O famoso pianista israelita que sempre apelou ao fim da ocupação da Palestina e foi fundador, com Edward Said, da West Eastern Divan Orchestra, composta de jovens músicos árabes, palestinianos e israelitas, adopta a nacionalidade palestiniana.
Daniel Barenboim, pianista e chefe de orquestra israelita de fama mundial, adoptou a nacionalidade palestiniana e declarou pensar que a sua rara e nova qualidade poderia ser um exemplo para a paz entre os dois povos.
«É uma grande honra ter recebido um passaporte», disse ele no domingo passado, depois de um recital de piano em Ramallah, a cidade da Cisjordânia onde ele durante alguns anos promoveu os contactos entre jovens músicos árabes e israelitas.
«Aceitei, também porque acredito que os destinos do povo israelita e do povo palestiniano estão inextricavelmente ligados» disse Barenboim. «Sejamos nós abençoados ou malditos, temos de viver uns com os outros. E eu prefiro a primeira (proposta)».
«O facto de um cidadão israelita poder receber um passaporte palestiniano mostra que isso é realmente possível», continuou.
O antigo ministro palestiniano da Informação, Mustafa Barghouti, que ajudou a organizar o concerto de domingo, disse que o passaporte tinha recebido a aprovação do governo anterior, ao qual tinha pertencido e que foi substituído em Junho.
Barenboim, de 65 anos, nascido na Argentina, é uma personalidade controversa na sua pátria de adopção (Israel), tanto por ter promovido Richard Wagner, compositor do século XIX, cuja música e cujos escritos anti-semitas influenciaram Adolf Hitler, como pela sua oposição proclamada à política de Israel nos territórios palestinianos.
Questionado sobre as declarações de George W. Bush na semana passada aquando da sua visita à região, dizendo que uma paz poderia ser celebrada este ano, Barenboim avisou contra o perigo de criar demasiadas esperanças.
«Seria absolutamente horrível se agora, com as boas intenções, surgissem expectativas que não se poderia satisfazer», disse Barenboim. «Então, afundaríamo-nos numa crise ainda maior».
Rejeitando qualquer vontade de desempenhar um papel político, o antigo chefe da Orquestra Sinfónica de Chicago lançou uma resposta ao apelo espectacularmente vigoroso de Bush em Jerusalém na semana passada, comprometendo Israel a pôr fim, segundo as próprias palavras de Bush, «à ocupação».
«Actualmente, até as pessoas obtusas dizem que a ocupação deve parar», disse Barenboim.
Com Edward Said, o catedrático palestiniano já falecido, haviam fundado a West Eastern Divan Orchestra, composta por jovens músicos de Israel, dos territórios palestinianos e dos países árabes vizinhos.