Director do "Público" na vanguarda do lobby sionista
O editorial de hoje do "Público", assinado por José Manuel Fernandes, pode resumir-se a duas palavras de ordem: Boicotem a conferência da ONU contra o racismo! E: bombardeiem o Irão!
Para justificar a primeira palavra de ordem, Fernandes afirma que a conferência é um "espectáculo grotesco". Cita o episódio, na verdade grotesco, de um médico palestiniano que, depois de ter sido preso, torturado e julgado na Líbia, foi libertado por via duma negociação internacional e agora, na conferência, foi impedido de falar pela presidente líbia da conferência.
Escapou no entanto ao perspicaz Fernandes que esse episódio, tão revelador, revela na verdade o inverso do que ele pretendeu demonstrar: os palestinianos continuam a ser vítimas silenciadas, não só pelo sionismo e pelas potências ocidentais, mas também pelos regimes árabes entretanto promovidos de "terroristas" a "bons alunos" da comunidade internacional.
Ora, o sr. Kahdaffi é precisamente um desses grotescos ditadores, que monta a sua tenda e o seu harém em qualquer capital europeia para onde é convidado e finalmente ainda recebe o prémio de poder designar a presidente duma conferência da ONU sobre racismo. Quem lá pôs a presidência líbia? Foram os palestinianos? Ou foi o sr. Ban-Ki Moon, homem de confiança do imperialismo?
Fernandes aplaude, naturalmente, os países que recusaram estar presentes na conferência, quase todos por carregarem com o embaraço de terem exterminado as suas populações indígenas e não suportarem enfrentar um areópago em que os crimes passados e presentes facilmente lhes seriam lançados à cara. Dos que lá foram (23 Estados-membros da União Europeia), diz-nos Fernandes muito docemente que foram "fazer figura de palhaço (Portugal incluído)", e que, do mal o menos, "lá se levantaram quando o presidente iraniano ultrapassou os limites do decoro".
E que limites de decoro foram estes? Negar o Holocausto, como Amhadinedjad realmente fez em ocasiões anteriores, para gáudio e deliciamento da propaganda imperialista? Nada disso. Amhadinedjad disse, desta vez quatro coisas citadas por Fernandes que nada tinham a ver com essas, negacionistas, "barbaridades do costume". Vejamos quais foram.
Primeira afirmação: que "Israel é o mais cruel regime racista". Verdade: desde que foi destruído o apartheid sul-africano não há outro que se lhe compare. Sairiam da sala os representantes dos 23 países se tivesse sido o ex-presidente Carter a dizê-lo? Mas não é isso que ele tem dito e escrito? Ou foi o abandono da sala uma manifestação de racismo contra o que pode ser dito por um dignitário norte-americano mas está vedado a um persa?
Segunda: que Israel existe "a pretexto do sofrimento judeu" às mãos do nazismo. Note-se que Amhadinedjad não nega aqui o dito sofrimento. O que ele diz é que tem sido usado como pretexto para criar um Estado com características particulares, que discrimina os árabes e muçulmanos como o Irão fundamentalista e obscurantista não o faz aos judeus.
Terceira: que foi por via da "agressão militar" que europeus e americanos "deixaram sem terra uma nação inteira". Também é verdade.
Quarta, enfim: que a colonização sionista criou "um governo totalmente racista na Palestina ocupada". Não é isto que temos diante dos nossos olhos?
A figura de palhaços que fizeram os 23 governos europeus, Portugal incluído, foi portanto a de terem saído da sala por lá serem ditas verdades. E não teriam faltado no discurso de um fundamentalista religioso inverdades, para se levantarem contra elas. Mas decidiram sair por causa de evidências duras como punhos, e que molestam a sua política de apoio ao terror sionista.
De tudo isto conclui Fernandes que o governo da extrema-direita actualmente no poder em Israel "tudo fará para que o Irão não tenha a bomba nuclear, mesmo que tenha de o fazer sozinho" e, sob a forma de pergunta retórica, que não é "tolerável que tenha de o fazer sozinho". Ah, que saudades do unilateralismozinho bushiano, sr. Fernandes! Saudades suas e saudades da embaixada de Israel, que lhe paga as viagenzinhas pelo Médio Oriente! Vamos a ver se a Administração Obama continua a precisar tanto destes ferrabrazes de mata-e-esfola, belicistas nucleares e genocidas de aviário como precisou a Administração Bush.