Comunidade Islâmica de Lisboa: não prejudique a luta do povo palestiniano pela liberdade e justiça
O Comité de Solidariedade com a Palestina apela à direção da Comunidade Islâmica de Lisboa (CIL) que rompa de imediato as relações que tem vindo a desenvolver com a Embaixada de Israel em Portugal, numa altura em que Israel intensifica os seus ataques contra o povo palestiniano. Manter estas relações, violando o apelo palestiniano ao boicote, é branquear os crimes e a opressão israelita contra o povo palestiniano.
A CIL recebeu sucessivamente na Mesquita Central de Lisboa vários embaixadores israelitas. Em 2018, recebeu o embaixador Raphael Gamzou, no mesmo ano em que Israel abatia centenas de palestinianos que protestavam pacificamente contra o cerco ilegal a Gaza, e mais recentemente o atual embaixador Dor Shapira, meros meses após o massacre israelita de Maio passado que viu obliteradas familias palestinianas inteiras enquanto estas se encontravam no conforto das suas casas.
Nos últimos dias, a direção da CIL tem contemplado festejar um iftar (abertura de jejum do sagrado mês do Ramadão) com o embaixador Shapira (inicialmente planeado na sua residência oficial) ao mesmo tempo que Israel tem atacado de forma implacável crentes palestinianos, muçulmanos e cristãos, na cidade de Jerusalém ocupada durante as comemorações do Ramadão e da Páscoa.
Desde o começo do mês do Ramadão, Israel executou a sangue frio 17 palestinianos, incluindo a palestiniana Ghada Ibrahim Sabatien, de 47 anos, mãe de seis crianças, a leste de Belém, na Cisjordânia ocupada. Hoje (15/4), Israel atacou crentes aquando de uma invasão armada a Al-Aqsa, num ato de provocação em antecipação às orações de sexta-feira, atacando homens, mulheres, crianças, jornalistas, primeiros-socorros, e destruindo até artefatos históricos da mesquita.
Estes laços imorais com a CIL servem para normalizar e legitimar a opressão israelita denunciada como um regime de apartheid pelas duas das maiores organizações de direitos humanos do mundo, a Amnistia Internacional e a Human Rights Watch. O apelo palestiniano ao boicote a Israel é inspirado no boicote internacional que isolou, e ajudou a acabar com o regime apartheid na África do Sul e que tem tido um crescente apoio e eficácia, tanto em Portugal como a nível internacional.
Esta ofensiva de propaganda faz parte de uma estratégia assumida do Ministério dos Negócios Estrangeiros israelita denominada de “faithwashing”. Ou seja, cooptar as comunidades muçulmanas à volta do mundo de forma a branquear os crimes de guerra e legitimar a ocupação militar israelita, incluindo a limpeza étnica de palestinianos em Jerusalém ocupada. Isto, pondo de parte a ironia de que Israel é um dos principais promotores de islamofobia à volta do mundo.
De acordo com o Comité Nacional Palestiniano para o Boicote, iniciativas de “faithwashing” têm o pressuposto de “obscurecer as linhas entre o Judaísmo, o Sionismo e o Estado israelita. Essa lógica serve para perpetuar a afirmação antissemita de que os judeus são sinônimos do Estado de Israel e têm responsabilidade pelas suas políticas, por mais opressivas que sejam essas políticas, e que a crítica contra o Estado de Israel é, portanto, uma crítica a todos os judeus. Essa fusão, que em si é antissemita, pois reduz todos os judeus a uma soma monolítica, tem sido usada por oponentes dos direitos palestinos para silenciar a oposição legítima às violações do direito internacional de Israel e ignorar a crescente dissidência entre os judeus a tais representações.”
Apelamos assim à Comunidade Islâmica de Lisboa que cancele o iftar com o embaixador do estado apartheid israelita, e rompa todas e quaisquer relações, formais e informais, com Israel, os seus orgãos estatais, assim como organizações cúmplices com a opressão do povo palestiniano, deixando assim de prejudicar a luta justa pela liberdade e o movimento de boicote do povo palestiniano.