Leia a carta original em inglês aqui. De cidadãos israelitas – Mariza, por favor, não cante para o apartheid israelita Janeiro 2022
Cara Mariza
Somos cidadãos de Israel, opositores às políticas de opressão, ocupação, apartheid e limpeza étnica do nosso governo contra o povo palestiniano autóctone [1]. Escrevemos-lhe para pedir-lhe que ouça o apelo da sociedade civil palestiniana [2], em especial a sua vertente cultural [3], e que cancele o seu concerto em Israel.
2021 foi um ponto de viragem na maneira como a comunidade internacional vê as políticas repressivas de Israel contra o povo palestiniano. Essa política tem sido reconhecida como de apartheid por grupos de direitos humanos a nível internacional, incluindo a Human Rights Watch [4] sedeada nos EUA e a organização israelita de direitos humanos B'Tselem [5]. Enquanto cidadãos israelitas, somos testemunhas directas desta realidade de apartheid e das suas consequências devastadoras.
Nos últimos anos, Israel tem cometido um massacre contínuo na faixa de Gaza, com a chacina de Maio de 2021, matando centenas de civis, muitos dos quais crianças [6]. O cerco torna-os prisioneiros da maior prisão ao ar livre do mundo, que as Nações Unidas advertiram ter-se tornado "inabitável" [7].
Na Cisjordânia, Israel tem imposto nos últimos 54 anos um regime militar brutal e beligerante e tem expandido o seu projecto de colonização, descritos num recente relatório do gabinete do Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos como "[violações dos direitos humanos] generalizadas e devastadoras, atingindo todas as facetas da vida palestiniana". O relatório menciona ainda numerosas violações, tais como "restrições à liberdade de religião, movimento e educação; os direitos à terra e à água; o acesso a meios de subsistência e o direito a um nível de vida adequado; os direitos à vida familiar; e muitos outros direitos humanos fundamentais". [8].
Mesmo dentro de Israel, os cidadãos autóctones palestinianos – 21% da população – estão sujeitos a mais de 65 leis que lhes negam a igualdade básica, os direitos civis e humanos [9]. A mais recente delas foi a "Lei do Estado-Nação", que consagra o apartheid no que em Israel é equivalente a uma constituição [10]. Isto é apenas a ponta do iceberg, uma breve descrição do que é a vida de milhões de crianças, mulheres e homens que têm vivido sob estas políticas cada vez mais degradantes nas últimas 70 décadas.
Deve perguntar-se o que é que isto tem a ver com o seu concerto. O governo israelita, incluindo a municipalidade de Telavive, usa os espectáculos de artistas internacionais para se defender das críticas às suas horríveis violações dos direitos humanos e do direito internacional. Concertos como o seu são cooptados por Israel e utilizados para desviar a atenção desses crimes.
Lembramos que, precisamente por esta razão, foi lançado décadas atrás um boicote cultural institucional contra o apartheid da África do Sul. Essa campanha ajudou a levar a liberdade a milhões de pessoas. Além disso, os artistas que se recusaram a atravessar a linha e a actuar na África do Sul foram reconhecidos pela história como os principais contribuidores na luta por um mundo justo.
Numerosos artistas internacionais que se aperceberam disso comprometeram-se a não actuar em Israel até que este país ponha fim às suas políticas ilegais [11]. Este ano, artistas palestinianos e seus aliados lançaram um apelo dirigido directamente a outros artistas como a Mariza. Eles dizem-lhe, assim como ao mundo inteiro:
"Nós, os abaixo-assinados artistas palestinianos, escritores e os nossos aliados nas artes, pedimos-lhe que se junte a nós. Por favor, não deixe passar este momento. Se as vozes palestinianas forem novamente silenciadas, pode levar gerações para que surja outra oportunidade de liberdade e justiça.
Pedimos-lhe que seja corajosa. Pedimos-lhe que avance, fale e tome uma posição pública clara contra esta injustiça contínua na Palestina. O apartheid deve ser desmantelado. Ninguém é livre enquanto não formos todos livres.” [12]
Mariza, por favor, não ignore o crescente apelo mundial para responsabilizar Israel e para trazer a igualdade total em matéria de direitos humanos a todos os habitantes deste país. Por favor, cancele o seu concerto no Israel do apartheid!
Teremos todo o prazer em responder a quaisquer perguntas ou comentários que possa ter.
Cordialmente,
Boicote! Apoiando o apelo BDS palestiniano a partir do interior
admin@boycottisrael.info
[1]http://boycottisrael.info/
[2]https://bdsmovement.net/call
[3]https://bdsmovement.net/pacbi/cultural-boycott-guidelines
[4] https://www.hrw.org/news/2021/07/19/israeli-apartheid-threshold-crossed
[5] https://www.btselem.org/publications/fulltext/202101_this_is_apartheid
[6]https://www.amnesty.org/en/latest/news/2021/05/israelopt-pattern-of-israeli-attacks-on-residential-homes-in-gaza-must-be-investigated-as-war-crimes/
[7]https://www.un.org/unispal/document/gaza-unliveable-un-special-rapporteur-for-the-situation-of-human-rights-in-the-opt-tells-third-committee-press-release-excerpts/
[8]https://www.ohchr.org/EN/NewsEvents/Pages/DisplayNews.aspx?NewsID=22617&LangID=E&fbclid=IwAR0e499upwfzFAToMs4M2mawzZF_lhhrhM1_g3SQJ7gXUMmYLPorFNkZVto
[9]http://www.adalah.org/en/content/view/7771
[10]https://www.adalah.org/en/content/view/9565
[11] https://artistsforpalestine.org.uk/a-pledge/
[12] https://www.againstapartheid.com/
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