Quinzena da Dança patrocinada pela embaixada de Israel
Carta à Câmara Municipal de Almada
Exma sra presidente da Câmara Municipal de Almada
e vereadora da Cultura, Dra Inês de Medeiros
O Comité de Solidariedade com a Palestina toma a liberdade de se dirigir a si, a respeito da aceitação do patrocínio da Embaixada de Israel à Quinzena de Dança de Almada, financiada pela Câmara Municipal de Almada, que terá lugar nos próximos dias.
Os governos israelitas dos últimos anos têm investido intensivamente numa campanha de marketing chamada Brand Israel, que tem como objectivo explícito apresentar Israel como um "país normal" e desviar a atenção da opinião pública em todo o mundo das contínuas violações dos direitos humanos e do direito internacional pelo poder israelita. Com esse fim, a campanha promove o uso propagandístico da cultura e das artes, incluindo a dança. Um dos efeitos dessa campanha consiste em espalhar o logo das embaixadas israelitas com a menção do seu apoio – muitas vezes apenas simbólico – exactamente como o vemos no material de divulgação deste evento.
Ao retratar Israel como uma democracia amante da cultura, esta campanha de branqueamento quer mostrar, segundo as palavras de um funcionário dos Negócios Estrangeiros israelita, “o rosto mais bonito de Israel e que não sejamos vistos unicamente no contexto da guerra”. Mas para uma municipalidade democrata, como é a de Almada, não pode haver espaço para o uso da cultura ou das artes como propaganda.
Graças à tolerância diplomática internacional e à continuada normalização das relações com Israel e com os seus governos, estes têm permanecido impunes face a sistemáticas violações dos direitos humanos. A tendência daí resultante tem sido uma radicalização cada vez mais evidente: o actual governo de Israel é tido como o mais extremista e supremacista de toda a história do país e organizações como a Amnesty International e Human Rights Watch não hesitam em classificar Israel como um Estado de apartheid, nos seus últimos relatórios.
Em 2005, mais de 170 organizações da sociedade civil palestiniana, inspiradas pela experiência da luta contra o apartheid na África do Sul, lançaram em 2005 o movimento de Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS) contra Israel, como meio eficaz e não violento de luta para apoiar a resistência do povo palestiniano, que reivindica o direito de viver em liberdade nas suas próprias terras. Neste contexto, a Campanha Palestiniana para o Boicote Académico e Cultural de Israel (PACBI) exorta as pessoas de consciência em todo o mundo a isolarem Israel, um Estado que mantém um sistema ilegal e desumano de ocupação, colonização e apartheid, repetidamente acusado de cometer crimes de guerra e outras violações graves dos direitos humanos. A campanha de boicote cultural, com base nas directrizes do PACBI, não é dirigida contra os artistas israelitas individuais, mas contra o Estado israelita e todas as instituições e órgãos culturais que mantenham relações institucionais com o governo israelita.
Dezenas de municípios na Europa já aprovaram resoluções que apoiam o BDS ou que se comprometem a não estabelecer relações com empresas comprometidas com a ocupação. Só neste ano, as câmaras municipais de Barcelona, Verviers e Liège anunciaram que cortavam relações com Israel e as suas instituições “até que as autoridades israelitas ponham fim ao sistema de violações dos direitos humanos dos palestinianos”. A câmara municipal de Oslo, por seu lado, decidiu não comprar bens ou serviços provenientes de zonas ocupadas ilegalmente e excluir as empresas que contribuem para a colonização israelita de terras roubadas aos palestinianos. E, mais recentemente, a cidade de Belém, no Brasil, declarou-se “Zona Livre de Apartheid”.
Tal como aconteceu na luta anti-apartheid na África do Sul, em que a solidariedade internacional desempenhou um papel fulcral no derrube do apartheid, nós acreditamos que o crescente movimento BDS a nível global é a forma mais eficaz de pressionar Israel a reconhecer os direitos inalienáveis do povo palestiniano.
Acreditamos que o executivo da Câmara municipal de Almada será sensível ao nosso apelo para recusar no futuro juntar o seu nome à campanha propagandística de branqueamento dos crimes de Israel, desaconselhando no concelho de Almada qualquer relação comercial, cultural ou outra que coloque o município ou as instituições nele seadeadas numa posição de cúmplices com um regime de apartheid, de limpeza étnica e de genocídio cometido contra o povo palestiniano.
Agradecemos desde já a sua atenção e teremos muito prazer em poder contar com uma resposta da vossa parte.