais palestinianos dos territórios ocupados a entrarem na Jerusalém ocupada.
Apelamos para que a UCI honre a sua responsabilidade de defender o desporto do ciclismo e a sua separação da propaganda
política, que não se envolva em actos ilícitos, negando aos palestinianos os seus direitos reconhecidos pelas Nações Unidas.
Apelamos para que a UCI retire o “Big Start” do Giro d’Italia 2018 de Israel e imponha sanções à Federação Israelita de Ciclismo e
à Academia Israelita de Ciclismo por participarem em corridas nos territórios ocupados, incluindo a sua eventual suspensão de
membros.
Contamos com o contributo do ciclismo português para que se cumpra o código ético da União Internacional de Ciclismo e
se respeite os direitos humanos na Palestina.
Agradecemos desde já a vossa atenção e aguardamos uma resposta com a maior urgência.
O Comité de Solidariedade com a Palestina,
Uma menina desarmada de 16 anos faz tremer o “poderoso” Estado de Israel.
Chamam-lhe “agressora” porque, juntamente com a sua prima Nour, esbofeteou dois soldados no pátio da sua casa, em frente de uma câmara de vídeo. O exército invadiu-lhe a casa pela calada da noite e levou-a presa, a ela, à mãe e à prima.
No tribunal militar, juntaram várias acusações sobre os últimos cinco anos. Dizem que ela uma vez alvejou soldados com uma fisga e noutra mordeu a mão de um que queria levar preso o seu irmão mais novo. Apontam-lhe “crimes” cometidos desde os 11 anos de idade.
Mas o que fazem na aldeia de Ahed os soldados mordidos, apedrejados, esbofeteados? São soldados ocupantes, armados até aos dentes, que todos os dias demolem casas e escolas, roubam poços e expropriam terras. Na manhã do esbofeteamento, tinham ferido na cabeça um outro menino, primo de Ahed, que ficou em coma induzido.
Muitas terras na aldeia da Ahed, situada na Cisjordânia, foram colonizadas, os habitantes nunca desistiram de protestar contra esse roubo e, por isso, foram sempre reprimidos. Ahed testemunhou a morte de membros da sua família e viu muitos serem presos.
Ela é um símbolo da resistência, porque levanta o mundo contra o ministro da Educação, que reclama para ela a prisão perpétua. Ahed Tamimi é uma ativista destemida, como muitas que vieram antes dela e outras muitas que ainda virão enquanto não houver liberdade para o povo palestiniano.
Liberdade imediata para Ahed Tamimi e todas as outras crianças detidas nas prisões israelitas!
Vigília no sábado 13 de janeiro, às 15 horas,
no Largo de Camões
Acompanhe todas as acções na página de facebook “Pela libertação imediata de Ahed Tamimi”, partilhe esta informação com familiares e amigos. UTILIZE AS #FreeAhed #FreeAhedTamimi #FreePALESTINE
Existe um axioma na política israelita que defende que apenas a direita pode deitar abaixo a direita.
Não devia ser surpresa, assim sendo, que os passos, desajeitados e precipitados, tomados pelo governo de Benjamin Netanyahu – sem dúvida o mais flagrantemente à direita da história nacional - estão involuntariamente a compor um manual de como lutar contra a jóia da coroa da direita, a eterna ocupação militar de Israel nos territórios palestinianos.
Lição 1: Boicote aos colonatos
Israel passou anos a promover legislação anti-boicote e a gastar grandes esforços na asserção de que não existe diferença entre boicotar os colonatos e boicotar Israel como um todo.
A menos, claro, que seja o governo de Israel a apoiar o boicote.
Esta semana, sem qualquer lamento dos agressivos ministros pró-colonatos do gabinete, Israel aprovou um acordo de cooperação e ajuda com a União Europeia. Este pacto estabelece que empresas e organizações para além das fronteiras de Israel estabelecidas antes de 1967 - isto é, em colonatos na Cisjordânia, Jerusalém Oriental e Montes Golan - não são elegíveis para fazer parte da iniciativa ou receber financiamentos.
Em português simples, Israel concordou oficialmente com um boicote aos colonatos.
Moral: Agora temos luz verde sobre a Linha Verde. Todos os que se opõem à expansão dos colonatos como obstáculo para a paz e como a principal força motriz que desgasta a democracia israelita, devem sentir-se livres - de facto, devem tomar a iniciativa - de boicotar os produtos dos colonatos.
Lição 2: Prova de que o objetivo de Israel é o domínio permanente de toda a Cisjordânia e Jerusalém Oriental
Com uma velocidade alucinante - que num universo trumpiano pode ser totalmente intencional - o partido que governa Israel passou a primeira semana do novo ano a confirmar as alegações de alguns dos seus críticos mais estridentes.
Para aqueles que há muito alegam que a Israel de Netanyahu nunca vai permitir um Estado palestiniano, certamente nunca com capital em Jerusalém, e que o objetivo de Israel é o domínio permanente e abrangente de toda a Cisjordânia e Jerusalém Oriental sem nenhuma negociação com palestinianos sobre igualdade de direitos ou auto-determinação, a resposta veio esta semana. A resposta foi: "Estiveram sempre certos."
Na véspera de Ano Novo, numa votação espantosamente unânime, o orgão governante do partido Likud, o todo-importante Comité Central, aprovou a resolução de anexar um arquipélago dominante de área de terreno da Cisjordânia, englobando todas as áreas reclamadas pelos colonatos, legalmente ou não. Embora a resolução não seja vinculativa, ela mapeia a eventual anexação pelo governo, que teria declarado a lei de Israel vinculativa para todos os israelitas da região, enquanto os palestinianos continuariam desprovidos de direitos e sob ocupação militar.
Em português simples, ou melhor, em africânder: Apartheid.
Moral: Quando a direita fala do seu desejo de paz, pergunte-lhe se está disposta a comprometer-se ou abdicar de alguma coisa. Se disserem que mudar a embaixada dos EUA para Jerusalém é um passo para a paz, ver a Lição 6 abaixo.
Lição 3: Promoção de ícones da resistência palestiniana
Na Cisjordânia, uma adolescente palestiniana esbofeteia um soldado das IDF. A menção no The New York Times e até o advogado da rapariga reconhecem que os soldados que ela enfrentou agiram com uma contenção admirável.
Israel podia ter deixado isto passar. Mas, não. Os ultra-falcões das redes sociais e ministros do gabinete de direita, esfomeados por publicidade, tropeçaram uns nos outros para uivar "sangue!", com o Ministro da Educação a pedir até prisão perpétua para Ahed Tamimi, de 16 anos. Todos os movimentos subsequentes do governo embaraçado agiram para a confirmação da adolescente como uma Joana de Arc contemporâneaou uma David feminina na história do Golias - em suma, um poderoso ícone da resistência palestiniana a uma ocupação militar colossalmente injusta, tão à deriva quanto permanente.
Após hesitar durante dias, os militares invadiram a casa de Tamimi na aldeia de Nebi Saleh, pela calada da noite. Prenderam a rapariga, a sua mãe e a sua prima. Foram as três sujeitas a uma série de humilhações. Entre as muitas acusações apresentadas contra a rapariga, uma remonta a quase dois anos. E sim, tal como David, Ahed Tamimi foi acusada de usar uma fisga. Em Abril de 2016 alegam ter utilizado a fisga contra forças de segurança israelitas, que passaram anos a tentar reprimir os protestos da aldeia em vão, muitas vezes com consequências fatais para os habitantes da aldeia.
Lição 4: Cavar um buraco mais fundo
Enquanto Ahed Tamimi e a sua mãe continuam detidas, a direita tem sido rápida a aprofundar os danos a Israel é à ocupação, adicionando à mistura um novo toque de racismo, xenofobia, e não pouco ódio interno.
"Quando o The New York Times nos elogiou, eu soube que estávamos em apuros," disse no mês passado, o conhecido comentador e advogado de direita Nadav Haetzni. "Isto demonstra a falta de entendimento do parolo Ashkenazi do The New York Times, e dos apoiantes de Obama e Hillary, que não entendem - tal como Obama não entendia - o mundo árabe."
Ao dizer ao Channel 10 de Israel que os Tamimi todos eram uma "família que há muito devia estar presa, ou deportada daqui," Haetzni, filho do pioneiro do movimento dos colonatos Elyakim Haetzni, teve palavras amargas para os palestinianos como um todo:
"Eu também sou Askenazi, mas tento entender o que me rodeia. No cenário em que nos encontramos, se não reagirmos a coisas como esta, o outro lado, que é selvagem, incivilizado, recebe a imagem de uma vitória, e isto apenas o encoraja a cometer actos de terrorismo e a caçar-nos."
Lição 5: Confirmar a injustiça judicial
Caso de Estudo: No final de 2015, um adolescente colono mascarado ataca um rabino líder de uma organização judia de direitos humanos. O adolescente espanca o rabino Arik Ascherman, que é na altura líder dos Rabinos Pelos Direitos Humanos, atirando-lhe uma pedra e brandando uma faca contra ele. O ataque foi registado em vídeo.
No mês passado, após o ministro do Interior, Aryeh Deri, ter escrito uma carta de apoio ao réu, dizendo que conhece pessoalmente o adolescente, que acredita que ele tem um grande coração e é caracterizado por ajudar os outros, um tribunal decretou que o atacante, agora com 19 anos, não seria condenado por nenhum crime. Em vez disso, fará 150 horas de serviço comunitário.
A juíza Sharon Halevy escreveu que optou pelo serviço comunitário, em parte porque uma condenação poderia prejudicar as hipóteses do jovemde se alistar no exército israelita.
Moral: Os colonos podem fazer o que querem. Assaltar quem quiserem. Roubar e ocupar e vandalizar o que querem. Justiça? No que toca a colonos, É realmente cega.
Lição 6: Trump
A semana passada, o ministro dos Transportes de Netanyahu, Yisrael Katz, anunciou que Israel irá baptizar uma estação ferroviária em nome de Donald Trump, na Cidade Velha em Jerusalém Oriental, e espera-se que a estação seja localizada - se chegar a ser construída - na Porta do Esterco da cidade santa.
Não é possível inventar qualquer parte da frase acima.
Lição 7: Estigmatizar a Fundo Nacional Judeu (JNF) como ocupante
Na segunda-feira, Netanyahu publicou no Twitter que desejava "ao povo iraniano sucesso na sua nobre demanda pela liberdade." Acrescentou que "Bravos iranianos saem às ruas. Procuram liberdade. Procuram justiça. Procuram as liberdades fundamentais que lhes foram negadas durante décadas."
Hmm. Não há liberdade para os palestinianos? Não há problema. Nenhuma perspectiva de direitos ou privilégios? Não há problema.
Moral: Deseje ao povo palestiniano sucesso na sua nobre demanda pela liberdade. Se por mais nenhuma razão, porque são seres humanos. E porque procuram as liberdades fundamentais que lhes foram negadas durante décadas. “E a liberdade para os palestinianos pode também finalmente libertar os israelitas de... bem, deles próprios.