Carta ao ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel
Senhor Ministro dos Negócios Estrangeiros
Tomámos conhecimento da convocação do Embaixador do Irão, para lhe ser manifestado o repúdio do governo português pelo "ataque realizado contra o Estado de Israel" (que, conforme afirmado por António Guterres, não foi o princípio da História) e para lhe ser exigida a libertação de um navio israelita que navegava com pavilhão português (como se não devesse ser o MNE a apresentar ao Embaixador iraniano explicações pela cumplicidade portuguesa nessa fraude).
Abstemo-nos de quaisquer considerações sobre o carácter meramente simbólico da retaliação iraniana, sem vítimas mortais, na sequência do bombardeamento da Embaixada iraniana em Damasco, que tivera um saldo de 16 mortos. Observemos apenas que o zelo da diplomacia portuguesa em condenar a retaliação iraniana, depois de ter mantido um silêncio cúmplice face à provocação israelita, bem como o seu zelo em obter a libertação do navio israelita, correm o risco de envolver Portugal, como parte beligerante, numa guerra que este país não tem motivos para desejar.
Para além destes cálculos, que não iriam além de um pragmatismo rasteiro, está o valor bem mais importante dos direitos humanos. Se o Irão, ao retaliar contra a provocação israelita, tivesse violado algum princípio do direito internacional, muito mais grave tem sido, desde há mais de meio ano, a violação genocida desse direito por parte de Israel, com um saldo de mais de 34.000 mortos, e com mais de dois milhões de pessoas na iminência de morrerem de fome e de sede.
Reclamamos portanto de V. Exa., Sr. Ministro, que, à semelhança do que fez com o Embaixador iraniano, convoque imediatamente o Embaixador israelita, juntando-se à exigência da comunidade internacional de um cessar-fogo imediato e incondicional na Faixa de Gaza, com a retirada das tropas israelitas e a reabertura do contacto desse território com o resto do mundo.
O Comité de Solidariedade com a Palestina