Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

SOLIDARIEDADE COM A PALESTINA

Informação sobre a ocupação israelita, a resistência palestiniana e a solidariedade internacional *** email: comitepalestina@bdsportugal.org

SOLIDARIEDADE COM A PALESTINA

Informação sobre a ocupação israelita, a resistência palestiniana e a solidariedade internacional *** email: comitepalestina@bdsportugal.org

Invasão de Gaza - Criminosa e abjecta

Michel Warschawski*

 

Há que dizê-lo e repeti-lo: a carnficina de Gaza não é uma reacção “desproporcionada” aos morteiros que disparam os militantes da Jihad Islâmica e outros grupúsculos palestinianos contra as localidades israelitas próximas da Faixa de Gaza, e sim uma acção premeditada e preparada desde há muito, como reconhece a maior parte dos comentadores israelitas.

 

Há que dizê-lo e repeti-lo: estes disparos de morteiro não são“provocações inaceitáveis”, como querem fazer crer certos diplomatas europeus, e sim respostas, reconheçamos que bastante penosas, a um bárbaro embargo imposto por Israel, desde há um ano e meio, ao milhão e meio de habitantes da Faixa de Gaza, mulheres, crianças, idosos, com a criminosa colaboração dos EUA mas também da União Europeia.

 

Há que dizê-lo e repeti-lo: não se trata, como tentam explicar os que têm a memória curta ou selectiva, de um acto de “auto-defesa”, muito atrasado, perante uma injustificável agressão palestiniana. Ehud Barak confessa-o sem problemas: há meses que o exército israelita se preparava para atacar a “entidade terrorista” chamada Gaza. Como bem explicava Richard Falk, relator especial da ONU sobre os territórios ocupados, quando se define como “entidade terrorista” uma zona povoada por um milhão e meio de seres humanos, entra-se na lógica do genocídio.

 

Como o ataque ao Líbano de 2006, a agressão israelita inscreve-se na guerra global permanente e preventiva dos estrategas neo-conservadores no poder em Tel-Aviv e ainda por algum tempo na Casa Branca.

 

Como o seu nome indica, esta estratégia é preventiva e não precisa de pretextos imediatos e tangíveis: o Ocidente democrático estaria ameaçado por um inimigo global que se identificou em primeiro lugar como “terrorismo internacional”, depois como “terrorismo islamista” para finalmente se identificar simplesmente com o Islão. O “choque das civilizações” de Huntington não é uma descrição da realidade política internacional, e sim o quadro ideológico da estratégia ofensiva dos neo-conservadores americanos e israelitas, tal como foi elaborada em comum na segunda metade dos anos 80. Nesta estratégia de guerra, a ameaça islamista tem vindo a substituir o que tinha sido o perigo comunista durante a Guerra Fria: um inimigo global que justifica uma guerra global.

 

Se o criminoso bombardeamento de Gaza disfruta em Israel de um apoio consensual, se a esquerda institucional, e em particular o partido Meretz, juntou a sua pequena voz ao coro belicista dirigido por Ehud Barak, é precisamente porque partilhaa visão do mundo que faz do Islão uma ameaça existencial que é preciso neutralizar imperiosamente “antes que seja demasiado tarde”.

 

Ao horror do crime, é preciso acrescentar a abjecção das motivações imediatas; em breve terão lugar eleições gerais israelitas e as vítimas palestinianas são também argumentos eleitorais. Os mártires do ataque israelita contra Gaza são objecto de uma disputa mediática entre Ehud Barak, Tsipi Livni e Ehud Olmert, sobre quem é o mais enérgico na brutalidade. O criminoso de guerra que dirige o Partido Trabalhista, ou melhor, o que resta desse partido, gaba-se de ter ganho quatro pontos nas sondagens. Para além do cinismo sem limites que mercadeja 350 vítimas inocentes contra uns milhares de votos, Barak demonstra mais uma vez a sua miopia política: na luta para ver quem é mais bestial, e apesar de todos os seus esforços, nunca conseguirá superar Benjamin Netnyahu, porque o eleitorado prefere sempre o original e não a cópia.

 

Tanto mais que o chefe de guerra se encontra hoje confrontado com o mesmo problema que transformou a guerra do Líbano no fiasco israelita, um problema bem conhecido de todos os que iniciaram guerras coloniais: como terminá-la? “Não vamos parar enquanto não tivermos acabado o trabalho”, anuncia ele com toda a arrogância dos pequenos caciques. Mas quando terão “acabado o trabalho”? Quando a população de Gaza e da Cisjordânia estiver disposta a capitular perante os sonhos coloniais dos dirigentes israelitas e a limitar as suas aspirações nacionais a um “Estado palestiniano” reduzido a uma dezena de reservas isoladas umas das outras e cercadas por um muro? Se esse é o “trabalho” que Barak espera poder realizar, o povo israelita deve então preparar-se para uma guerra que não só será extremamente longa, mas interminável. E se o Estado judeu está bem armado para as Blitzkriege, sobretudo quando são levadas a cabo pela aviação, entra rapidamente em crise quando se trata de uma corrida de fundo em que são peritos os palestinianos, como todos os outros povos vítimas da opressão colonial.

 

É o que explica que, pouco depois de ter começado, e apesar das declarações triunfalistas de políticos e militares, o ambiente em Israel já esteja a mudar. No sábado passado, algumas horas depois dos bombardeamentos de Gaza, manifestávamos a nossa raiva e a nossa vergonha, pouco mais de um milhar de pessoas. Seremos muitos mais neste sábado à noite a exigir sanções internacionais contra Israel e a apresentação de Ehud Barak a um Tribunal Internacional. Estou seguro disso.

 

* Michel Warschawski é um jornalista israelita e dirigente do Centro Alternativo de Informação

 

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2024
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2023
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2022
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2021
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2020
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2019
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2018
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2017
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2016
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2015
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2014
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D
  144. 2013
  145. J
  146. F
  147. M
  148. A
  149. M
  150. J
  151. J
  152. A
  153. S
  154. O
  155. N
  156. D
  157. 2012
  158. J
  159. F
  160. M
  161. A
  162. M
  163. J
  164. J
  165. A
  166. S
  167. O
  168. N
  169. D
  170. 2011
  171. J
  172. F
  173. M
  174. A
  175. M
  176. J
  177. J
  178. A
  179. S
  180. O
  181. N
  182. D
  183. 2010
  184. J
  185. F
  186. M
  187. A
  188. M
  189. J
  190. J
  191. A
  192. S
  193. O
  194. N
  195. D
  196. 2009
  197. J
  198. F
  199. M
  200. A
  201. M
  202. J
  203. J
  204. A
  205. S
  206. O
  207. N
  208. D
  209. 2008
  210. J
  211. F
  212. M
  213. A
  214. M
  215. J
  216. J
  217. A
  218. S
  219. O
  220. N
  221. D
  222. 2007
  223. J
  224. F
  225. M
  226. A
  227. M
  228. J
  229. J
  230. A
  231. S
  232. O
  233. N
  234. D