NOTA DE IMPRENSA
Em junho deste ano, organizações culturais palestinianas chamaram ao boicote da Eurovisão 2019, prevista para ter lugar em Israel, sublinhando que "o regime israelita de ocupação militar, colonialismo e apartheid está descaradamente a usar a Eurovisão como parte da sua estratégia oficial Brand Israel, que tenta mostrar ‘a face mais bonita de Israel’ para branquear os seus crimes de guerra contra os palestinianos e desviar deles a atenção do mundo".
A este apelo responderam mais de 200 artistas de toda a Europa, numa declaração publicada em 7 de setembro no jornal britânico The Guardian, apoiada também pelos artistas portugueses José Mário Branco, Francisco Fanhais, Tiago Rodrigues, Patrícia Portela, Chullage, António Pedro Vasconcelos e José Luís Peixoto: https://www.rtp.pt/noticias/cultura/artistas-europeus-apelam-a-boicotar-festival-da-eurovisao-em-israel_n1097601
Brian Eno, The Knife, Wolf Alice, vencedores da Eurovisão como o irlandês Charlie McGettigan (1994) e os finlandeses Kaija Kärkinen (1991) e Kyösti Laihi (1988), Nick Seymour, Alain Platel e Jesper Christensen, os realizadores Alain Guiraudie, Ken Loach, Mike Leigh, Eyal Sivan e Aki Kaurismäki, entre muitos outros artistas, declararam bem alto que "a Eurovisão 2019 deve ser boicotada caso seja organizada por Israel, enquanto continuar a sua grave e duradoura violação dos direitos humanos dos palestinianos."
A ideia de que um boicote ao governo e às instituições israelitas pode ajudar a pôr fim à colonização da Palestina partiu do exemplo sul-africano, quando, nos anos 80 e 90, uma campanha internacional de boicote à África do Sul contribuiu para o fim do apartheid naquele país. O boicote, e em particular o boicote cultural, é uma táctica não-violenta ao nosso alcance para pressionar Israel e contrabalançar a sua política de branqueamento da limpeza étnica na Palestina, descrita por Nissim Ben-Sheetrit, ex-governante israelita, da seguinte maneira: "Estamos a ver a cultura como uma ferramenta de hasbara (propaganda) de primeira linha, e eu não faço diferença entre hasbara e cultura".
É neste contexto que vários artistas portugueses de renome endereçaram esta semana à RTP, responsável pela candidatura portuguesa à Eurovisão, o abaixo-assinado que segue abaixo.
A RTP anunciou a participação de Portugal no Festival Eurovisão da Canção em Israel em Maio próximo. Ao fazê-lo, também confirma sua disposição, em nome do entretenimento, de encobrir a ocupação israelita do território palestiniano e a contínua negação dos direitos humanos do povo palestiniano.
Israel declarou-se efectivamente um Estado de apartheid ao adoptar este ano a “Lei do Estado-Nação Judeu”. Aos seus cidadãos palestinianos é agora negada constitucionalmente a igualdade de direitos. Este apartheid determina até mesmo que secções da população sob o controle de Israel poderão participar na Eurovisão.
Ao ser anfitrião da Eurovisão 2019, Israel branqueia este apartheid e utiliza a Eurovisão de forma desavergonhada como parte da sua estratégia oficial Brand Israel, que pretende mostrar a “face mais bonita de Israel” para desviar deles a atenção do mundo dos seus crimes.
Inspirados pelos artistas que em consciência rejeitaram o Sun City no apartheid sul-africano nos anos 80, organizações culturais e artistas palestinianos apelaram a que se pressione Israel de forma não violenta através do boicote até que sejam cumpridas as suas obrigações segundo a lei internacional.
Nós apoiamos este apelo, ao lado de milhares de artistas pelo mundo fora, porque não queremos tornar-nos cúmplices das violações dos direitos humanos do povo palestiniano. Queremos antes chamar a atenção do mundo para a colonização, que a cada ano se torna mais violenta.
Pedimos à RTP que aja dentro da EBU-União Europeia de Radiodifusão para que o festival seja transferido para um país onde crimes de guerra - incluindo assassinatos de jornalistas - não são cometidos e, caso contrário, se retire completamente do Festival de 2019.
Signatários:
Alexandra Lucas Coelho, escritora
António Alves, muralista
António de Sousa Dias, músico
Carlos Vidal, crítico de arte
Francisca Cortesão, música, vocalista dos Minta and the Brook Trout
Joana Villaverde, artista plástica
João Carlos Alvim, editor
João Grosso, actor, encenador; actor residente do Teatro Nacional D. Maria II, ex-director artístico do Teatro D. Maria (Globo de Ouro 2005, para melhor actor)
José Mário Branco, músico
José Vieira, cineasta
LBC, rapper, direcção da Associação Moinho da Juventude
Luís Miguel Castro, artista visual
Manuela de Freitas, actriz
Maria do Céu Guerra, actriz, encenadora, fundadora da companhia de teatro "A Barraca"
Nuno Lobito, fotógrafo
Rigo, artista plástico, muralista
Susana de Sousa Dias, cineasta
Telma Pereira, cantora
Teresa Dias Coelho, pintora, artista plástica
Teresa S. Cabral, pintora
Tiago Rodrigues, actor, encenador, dramaturgo. Diretor artístico Teatro D. Maria II (Prémio de Melhor Actor Secundário (2008). Globos de Ouro (2012). Prémio Europa de Teatro (2018))