A cumplicidade portuguesa com a ocupação israelita
Carta do Comité de Solidariedade com a Palestina enviada a 13 de março à direcção do Museu Berardo:
Pedimos ao Museu Berardo que termine a parceria com o Israel Museum, uma instituição cúmplice da ocupação, colonização e apartheid israelita e directamente envolvida em crimes de guerra e abusos de direitos humanos.
Num momento em que a expansão acelerada de colonatos ilegais em território palestiniano é condenada no mundo inteiro pelas principais instituições internacionais e governos europeus; no momento em que se assinala os 70 anos da constituição de Israel sobre o território de onde foram expulsos cerca de 700.000 palestinianos e cometidos vários massacres; neste momento em que o movimento internacional de boicote a Israel está a ganhar terreno, face às flagrantes violações da lei internacional e dos direitos humanos dos palestinianos, deparamo-nos com a exposição temporária “No Place Like Home”, fruto de uma parceria do Museu Berardo com o Israel Museum, de Jerusalém.
Gostaríamos, em primeiro lugar, de chamar a vossa atenção para o facto de que o Israel Museum foi construído sobre a localidade palestiniana de Sheikh Badr, cuja população foi expulsa em 1948 (1). Desde então, os refugiados de Sheikh Badr, assim como outros refugiados palestinianos, são impedidos por Israel de voltar às suas terras, em violação da resolução 194 da ONU.
O Israel Museum é cúmplice desta expulsão não só por ter confiscado ilegalmente terreno privado pertencente a famílias refugiadas para se estabelecer, mas também por se ter apropriado de roupas e outros bens pessoais saqueados das casas dos refugiados após a sua fuga (2).
É por isso no mínimo tristemente irónico que esta exposição do Museu Berardo, organizada em colaboração com uma das instituições cúmplices da limpeza étnica na Palestina e dos crimes de guerra aí cometidos, se intitule "No Place Like Home". (3)
O Israel Museum é também cúmplice no crime de pilhagem, pois alberga nas suas instalações os manuscritos do Mar Morto roubados de Jerusalém Oriental em 1967, em violação da Convenção de Haia de 1954 para a protecção da propriedade cultural em conflitos armados. (4) A apropriação destes manuscritos, parte do património cultural palestiniano, por Israel faz parte da sua política de revisionismo que visa eliminar e tornar invisível a presença histórica palestiniana.
O museu tem uma filial em Jerusalém Oriental, conhecida até 1967 como o Museu Arqueológico Palestiniano, hoje rebaptizado Rockefeller Museum. (5) O Museu alberga a Autoridade Israelita de Antiguidades que trabalha com colonos extremistas em Jerusalém Oriental para expulsar os residentes palestinianos do bairro de Silwan, usando a arqueologia como arma. (6)
Sendo a Autoridade Israelita de Antiguidades uma instituição estatal, a sua sede em Jerusalém Oriental viola o direito internacional e serve de instrumento da anexação ilegal de Jerusalém, uma política que o Estado português, assim como a comunidade internacional, condena e não reconhece.
Acreditamos que a cooperação com instituições cúmplices da colonização e do apartheid israelitas só pode contribuir para o prolongamento da injustiça imposta ao povo palestiniano, normalizando-a, e portanto legitimando-a. A parceria do Museu Berardo com o Israel Museum vem denegrir o seu bom nome e prestígio e viola o código de ética para museus elaborado pelo Conselho Internacional dos museus. (7)
Sendo o Museu Berardo uma entidade em grande parte financiada pelo Estado português e os seus contribuintes, o Comité de Solidariedade com a Palestina vem solicitar-vos que ponham fim à vossa relação com o Israel Museum, devido à sua cumplicidade com violações de direito internacional, incluindo o crime de pilhagem. Pedimos também o cancelamento da exposição temporária “No Place Like Home”, que para além dos argumentos éticos e legais expostos é extremamente ofensiva para com os refugiados palestinianos cujas terras e bens o museu roubou e saqueou.
(1) http://www.badil.org/phocadownloadpap/Badil_docs/publications/Jer-1948-en.pdf Ver também: http://bit.ly/2p4b4Pb
(4) https://bdsmovement.net/news/germany-do-not-collaborate-israel%E2%80%99s-cultural-crimes-regards-looted-palestinian-dead-sea-scrolls Ver também: http://www.jpost.com/Israel-News/Israel-pulls-out-of-Dead-Sea-Scrolls-exhibit-in-Germany-515839
(6) https://972mag.com/in-silwan-the-settlers-are-winning-big-time/97214/
(7) http://icom-portugal.org/multimedia/File/Cdigo%20tica%20-%202007%20-%20verso%20final%20pt.pdf
A resposta do Museu Berardo:
Pedro Bernardes
Diretor - Geral